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Economia

- Publicada em 09 de Novembro de 2016 às 20:21

Frivolidade

Delfim Netto foi ministro, embaixador e deputado federal

Delfim Netto foi ministro, embaixador e deputado federal


/VALTER CAMPANATO/abr/jc
É preocupante a frívola interpretação, de parte de uma esquerda "generosa", do resultado da eleição municipal de 2016. Teria sido produzido por uma combinação diabólica: uma virada da sociedade para a "direita mercadista" acompanhada pelo avanço dos votos ligados às "obscurantistas" igrejas evangélicas.
É preocupante a frívola interpretação, de parte de uma esquerda "generosa", do resultado da eleição municipal de 2016. Teria sido produzido por uma combinação diabólica: uma virada da sociedade para a "direita mercadista" acompanhada pelo avanço dos votos ligados às "obscurantistas" igrejas evangélicas.
A primeira hipótese que a esquerda continua sem entender o verdadeiro problema da coordenação das atividades econômicas em sociedades complexas.
Os "mercados" não existem sem um Estado forte, constitucionalmente controlado. São apenas instrumentos que mitigam a incompatibilidade entre dois valores fortemente desejados pelos homens, a liberdade e a igualdade, e a condição de que eles precisam, a eficiência produtiva da sua subsistência material, para ter mais tempo livre para gozá-las.
Tem, sim, graves defeitos, mas, até agora, não se descobriu mecanismos alternativos para substituí-los. É preciso insistir. Mesmo quando dispôs do poder absoluto, a esquerda "séria" foi incapaz de fazê-lo: matou a liberdade e criou "castas" em lugar da igualdade!
A segunda revela um preconceito absurdo apoiado em uma arrogância que se pretende "científica". Se há uma evidência na história é que os homens comuns sempre se sentiram mal, angustiados, excluídos e, exatamente como no passado, procuram conforto na religião.
A contrapartida é o respeito a dogmas que, por sua aparência de "naturais", são aceitos pela imensa maioria. Mas por que estão escolhendo as igrejas evangélicas?
Não sei. Mas sei que, há 80 anos, no bairro operário do Cambuci, em São Paulo, o templo católico da Glória era - todas as quintas-feiras e domingos - o centro da solidariedade e do conforto. Sob o estímulo de um inesquecível sacerdote (que aconselhava o bêbado e arbitrava divergências familiares), todos tentavam ajudar o desempregado eventual, o acometido de uma doença ou uma futura mãe necessitada.
Aquela igreja se intelectualizou. Virou "progressista". Afastou-se do seu povo. Teorizou a igualdade. Abandonou as suas virtudes supremas: a solidariedade e a caridade! Para elas, reserva, hoje, apenas o seu discurso.
Suspeito que é exatamente por isso que as igrejas evangélicas, que estimulam a convivência alegre em seus templos cada vez mais lotados, que praticam a solidariedade, que arbitram divergências, que garantem o apoio divino e dão esperança aos que têm iniciativa e acreditam no "mercado" ("dízimos"), continuarão a crescer e a buscar o poder, ignorando, solenemente, as opiniões dos "intelectuais"...
Economista, ex-deputado federal e ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura
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