Luiza Fritzen

A partir de hoje, os fãs de Dan Brown podem quebrar o jejum de sete anos do último filme da saga do professor de simbologia Robert Langdon. Baseado no livro homônimo lançado em 2013, estreia hoje nas salas de cinema da Capital o suspense Inferno, que segue a mesma linha das obras do escritor ao reunir em uma só produção enigmas, ficção, história e obras de arte.

O vencedor do Oscar Tom Hanks revive, pela terceira vez, o caricato personagem e repete a parceria com o diretor Ron Howard. Desta vez, a obra A divina comédia, de Dante Alighieri, é que forma o quebra-cabeça a ser desvendado por Langdon para evitar a disseminação de um vírus capaz de matar metade da população do planeta. A cidade palco para o desenrolar da história é Florença, e, nesse aspecto, a direção do longa não poupa o público de belas imagens nos principais pontos turísticos e históricos da região, como o Palazzo Vecchio e os Jardins de Boboli.

A história começa com Langdon acordando desorientado em um hospital da Itália. Com um ferimento na cabeça, as memórias do personagem estão confusas e ele desconhece o que aconteceu nas últimas 36 horas que o levaram até ali. Enquanto tenta descobrir a verdade, o historiador precisa escapar de pessoas que o perseguem e querem matá-lo. Na busca por solucionar o mistério, suas lembranças formam uma linha do tempo confusa com imagens de um inferno na terra, que, como na obra de Alighieri, reúne pecadores, corpos mutilados, sangue e fogo.

Em rápida aparição, o cientista Bertrand Zobrist é o responsável por criar o vírus com o objetivo de barrar o crescimento populacional. Interpretado por Ben Foster, o bioquímico se baseia na catástrofe malthusiana e do iminente colapso da espécie ocasionado pelo aumento populacional e a diminuição de recursos de subsistência para criar a arma biológica. No entanto, Zobrist morre antes mesmo de ver seu plano ser executado, mas deixa pistas que levam ao local em que o vírus será liberado. 

Nesse quesito, a trama aponta reflexões interessantes acerca do futuro da humanidade, os caminhos que estão sendo tomados e como o consumo e crescimento desenfreado da população somados à falta de suprimentos geram uma bomba-relógio capaz de explodir muito em breve, fazendo um contraponto com o inferno proposto por Alighieri e o que a população da Terra está criando. A omissão do homem frente às mudanças climáticas e ao destino da humanidade condizem com o que traz a obra clássica, ao afirmar que "os lugares mais sombrios do Inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral".

A tríade vilão, mocinho e mocinha com inteligência acima da média, sempre presente nas histórias de Langdon, também se repete em Inferno. Quem cumpre seu papel nas investigações ao lado do professor é a atriz Felicity Jones (A teoria de tudo) como a médica Sienna Brooks. Leitora assídua dos livros do historiador e fã de mistérios e enigmas, a moça o ajuda a fugir do hospital e participa da missão de resolver os códigos deixados pelo cientista para descobrir onde o vírus há de ser lançado.

Talvez as repetições características de Dan Brown e o tradicional destino heroico de Robert Langdon sejam responsáveis pelo desencanto com Inferno. Como nos outros filmes da saga do professor de Harvard, o protagonista vive em meio a conspirações e sem saber em quem confiar.

A narrativa é repleta de reviravoltas e contratempos, e os enigmas são revelados ao público de forma didática, como adora o protagonista. O personagem não demonstra avanços e seu raciocínio excepcional contrasta com sua incapacidade em manter relações afetivas e criar laços com outras pessoas. Contudo, o filme cumpre sua função para quem gosta de belas paisagens, aulas de história e cultura, e é fã das aventuras de Langdon.

O filme se mostra fiel ao livro, alterando apenas o fim da história. Após O código Da Vinci e Anjos e demônios, a próxima obra a ser adaptada ao cinema deve ser O código secreto, título cuja história se passa antes do enredo de Inferno.