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Economia

- Publicada em 09 de Outubro de 2016 às 21:33

'Quero transformar frustração em empolgação', diz presidente da Ceitec

Luna, presidente da Ceitec, quer ampliar articulação com universidades e empresas de base tecnológica

Luna, presidente da Ceitec, quer ampliar articulação com universidades e empresas de base tecnológica


JONATHAN HECKLER/JC
Patricia Knebel
Ele quer fazer um gol. E logo. Há pouco mais de um mês no cargo de presidente da Ceitec, Paulo de Tarso Mendes Luna trabalha rápido para conseguir produzir boas notícias e, assim, retomar a confiança das pessoas na companhia. Criada oficialmente em 2008 como empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Ceitec ainda não decolou. Para o gestor, que tem 51 anos e é servidor público federal, o cenário conjuntural do País e os atrasos no repasse dos recursos impactaram a operação. Mas ele faz questão de ressaltar que também houve falta de sorte, já que a operação se preparou para atender a alguns mercados que não andaram rápido como o esperado. Mesmo diante desse cenário, Luna está empolgado. Nesse primeiro mês, ele se concentrou em conhecer melhor a empresa, que tem cerca de 200 funcionários. Agora, vai começar a visitar universidades, entidades e parques tecnológicos. "Gosto desse desafio, especialmente porque vou conseguir aplicar o meu conhecimento nessa área de articulação, em que tenho mais de 20 anos de experiência", diz o gestor, que nasceu em Fortaleza e estava em Santa Catarina nos últimos 20 anos, atuando em funções de gestão de ciência e tecnologia.
Ele quer fazer um gol. E logo. Há pouco mais de um mês no cargo de presidente da Ceitec, Paulo de Tarso Mendes Luna trabalha rápido para conseguir produzir boas notícias e, assim, retomar a confiança das pessoas na companhia. Criada oficialmente em 2008 como empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Ceitec ainda não decolou. Para o gestor, que tem 51 anos e é servidor público federal, o cenário conjuntural do País e os atrasos no repasse dos recursos impactaram a operação. Mas ele faz questão de ressaltar que também houve falta de sorte, já que a operação se preparou para atender a alguns mercados que não andaram rápido como o esperado. Mesmo diante desse cenário, Luna está empolgado. Nesse primeiro mês, ele se concentrou em conhecer melhor a empresa, que tem cerca de 200 funcionários. Agora, vai começar a visitar universidades, entidades e parques tecnológicos. "Gosto desse desafio, especialmente porque vou conseguir aplicar o meu conhecimento nessa área de articulação, em que tenho mais de 20 anos de experiência", diz o gestor, que nasceu em Fortaleza e estava em Santa Catarina nos últimos 20 anos, atuando em funções de gestão de ciência e tecnologia.
Jornal do Comércio - Existe uma frustração no Rio Grande do Sul com tudo que a Ceitec parecia que seria, quando o projeto foi criado, e os resultados obtidos até hoje. Como você tem percebido esse cenário?
Paulo de Tarso Mendes Luna - A expressividade da Ceitec atual é muito menor do que o seu potencial. Isso ficou claro para mim nesse primeiro mês. Claro que percebo que existe frustração, e meu trabalho é justamente conseguir transformar isso em empolgação. As coisas realmente não aconteceram como se imaginava para todo esse ecossistema da microeletrônica no País. Mas os elementos mais difíceis de se obter estão aí. Temos profissionais altamente qualificados, equipamentos e laboratórios. O que falta é uma maior integração e apoio efetivo do governo brasileiro. Se isso der certo, uma cadeia inteira vai dar certo.
JC - A que você atribui o fato de a empresa ainda não ter decolado?
Luna - Se esperava que a Ceitec tivesse uma curva de aprendizado e, a partir daí, decolasse, o que não aconteceu. Eu credito isso a vários motivos. Estamos vindo de um contexto conjuntural que não colaborou, além de muita troca de ministros (a Ceitec responde ao MCTI). Também é inegável que houve atrasos em função de dificuldades financeiras. Nos últimos dois anos, tivemos problemas de repasses que impactaram os contratos de transferência de tecnologia. O custo da Ceitec hoje fica entre R$ 50 milhões a R$ 70 milhões por ano. Nos últimos dois anos, recebemos do governo em torno de R$ 40 milhões. Além disso, a Ceitec se preparou para várias coisas que acabaram não acontecendo no prazo esperado. É o caso do Sistema de Identificação Automática de Veículos (Siniav), para o qual temos produto pronto. Se a regulamentação tivesse acontecido e os nossos chips estivessem em todos os veículos do Brasil, estaríamos faturando bem mais.
