Aproveitar o tempo e os rendimentos de uma profissão lucrativa para empreender é opção de alguns ex-atletas

Ex-atletas viram empreendedores após aposentadoria esportiva


Aproveitar o tempo e os rendimentos de uma profissão lucrativa para empreender é opção de alguns ex-atletas

O tempo de carreira dos jogadores de futebol e seus salários têm proporções opostas: curta vida profissional e alto pagamento. Aproveitar o tempo após a aposentadoria e os rendimentos de uma profissão lucrativa (apesar de apenas 4% receberem mais de R$ 5 mil ao mês no Brasil) para empreender é uma opção escolhida por alguns ex-atletas. Caso de Tiago Silva, 37 anos, ex-Juventude, que abriu a TSS Incorporadora. O negócio nasceu inspirado no pai, Manoel, que era pedreiro.
O tempo de carreira dos jogadores de futebol e seus salários têm proporções opostas: curta vida profissional e alto pagamento. Aproveitar o tempo após a aposentadoria e os rendimentos de uma profissão lucrativa (apesar de apenas 4% receberem mais de R$ 5 mil ao mês no Brasil) para empreender é uma opção escolhida por alguns ex-atletas. Caso de Tiago Silva, 37 anos, ex-Juventude, que abriu a TSS Incorporadora. O negócio nasceu inspirado no pai, Manoel, que era pedreiro.
Ainda embrionária, a ideia acompanhou o atleta em países nos quais atuou. Na Bulgária - onde vestiu a camisa do Litex Lovech e do CSKA Sofia - e depois na Bélgica - quando atuou no Racing Genk - conversou com empresários do ramo da construção civil e conheceu novas tecnologias. "Isso começou a me despertar", conta. Foram quase 10 anos na Europa. Para aproveitar melhor o tempo e a tranquilidade nos países europeus, o primeiro investimento de Tiago foi em leitura. Aproveitava as férias no Brasil para comprar livros de casos de sucesso, como os de Warren Buffett, Michael Jordan, Robert Kiyosaki e Donald Trump.
Em 2010, já pensando no que fazer após a aposentadoria dos gramados, que aconteceu em 2011, Tiago resolveu tirar a ideia do papel. O primeiro empreendimento surgiu após conversas com uma amiga arquiteta de Taquari, sua cidade natal. Ela propôs o projeto de uma casa num dos terrenos do lateral-esquerdo. Não satisfeito com o projeto, Tiago resolveu que queria fazer um prédio na área. Ele define aquela iniciativa como uma "verdadeira aventura na cidade". Foi o segundo prédio com elevador do município, com apartamentos grandes e um valor mais elevado em relação ao que os moradores de Taquari estavam acostumados. Chegou a temer sobre o futuro do negócio. "Vendi apenas um apartamento na planta, o que é muito pouco", lembra.
Tiago, contudo, buscava se tranquilizar com o fato de a construção ter saído do papel apenas com capital próprio. A tranquilidade plena veio gradativamente. Após um ano da entrega, o prédio foi completamente comercializado - gerando lucro de aproximadamente 40% sobre o investimento. Foi o salto do temor para o otimismo.
Motivado, resolveu que era hora de levar sua concepção de empreendimento imobiliário para a Capital. Pequenos entraves o fizeram adiar a ideia, mas não o levaram a abandoná-la. Nesse ínterim, realizou sua segunda obra em Taquari. A execução de novas empreitadas e o sucesso das vendas têm explicação. Tiago tem na ponta da língua o organograma da empresa. Sabe da responsabilidade financeira que lhe cabe, mas não esquece de citar e exaltar o trabalho de sua equipe. Não é "sua equipe", aliás. É o time atual de Tiago. Nele, o lateral se tornou camisa 10. "A gestão geral é centralizada em mim", orgulha-se. A estrutura ainda é pequena e conta com 13 funcionários devidamente registrados. Procura manter uma administração equilibrada, o que garante um lucro de 20% a 25%. Apesar da crise, Tiago afirma que há muitos contatos e novas propostas. Um investidor de Lajeado já o procurou para o ano que vem e há perspectiva de negócios em Florianópolis.
Para não esquecer o futebol, Tiago quer unir a amizade dos campos ao seu negócio. Num futuro próximo pensa em ser uma referência para os atletas, baseado na sua experiência nos dois lados da mesa.

