Os dirigentes do Federal Reserve (Fed) lançaram, na reunião de setembro, as bases para elevar as taxas de juro de curto prazo "relativamente em breve", segundo a ata da última reunião, embora tenham tido dificuldades para conciliar as divisões internas sobre o momento da próxima elevação na taxa.
"Alguns participantes acreditavam que seria adequado elevar o intervalo para a taxa de juros relativamente em breve, se o mercado de trabalho continuar a melhorar e a atividade econômica se fortalecer, enquanto outros preferiram esperar por evidências mais convincentes de que a inflação está se movendo em direção à meta de 2% do comitê", assinalou o Fed, na ata da reunião de 20 a 21 de setembro, divulgada nesta quarta-feira, após o hiato habitual de três semanas.
O Fed evitou aumentar os juros na última reunião, mesmo tendo dito que o argumento para custos de empréstimos mais altos se "fortaleceu". Em um resumo das projeções econômicas divulgadas após a reunião, a maioria dos dirigentes indicou que seria apropriado aumentar a taxa de juros uma vez antes do fim do ano. O Fed aumentou as taxas de juros pela última vez em dezembro de 2015, depois de mantê-las perto de zero por vários anos após a crise financeira de 2008.
As atas mostram que a decisão de manter as taxas foi "por um triz". O Fed tem mais duas reuniões neste ano, no início de novembro e de dezembro. Investidores esperam que o próximo ajuste da taxa virá em dezembro, depois da eleição presidencial nos EUA. "Notou-se que um argumento razoável poderia ser feito tanto por um aumento nesta reunião ou pela espera de alguma informação adicional sobre o mercado de trabalho e a inflação", disse a ata.
Dados divulgados desde a reunião mostraram um retrato relativamente otimista da economia dos EUA. O relatório de emprego de setembro, lançado no dia 7, mostrou salários subindo, enquanto mais trabalhadores estão voltando ao mercado. A confiança do consumidor também atingiu um pico de alta pós-recessão no mês passado, e um indicador da atividade manufatureira ganhou força.
Mas também há razões para preocupação. A libra caiu para mínima histórica contra uma cesta de moedas globais, com investidores preocupados com as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia. Isso pode levar a outra alta do dólar, o que complicaria os planos de aperto monetário do Fed.
Enquanto isso, as expectativas de crescimento econômico dos EUA seguem sendo rebaixadas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse, na semana passada, esperar que a produção dos EUA cresça 1,6% em 2016, ante estimativa de 2,2% de julho. Ainda assim, a ata mostra que os dirigentes do Fed não enxergam grandes ameaças para a economia dos EUA. A maioria disse que a economia tinha chance igual de um desempenho melhor do que o esperado como de um desempenho pior do que o esperado "com vários deles indicando que os riscos referentes ao Brexit haviam diminuído".
Dirigentes se dividem sobre perspectivas para a queda no desemprego nos Estados Unidos
A ata também revela uma crescente divisão entre os dirigentes do Fed que discordam sobre quanto mais a taxa de desemprego pode cair antes de a economia superaquecer. "Participantes em geral esperavam que a taxa de desemprego ficasse um pouco abaixo de suas estimativas para a taxa normal de longo prazo durante os próximos anos, mas eles deram opiniões diferentes sobre a extensão da folga que atualmente permanece no mercado de trabalho", disse a ata.
Uma parte dos dirigentes do Fed defendeu que o aumento de juros seja adiado, porque julgou o mercado de trabalho ainda a caminho da melhora. Embora a taxa de desemprego, de 5% no último mês, tenha caído para o que o Fed considera um nível sustentável no longo prazo, uma taxa de participação da força de trabalho crescente é um sinal de que o mercado ainda absorve trabalhadores. A presidente do Fed, Janet Yellen, e o presidente da unidade do Fed em Nova Iorque, William Dudley, compartilham desta opinião.
O relatório de emprego de setembro acrescenta credibilidade a esta teoria, ao mostrar a criação de 156 mil novos postos de trabalho no mês passado. A taxa de participação da força de trabalho, que determina a parcela dos adultos trabalhando ou à procura, tem aumentado nos últimos meses, um sinal de que os norte-americanos começam lentamente a se sentir confiantes o suficiente para voltar ao mercado de trabalho.
O Fed terá acesso a mais dois relatórios de emprego antes da reunião de dezembro. Até lá, Yellen e outros membros do Fed poderão ficar satisfeitos de que um aumento dos juros é justificável.
Outro lado que pressionou por um aumento de juros em setembro vê um risco maior de continuar a bombear dinheiro na economia, o que faria com que o mercado de trabalho fique mais apertado. Isso poderia pressionar a inflação para acima da meta de 2% e forçar o Fed a elevar as taxas mais rapidamente.