Quem escolhe a Música como profissão também escolhe enfrentar o desafio de transformar a paixão em fonte de renda

Músicos empreendedores buscam maneiras de ganhar dinheiro além dos palcos


Quem escolhe a Música como profissão também escolhe enfrentar o desafio de transformar a paixão em fonte de renda

Como qualquer outra área, Música pode ser uma opção de carreira - muito além do hobby. Quem escolhe este caminho enfrenta o desafio de transformar a paixão em fonte de renda. 
Como qualquer outra área, Música pode ser uma opção de carreira - muito além do hobby. Quem escolhe este caminho enfrenta o desafio de transformar a paixão em fonte de renda. 
É o caso de André Costa, 42 anos, conhecido como Dedé Costa na cena musical de Porto Alegre, que estudou guitarra no Conservatório de Tatuí, no estado de São Paulo. Hoje, paralelamente às suas apresentações, também precisa fazer outras coisas para se sustentar.
O que era considerada uma "vida dupla", no entanto, está cada vez mais se fundindo. Em 2010, ele procurou a Sogipa e o Grêmio Náutico União, dois grandes clubes da Capital, para levar o Dedé Costa Quarteto. Recebeu um sinal positivo, mas a exigência era que o grupo tivesse um site. Foi quando lembrou de um amigo que sabia fazer.
"Só que ele me cobraria R$ 2 mil. Aí, fui para a internet, comecei a estudar e descobri como se fazia. Fiquei uma semana produzindo", lembra. A partir dessa experiência, Dedé não parou de procurar novidades sobre programação e desenvolvimento de sites. "Eu comecei a me aprofundar. Pensei: vou vendê-los", conta.
Ao perceber o sucesso dessa nova maneira de ganhar dinheiro, música e programação foram combinadas com a vontade de transmitir conhecimento através de videoaulas.
Por isso, está em desenvolvimento o Toque Guitarra, uma plataforma de estudo de música on-line - que deve ser lançada em breve.
"Existem outras (escolas virtuais), mas nenhuma é parecida com a ideia de negócio que tenho na cabeça. Vai do bê a bá até o cara que quer seguir algum rumo na música", afirma.
Para garantir o profissionalismo da empreitada, Dedé montou um verdadeiro estúdio dentro de casa. Ele ainda não divulga o valor que cobrará pelas aulas, mas diz que serão mais em conta do que as presenciais. O homestudio, como chama, está gerando, ainda, desdobramentos inesperados.
"Vendi para dois clientes a ideia de criar um canal no YouTube. Edito, faço a produção e a direção do vídeo. Eu acho que o empreendedor tem essa história. Em vez de encontrar desculpa, ele vê uma coisa e faz aquilo trazer renda", aponta.
Embora a atuação na programação represente a maior fatia de seu faturamento, Dedé não deixa a música de lado.
Na banda de metal Cromata, ele é um dos guitarristas. Com a criação de trilhas, jingles e vinhetas para produtoras, consegue conciliar as duas paixões.
"Eu sei que sou um cara empreendedor. Ainda não ganhei grana com o meu foco, que é a música", completa.

Buteco do Aldo abre espaço para músicos

O Buteco do Aldo é um exemplo de incentivo aos músicos. Localizado na André Belo, nº 586, no bairro Menino Deus, há pelo menos um ano o local oferece apresentações ao vivo. Seu proprietário, Alexandre da Rosa Kohls, 42 anos, é o responsável pela transformação do Buteco em um espaço musical. "Sempre gostei de música e a questão da violência me fez levá-la para a calçada", diz, sobre a movimentação do público na rua. 

A paixão precisa sobreviver

Quando entrou na faculdade, aos 16 anos, vinda de Alegrete para o curso de música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Cynthia Geyer sonhava em ser concertista. Mais especificamente uma pianista. O contato com a área pedagógica em meio a graduação foi determinante para uma mudança de planos. Percebeu na docência um campo aberto para empreender - especialmente pela necessidade de profissionalização. Atualmente, ela é dona da Estação Musical, escola de música localizada na rua Schiller, esquina com a avenida Goethe, no bairro Moinhos de Vento, na Capital. A marca chegou a ter filiais na Zona Sul e dentro do Colégio Farroupilha, que foram fechadas.
Cynthia fez mestrado por entender que o "músico da graduação tem apenas o básico" e que precisa ter uma formação continuada. Foram dados ali os primeiros passos na caminhada rumo a abertura da Estação Musical, em 2001. "Entre a universidade até conseguir realmente ter a escola, foram 12 anos como profissional autônoma", conta.
Enquanto arquitetava o projeto, visitou uma operação similar em Curitiba, outras em São Paulo e uma em Nova Iorque. Um ponto forte da escola são os projetos com bebês, segundo Cynthia. Desde 2002 o Estação Bebês é executado e, há pelo menos três anos, funciona também o Artes para Bebês.
Quando o assunto é business, a empreendedora vê entraves estratégicos. "É muito difícil para a pessoa que vem da área artística fazer um negócio", relativiza. Junto a isso, o despreparo do estudante de Música dentro da academia para pensar no que fazer quando formado é motivo de preocupação para ela. "A área acadêmica ainda precisa preparar os seus alunos para o mercado de trabalho. Isso é uma lacuna terrível na formação. Essa coisa de não falar como é que ele vai ganhar dinheiro faz muita falta", sente.

