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Teatro

- Publicada em 23 de Novembro de 2016 às 16:24

Nem criador nem criatura

Sessões lotadas e uma sessão extra, inclusive. Isso diz bem da popularidade do ator e diretor Miguel Falabella, devida, sem dúvidas, quer à sua aparição constante e elogiável, na televisão, quer às suas admiráveis iniciativas, co mo produtor, de musicais internacionais que vêm marcando a ribalta paulista e, vez por outra, conseguem viajar para outros estados.
Sessões lotadas e uma sessão extra, inclusive. Isso diz bem da popularidade do ator e diretor Miguel Falabella, devida, sem dúvidas, quer à sua aparição constante e elogiável, na televisão, quer às suas admiráveis iniciativas, co mo produtor, de musicais internacionais que vêm marcando a ribalta paulista e, vez por outra, conseguem viajar para outros estados.
Havia, portanto, uma grande expectativa em relação a God, que Falabella adaptou/traduziu, dirigiu e interpretou centralmente. Mas depois de hora e meia de espetáculo, com apenas algumas boas piadas, uma interpretação correta do ator e uma tentativa quase exasperante de mudar o tom do espetáculo, na sua ultima meia hora, como expediente para conquistar o espectador, o que temos é um resultado frustrante. Não sei como era o texto original, mas sinceramente, não guardo muitas esperanças em relação a comediógrafos norte-americanos. Seu senso de humor é bem diferente do nosso, e quando não se decidem por piadas ingênuas e primitivas, apelam para um humor quase pornográfico.
Na adaptação do texto para o Brasil, Falabella deve ter mexido bastante no texto original, porque a religiosidade patente em toda a primeira metade do texto certamente é muito mais eficiente para um espectador norte-americano do que um brasileiro. Na verdade, Falabella incorporou a este Deus idealizado muito de seu personagem da televisão, Caco Antibes: eu quase diria que o ator e diretor decidiu-se por este texto exatamente porque ele, potencialmente, permitia criar uma extensão do personagem televisivo. Trejeitos, algumas piadas, o próprio figurino - e, em especial, a maneira de vesti-lo - tudo nos devolve à televisão. Mas o teatro tem um ritmo diverso, e isso Falabella sabe muito bem, tanto que incorporou dois figurantes, dois anjos que acompanham suas reflexões, vividos por Elder Gattely e Magno Bandarj. Na verdade, eles deveriam funcionar como espécies de contraponto ao ator principal, mas mais parecem dois bibelôs, apenas enfeitando a cena, já que suas falas são absolutamente desnecessárias.
A ideia do espetáculo, em si, não é ruim: Deus está a refletir, em voz alta, dialogando com interlocutores, a respeito de sua criação, especialmente a do ser humano. Ao mesmo tempo, resolve apresentar um novo conjunto de dez mandamentos. Confesso que, para mim, é aqui que as coisas começam a se desarranjar. Não entendi a lógica desta nova série nem mesmo as diferenças mais significativas entre a original e a nova. Por outro lado, o roteiro do espetáculo, que começa mais na busca de uma paródia àquela figura original e idealizada do Criador, desanda numa crítica sem sentido a respeito do meio ambiente e das responsabilidades da humanidade quanto à destruição do planeta que se colocam com absoluta gratuidade, sem pé, nem cabeça, parece que apenas para encher lingüiça e garantir que o espetáculo atinja certa duração de hora e meia e então se encerre.
Muitos artistas têm buscado parafrasear ou valer-se de referências bíblicas para a criação de suas obras, alguns com excelentes resultados, notadamente quando pensamos nas artes plásticas, na música ou na poesia. Outros nem sempre alcançam os objetivos almejados. Não sei o que o norte-americano David Javerbaum - aparentemente um judeu - teria intencionado com seu texto. É provável que, no original, a criação fosse efetivamente interessante, como é provável que, na sua transfusão para a perspectiva brasileira, tenha perdido justamente aqueles elementos que lhe dariam maior consistência.
Seja como for, o espetáculo a que assistimos frustrou à maioria dos que compareceram ao teatro, antes de mais nada porque não alcançou cumprir nem mesmo o objetivo mínimo que seria de se esperar: divertir. Vi muita gente, bocejando, olhar o relógio á espera do final do espetáculo. Falabella, desta vez, ficou nos devendo. Ser os homens não deram certo, segundo o personagem, o criador, aqui, também não deu.
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