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Religião

- Publicada em 04 de Setembro de 2016 às 17:10

Madre Teresa é declarada santa

Diante de milhares de fiéis, Papa Francisco conduziu o processo

Diante de milhares de fiéis, Papa Francisco conduziu o processo


ANDREAS SOLARO/FILIPPO MONTEFORTE/AFP/JC
Celebrada por sua obra de caridade com órfãos e leprosos em favelas da Índia, a freira Madre Teresa de Calcutá foi canonizada na manhã de ontem, tornando-se, assim, a mais nova santa da Igreja Católica. A cerimônia, celebrada pelo Papa Francisco, foi acompanhada por 120 mil pessoas diante da Basílica de São Pedro, segundo estimativas do Vaticano.
Celebrada por sua obra de caridade com órfãos e leprosos em favelas da Índia, a freira Madre Teresa de Calcutá foi canonizada na manhã de ontem, tornando-se, assim, a mais nova santa da Igreja Católica. A cerimônia, celebrada pelo Papa Francisco, foi acompanhada por 120 mil pessoas diante da Basílica de São Pedro, segundo estimativas do Vaticano.
A Igreja define como santo aquele que foi sagrado o suficiente durante a vida para que possa viver no céu após a morte e consiga concretizar milagres. À madre, foram atribuídos dois: a cura de uma mulher indiana com tumor estomacal, em 2003, e de um brasileiro em estado terminal e em coma devido a um câncer no cérebro, reconhecido no ano passado.
O brasileiro participou da cerimônia ao lado da mulher e recebeu bênção do Papa. Debaixo de um enorme retrato da freira em sua típica vestimenta branca e azul, Francisco afirmou que ela era um símbolo da misericórdia divina e responsabilizou as potências mundiais pelos "crimes de pobreza que criaram". "Para a Madre Teresa, misericórdia era o sal que dava sabor ao seu trabalho, era a luz que iluminava a escuridão de muitos que não mais tinham lágrimas para derramar diante de sua pobreza e sofrimento", disse o pontífice.
A cerimônia, transmitida ao vivo pela Santa Sé, oficializou o longo reconhecimento pelo trabalho de Madre Tereza. Já em 1975, a revista Time havia celebrado a religiosa como uma das "santas vivas" do mundo. Conhecida pela humildade, ela recebeu o Nobel da Paz em 1979, sobre o qual comentou: "Eu não mereço". A fala contrasta com a de Francisco, que afirmou, sobre a canonização: "Ela merece".
Foram distribuídos 100 mil ingressos para a cerimônia. Cerca de 1.500 moradores de rua foram levados à basílica, recebendo assentos de honra. Apesar da multidão presente, o público não chegou à metade dos 300 mil que acompanharam a beatificação, passo anterior à canonização, de Madre Teresa, em 2003. Um dos motivos para isso seria o temor diante da onda de ataques terroristas na Europa, que levou a um esquema de segurança reforçado com 3 mil agentes ao redor do Vaticano e uma zona de exclusão aérea.
 

Um processo de canonização marcado por controvérsias

Madre Teresa nasceu em 1910 em Skopje, outrora parte do Império Otomano e hoje capital da Macedônia. De pais albaneses, ela chamava-se Agnes Gonxhe Bojaxhiu. Tornou-se freira aos 16 anos e recebeu, mais tarde, o nome de Teresa. Em 1929, mudou-se para Calcutá e, 15 anos depois, tornou-se diretora de um convento.
Em 1946, fundou a congregação Missionárias da Caridade, onde passou a ser chamada de "madre". Em 1951, recebeu cidadania indiana. As missionárias abriram casas em países como Venezuela, Itália, EUA e a ex-URSS.
A freira morreu em 1997, de ataque cardíaco, em Calcutá. A praxe pede que se esperem cinco anos após a morte antes de começar o processo de beatificação. O então Papa - hoje também santo - João Paulo II apressou os procedimentos e só esperou dois. A velocidade do processo é um dos motivos de críticas à canonização.
O primeiro milagre foi reconhecido em 2002. A indiana Monica Bersa teria se curado de um tumor no estômago após rezar a Madre Teresa em 1998, um ano depois da morte da freira. Ela foi beatificada em 2003 por essa intervenção. O segundo, que abriu caminho para a canonização, seria a cura do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, com severa infecção cerebral, em 2008. Sua família rezara a Madre Teresa. Esse milagre foi reconhecido por Francisco.
Do ponto de vista religioso, os milagres são contestados. A cura de Monica Bersa, por exemplo, é atribuída por céticos a tratamento médico. Para além do divino, a freira também desagrada por algumas posições que defendeu em vida: ela fez campanha contra o controle de natalidade e o aborto, ao qual referia-se como "um dos grandes destruidores da paz".

Cura de brasileiro é um dos milagres atribuídos à freira

Em dezembro de 2008, o engenheiro paulista Marcilio Haddad Andrino, então com 35 anos, ficou doente e teve que voltar da lua de mel em Gramado às pressas para ser internado com urgência em Santos. Os médicos diagnosticaram hidrocefalia e oito abcessos no cérebro.
"Era muito grave, só piorava. Parecia ter um diagnóstico vascular, depois descobriu-se que ele tinha um diagnóstico infeccioso. Estava com um quadro neurológico muito grave", disse o neurocirurgião José Augusto Nasser, relator do processo que resultou no reconhecimento do milagre de Madre Teresa, no ano passado.
Andrino ia passar por uma cirurgia, mas acordou se sentindo bem. Segundo a Igreja Católica, sua mulher fazia orações intensas para Madre Teresa.
O neurocirurgião afirma que o processo está bem documentado. "Todos os exames foram feitos em locais de excelência, para que não houvesse margem de dúvida", garantiu. O relatório foi enviado ao Vaticano e analisado por um comitê que conta também com médicos não religiosos.
O neurologista italiano Carlo Jovine, que participou do comitê, disse, à época do reconhecimento do milagre, que não havia precedentes para o caso. "Se há um só abcesso cerebral, se pode recuperar, mas com oito abcessos e um quadro de hidrocefalia aguda, a porcentagem de óbitos é de praticamente 100%", alegou. "É necessário concluir que estamos diante de um evento cientificamente inexplicável, que sucedeu de forma decisiva, instantânea, duradoura e total. E isso, para a Igreja, é o equivalente a um milagre."