Quem afina os bastidores

Profissionalizar uma área reconhecidamente informal, além de um desafio, pode se tornar um grande negócio. Piquet Coelho, 48 anos, saiu de trás do conjunto de tambores e pratos que compõe uma bateria para ir para trás dos palcos. Desde 2005, quando percebeu que havia uma lacuna no mercado, se tornou roadie. Esse profissional é o responsável pela preparação e montagem da aparelhagem, um tipo de salva-vidas durante a apresentação.
No início, além de depender da indicação de amigos e conhecidos, recebia apenas R$ 50,00 por show. "Começava assim: sou amigo do fulano de tal, te dou um dinheirinho, te dou um rango, tomamos umas cervejas", exemplifica.
Disposto a mudar esse paradigma, realizou uma série de medidas para estruturar sua atuação, como a criação da Central da Técnica, nesse ano. "Essa profissão deixou de ser informal, a gente fez umas ações: CNPJ, MEI, DRT. Porque perdemos muitos trabalhos em teatros, feiras, festivais. Tu não consegues trabalhar sem ter a DRT", destaca.
Além do trabalho de roadie, Piquet também atua como diretor de palco, tour manager (planejamento de turnês e shows), contrarregra (troca de cenários, supervisão de técnicos) e drum tech (montagem e desmontagem do set de bateria).
A criação do site para a Central da Técnica, diz, foi fundamental. "O site abriu um leque. Comecei a trabalhar com a Elza Soares e a fazer as turnês de caras como Billy Cobham, Donavon Frankenreiter, Mark Ramone e Tom Curren."

A vez de ser dono da própria voz

Músico nato, Lico Silveira, 43, é cantor, compositor e poeta de Porto Alegre. Sua voz se caracteriza pelo timbre e pelo alcance, e suas raízes estão na MPB, no rock e no blues. Após um hiato de 10 anos trabalhando como cinegrafista e motoboy, há seis Lico voltou à cena musical. E foi para não sair mais, acredita. "Larguei tudo, só estou fazendo música." Embora aposte todas suas fichas nos palcos, ele também faz locução e dublagem para filmes e videogames - inclusive deu vida ao personagem Popeye certa vez.
Não bastasse isso, o músico compõe trilhas para cinema, além de ter feito a direção musical de uma peça de teatro. Autodidata, busca demonstrar na idealização de seus projetos a preocupação em levar música autoral por onde quer que vá. Os projetos Quarta Autoral, Tocaquela e o Maloca do Marinho são exemplos dessa obstinação em expandir os horizontes dos compositores locais. Lico também fez parte do grupo que elaborou o Autoral Social Clube (iniciativa que englobava música, arte gráfica, cinema e fotografia).
O Maloca do Marinho, por exemplo, apresentou para o público mais de 70 compositores em cerca de um ano. O projeto rola na segunda quinta-feira de cada mês, no Bar do Marinho, que fica na rua Sarmento Leite, nº 962, na Cidade Baixa. "O Marinho Rodrigues é um cara que dá força para o músico em Porto Alegre", assegura Lico. Nesse evento, o músico busca aproximar o artista do público com algumas perguntas.
Além dos projetos próprios, Lico resgata a obra de outros compositores. É vocalista da banda Os Exagerados, que viaja levando um tributo a Cazuza pelo Estado há cinco anos. Recentemente, elaborou o Especial Belchior com a banda Os Latinoamericanos. Neste ano, voltou a fazer um show autoral, com banda e tudo o que tem direito. Com apoio dos mais variados profissionais, Lico Silveira & Os Parentes engatilharam o que irá se tornar, em novembro, um disco com a "alma do artista". As principais influências artísticas de Lico são Nei Lisboa, Cazuza e Jim Morrison. No campo literário, Mário Quintana, Cecília Meireles e Nietzsche.