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operação Lava Jato

- Publicada em 15 de Setembro de 2016 às 22:29

'Provem que sou culpado e vou a pé ser preso'

Luiz Inácio Lula da Silva disse que querem 'extirpar o PT da história'

Luiz Inácio Lula da Silva disse que querem 'extirpar o PT da história'


NELSON ALMEIDA/AFP/JC
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou nesta quinta-feira sobre as denúncias contra ele apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato. Disse que estava fazendo uma declaração como "um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e estão acontecendo neste País".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou nesta quinta-feira sobre as denúncias contra ele apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato. Disse que estava fazendo uma declaração como "um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e estão acontecendo neste País".
Em mais de uma hora de discurso, Lula contou histórias, chorou, fez piadas e chegou a pedir aos petistas que vestissem vermelho pelo "orgulho que têm pelo partido". Ao lado de aliados, reafirmou sua inocência e disse que, caso seja comprovado contra ele qualquer ato de corrupção, iria a pé para ser preso, "como os fiéis vão até Aparecida do Norte para pagarem seus pecados".
Lula ironizou o "show de pirotecnia" da força-tarefa da Lava Jato e agradeceu aos advogados pela defesa "competente e espetacular". Disse que não levou sua esposa, Marisa Letícia, também denunciada, porque ela tinha ficado em casa "almoçando com os filhos".
"Neste País, penso que não há alguém com a vida pública mais fiscalizada do que a minha, desde os tempos em que era membro do sindicato, nas assembleias, nas greves, quando Murillo Macedo (ex-ministro do Trabalho) resolveu investigar as greves do nosso sindicato."
Ao falar sobre o passado na vida sindical, alegou de que era um espaço muito limitado para a sua atuação, pois queria olhar mais para a cidade, para o País, por isso decidiu criar um partido político. "Tenho orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina."
Lembrou que sofreu preconceito com a ideia de se criar o PT. "Os trabalhadores até tinham medo da gente, porque os que nos atacam hoje falavam que eu era comunista." E declarou que, atualmente, seus opositores querem "extirpar" o PT da história da política brasileira. "Nunca imaginei passar pelo que estou passando agora."
Fez um histórico sobre o período que tentou chegar à presidência e sustentou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a oposição acreditavam no fracasso do PT no governo. "O FHC (nas eleições de 2002) preferia que eu ganhasse do que o José Serra (PSDB). A tese era que o operário vai ganhar, vai ser um fracasso absoluto, vai gritar: 'volta, volta'".
Lula afirmou que tinha como "quase profissão de fé não errar" quando assumiu a presidência em 2003, e que foi vítima da mesma tentativa que tirou Dilma Rousseff (PT) do poder. Comparou o impeachment de 2016 ao momento de 2005. "Quando começamos a dar certo na presidência, em 2005, tentaram fazer o que fizeram com a Dilma agora, com o tratamento de uma parcela da mídia brasileira e uma parcela no Judiciário."
Afirmou que está à disposição para ser investigado e pediu "às pessoas boas" do Ministério Público que não permitam que "meia dúzia" estrague o histórico da instituição. "Querem me investigar, me investiguem, querem que eu preste depoimento, que convoquem. Só quero que sejam verdadeiros e honestos comigo, que respeitam a dona Marisa", disse, com a voz embargada.

Moro só analisará denúncia na semana que vem

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas causas da Operação Lava Jato, só deve analisar a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na semana que vem. Moro está em viagem aos Estados Unidos, onde fez uma palestra na University of Pennsylvania sobre direito e ética.
O magistrado é um dos principais palestrantes de um simpósio do curso de Direito da universidade, chamado "Produzindo Líderes de Caráter e Integridade". No site do evento, ele é descrito como um juiz "de fama nacional" que "emergiu como um grande líder brasileiro". "O comprometimento de Moro com a lei e o combate à corrupção fizeram dele uma prova do poder de liderar com caráter e integridade", declarou a professora Claire Finkelstein, uma das coordenadoras do evento, no material de divulgação.
Se o juiz aceitar a denúncia contra Lula, o ex-presidente passará à condição de réu em um processo criminal. O Ministério Público Federal acusa o petista de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, litoral paulista, e o aponta como o "comandante máximo" do esquema de corrupção na Petrobras.
O ex-presidente já havia sido denunciado pelo Ministério Público Federal em Brasília, sob acusação de obstrução da Justiça, ao supostamente tentar interferir na delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Lula nega irregularidades e afirma ser inocente. Ele sustenta que é perseguido politicamente pela Lava Jato, e já recorreu à ONU acusando o juiz Moro de violar direitos e emitir indícios de um juízo de valor desfavorável ao ex-presidente.