JC - Qual é o faturamento da empresa hoje?
Luna - O faturamento ainda é muito pequeno, cerca de R$ 5 milhões por ano, menos do que um décimo do que a Ceitec custa. Esse tem sido período mais caracterizado por se apropriar da tecnologia do que de aplicá-la e apresentá-la ao mercado.
JC - Como você pretende reverter isso?
Luna - O que queremos fazer a partir dessa gestão é aproveitar que vários produtos estão prontos, como o chip do passaporte, os de logística, do boi e de controle de veículos, e aplicar esse conjunto de soluções em demandas públicas. Existe uma série de projetos em que fornecer um chip nacional é estratégico, como o passaporte, para evitar que seja usado chip que possa ser rastreado por outro interesse que não o nacional. Ou para fazer o inventário de uniformes militares, em que não faz sentido colocar um chip estrangeiro. São aplicações de nicho, mas que daria um volume razoável de venda.
JC - Não é arriscado focar a proposta comercial na venda para o poder público, em função da velocidade de tramitação dos projetos nessa esfera?
Luna - Claro, existe um risco, mas não vender nada para o poder público está errado. A demanda governamental é gigantesca e não pode ser desconsiderada. Temos feito contatos com diversos órgãos da administração pública federal para reforçar o papel da Ceitec como fornecedora de tecnologia baseada em chip para o governo. Talvez esse não seja o campo principal e também foi o explorado até agora, mas acho que é o que a Ceitec pode ajudar melhor a construir. Até porque o governo federal está pagando duas vezas pela mesma coisa. Investiu para construir a Ceitec e investe para contratar uma empresa estrangeira que fornece milhões de chips para fazer inventários, como de um banco público, e dos crachás dos servidores. Nada disso tem chip nacional, entre dezenas de outros casos. Esse trabalho de convencimento do setor público para adquirir nossa solução não é trivial, e talvez esteja aí um pouco da contribuição que se espera que eu possa dar.
JC - Em 2017, os passaportes brasileiros já terão chip nacional?
Luna - Essa é a nossa expectativa. Desenvolvemos, ao longo dos últimos dois anos, o chip do passaporte, à pedido da Casa da Moeda, e está ficando pronto. Neste mês, vamos ao Rio de Janeiro conversar com os representantes da empresa e fechar o cronograma. Desde 2012, existe um termo entre a Ceitec e a Casa da Moeda em que está especificada a adoção do chip nacional. Cada uma das nossas aplicações segue padronizações internacionais. São processos caros, demorados, mas, a partir do momento que implementamos, passamos a ter domínio tecnológico que pode ser aplicado a várias áreas. A mesma lógica do chip do passaporte, por exemplo, pode ser adaptada e usada na carteira de trabalho. Temos conversado com vários ministérios, como o da Agricultura. Até então, só vendemos o chip do boi para a iniciativa privada. Com a exportação do boi em pé - Brasil deve vencer entre 700 mil a 900 mil cabeças por ano - começa a ficar importante rastreabilidade, e isso abre espaço para contribuirmos com a nossa tecnologia.
JC - A Ceitec já domina o seu processo fabril?
Luna - Estamos em fase final de domínio de todo processo fabril dessa planta, o que deve acontecer até final de 2017. A partir do momento que domino tudo o que a máquina faz, posso construir produtos de alto valor agregado, como sensores de Internet das Coisas (IoT) e chips para a saúde.
JC - A tecnologia existente hoje na fábrica é suficiente para esses projetos de alto valor agregado?
Luna - Estamos em busca de recursos para fazer adaptações. Precisaríamos de R$ 10 milhões a R$ 20 milhões para dar mais flexibilidade ao nosso parque tecnológico e, assim, fortalecermos os projetos de alto valor agregado.
JC - Uma das suas atribuições será melhorar a capacidade de articulação da Ceitec. Como isso será feito?
Luna - O momento é maduro para isso, ou seja, pegar toda competência construída até agora e fazer articulações para que as coisas desenvolvidas sejam usadas - o que parece ser algo automático, mas não é, pois exige muita conversa e negociação. Além disso, quando você constrói redes e planeja adequadamente o seu posicionamento de mercado, tem mais chance de sucesso. Por isso, quero fortalecer os laços já existentes com universidades e empresas de base tecnológica, para juntos sermos capazes de gerar produtos de alto valor agregado.
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