Em apoio, grupo faz manifestação na porta de hotel em São Paulo

No dia seguinte à denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um grupo de manifestantes favoráveis ao petista se reuniu em frente ao hotel onde a cúpula do PT se encontra no centro de São Paulo. Os manifestantes criticaram a acusação feita pelos procuradores nesta quarta-feira, afirmando que não há provas que incriminem Lula. O ex-presidente se defende em fala aos jornalistas após o encontro.
O grupo, que pede também a saída do presidente Michel Temer, trouxe bandeiras, faixas e cartazes. Um deles ironizou a apresentação feita pelo coordenador da força-tarefa da Lava-Jato. Eles gritam palavras de ordem como "Lula, guerreiro do povo brasileiro", "Fora, Temer" e "Volta, Dilma".
A manifestação se concentrou na calçada do Hotel Jaraguá. Do outro lado da rua, um alto-falante foi instalado e tocava o jingle de campanha de Lula, "Lula lá". O pronunciamento do ex-presidente é transmitido a quem está na rua.
Há pouco menos de um mês, os manifestantes também aproveitaram para realizar campanha para o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, que busca a reeleição. A campanha de Haddad, estagnado nas pesquisas, iniciou uma estratégia de nacionalizar o apelo. Os militantes distribuiram adesivos de campanha contra a reforma trabalhista, afirmando que o governo Temer planeja aumentar a jornada de trabalho para 12 horas ao dia.

Defesa faz representação contra procuradores

Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentaram, nesta quinta-feira, uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra os procuradores da força-tarefa da Lava Jato. O argumento é que os representantes do Ministério Público Federal (MPF) usaram recursos públicos para dar uma coletiva, realizada na quarta-feira, em um hotel de Curitiba, em que trataram de um assunto que não fazia parte da atribuição deles. No entendimento dos defensores de Lula, a investigação sobre uma suposta organização criminosa que agia na Petrobras está sob a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Cometeram, na nossa opinião, um grave desvio funcional. Realizaram uma coletiva, com recursos públicos, apenas para enxovalhar a honra e reputação do ex-presidente Lula e da dona Marisa", afirmou o advogado Cristiano Martins Zanin.
De acordo com o defensor, foram praticadas "graves irregularidades" pelos procuradores, e houve ainda "antecipação de juízo de valor" nas acusações feitas contra Lula e sua mulher durante coletiva dos procuradores, que durou mais de uma hora.
"Fizeram entrevista para tratar de tema que não estava na esfera de atribuição deles, porque a investigação sobre organização criminosa tramita na Suprema Corte a pedido do procurador da República", disse Zanin.

É o momento de Lula desabafar', diz Fernando Henrique Cardoso

Os dois principais líderes do PSDB evitaram ataques mais duros nesta quinta-feira ao ex-presidente Lula, denunciado na operação Lava Jato. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves não comentaram as acusações do Ministério Público Federal nem as respostas do petista.
FHC afirmou ver com cautela as acusações do MPF. Para ele, é necessário aguardar a decisão da Justiça. "Sou uma pessoa cautelosa. Preciso saber o que o Judiciário diz. Uma coisa são as acusações. Depois há o processo de provas para ver o que é errado", disse ele.
O ex-presidente não comentou as declarações de Lula, para quem a denúncia é uma forma de tirá-lo das eleições presidenciais de 2018. "O presidente Lula passa por um momento difícil. O que ele diz não vou contestar. Não cabe a mim ficar fazendo comentário sobre o que ele disse ou deixou de dizer. É o momento de ele estar desabafando. É sempre de lamentar que uma pessoa com a trajetória do presidente Lula tenha chegado a esse momento de tanta dificuldade", disse o ex-presidente tucano.
Aécio seguiu linha semelhante ao afirmar que deixará que "o ex-presidente tenha tempo para responder àqueles que o irão inquirir a partir de agora, que é a Justiça".
O senador, presidente do PSDB, criticou porém o tom político da resposta do petista.
"O único equívoco que vejo, e não é de agora, é sempre que ele se vê em dificuldades tentar transferir a outros responsabilidades que são suas. Com a ex-presidente Dilma foi a mesma coisa. Não há mea culpa, reconhecimento de que cometeram equívocos graves, ilegalidades. A resposta acaba caminhando para o jogo político. É natural, mas é pouco relevante nessa hora."
Fernando Henrique afirmou não ter ficado feliz com o impeachment. Para ele "o bom para a democracia é que os governos cheguem até o fim". Mas disse que desrespeito à Constituição e a paralisia do governo culminaram com a queda de Dilma.