Estúdio para a transferência de conhecimento

Ex-atleta de triatlo e Ironman, Lucas Pretto, 34 anos, é formado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Desde 2010, quando inaugurou o Estúdio Pretto, alia experiências de sua carreira esportiva com o mundo empreendedor. As vivências durante os anos em que competiu, treinando em diferentes academias, o fez enxergar a possibilidade de fazer diferente. Percebeu, primeiramente, que as academias investiam, cada vez mais, apenas em novos equipamentos. Sua formação acadêmica - e um curso voltado ao treinamento funcional, que fez em 2010 - reforçou na cabeça de Lucas a necessidade de investir num projeto que unisse a educação e o treino, o profissional e o aluno.
A filosofia para o novo empreendimento estava estabelecida: investir no educador físico para atender e cativar os clientes. "Uma das coisas mais difíceis de academias, no geral, é reter o aluno. Aluno novo tu consegues, mas ele continuar treinando é muito importante", explica.
O reconhecimento está sendo acompanhado pelo crescimento. São pouco mais de seis anos de atuação, e o estúdio chega a sua terceira ampliação. No início, em 2010, além de gerir o espaço, era Lucas quem também dava aulas, num espaço de cerca de 50m² na rua Comendador Caminha, no bairro Moinhos de Vento, na Capital. "Teve uma época em que isso foi um grande problema para mim. Eu não me dava conta da quantidade de coisas que fazia ao mesmo tempo: dava aula, recebia cheque, tinha que pagar os professores, emitir nota. Fiquei um bom tempo achando que poderia fazer tudo sozinho", lembra.
Em 2012, já contava com quase 90 alunos num novo espaço, de aproximadamente 220m², na rua Olavo Barreto Viana. A rentabilidade do negócio era boa. Fez contato com uma consultoria e dela recebeu o aval para crescer. Desde julho deste ano, o Estúdio Pretto ocupa 450m² na praça Maurício Cardoso, terceiro piso do nº 71, também no Moinhos. O aluguel é cinco vezes maior, e a equipe de professores tem nove educadores físicos, além do ex-atleta, que não abandona o convívio com os exercícios e os alunos. São mais de 240 clientes, sendo que a projeção é chegar aos 330 até o final de 2016. Houve um aumento de 15% da procura pelos serviços do estúdio - mesmo que a mudança tenha ocorrido em um mês considerado "ruim", por causa do frio e o período de férias. Além do treinamento funcional, o espaço conta com fisioterapia, pilates e assessoria esportiva.
 

Zagueiro que é bom chuta até a crise para longe

O ex-zagueiro Fabian Guedes, 35 anos, mais conhecido como Bolívar - ou ainda General -, bicampeão da Libertadores da América com o Internacional, também aproveitou a aposentadoria esportiva para empreender. A decisão foi estimulada por um amigo de longa data, Carlos Dressler, dono de uma empresa de lubrificantes e filtros automobilísticos.
Com a proposta de abrir a rede de postos de gasolina BFG em mãos, Bolívar se reuniu com Carlos e seu irmão, Luis. Além da confiança nos amigos, o reconhecimento pelo trabalho bem-administrado por eles o fez aceitar o desafio - e aproveitar a oportunidade. "É uma coisa totalmente fora do que eu fazia, mas com a confiança dos meus dois sócios, que já trabalham com isso, tem sido uma situação muito boa", explica. Como o próprio define, "não se pode abrir uma rede de restaurantes sem nunca ter entrado numa cozinha".
São pouco mais de seis meses de atividade dos postos. Mas e a crise? Assustou? "Ainda não. Sempre falo que a crise, por mais que exista, as pessoas não deixam de comer e não deixam de andar de carro. É um investimento que vale a pena", avalia. A perspectiva é de lucro para os próximos meses. Atualmente, os postos "estão se pagando", confirma Bolívar. A rede conta com quatro unidades: duas em Canoas, uma em São Leopoldo e uma em Estância Velha. "Até consegui colocar o futebol no meio disso. Na inauguração do segundo posto, levei o Edílson, (lateral-direito) do Grêmio, o Michel e o Perdigão (ex-Inter)", conta, sorrindo, fugindo um pouco do semblante sério dos tempos de zagueiro.
A administração conjunta dos postos não é seu único negócio. Logo após a aposentadoria, dedicou algum tempo para o gerenciamento da carreira de atletas da base. Segundo ele, é muito difícil abandonar completamente o meio futebolístico. O hábito do convívio quase diário, durante 16 anos de carreira, é difícil de largar. "Semana passada acabei um curso de treinador de futebol. Quero abrir um leque de opções", revela.

Duda trabalha com escolas de futebol há mais de 20 anos

A ex-jogadora de futebol, Eduarda Luizelli, a Duda, trabalha com escolas de futebol há mais de 20 anos. Seu primeiro clube foi o Internacional, tendo atuado também no Milan e no Verona, da Itália. Jogou ainda nas Seleções gaúcha e brasileira de futebol feminino. Com a Seleção brasileira foi bicampeã Sul-Americana.
Quando abriu a primeira unidade ainda jogava na Itália. Hoje são mais de 10 unidades espalhadas por Porto Alegre e região metropolitana. As escolas atendem cerca de 700 crianças – distribuídas em 500 meninos e 200 meninas, aproximadamente.
O Parque Gigante é o local de treino delas. Recentemente, uma turma de meninas de 6 a 8 anos foi aberta pela primeira vez. Duda explica que antes as meninas nessa faixa etária treinavam com os meninos da mesma idade pela falta de atletas. As recentes atuações da Seleção feminina nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram determinantes para que a procura aumentasse. Quem sabe, daqui alguns anos, teremos Martas, Cristianes e Formigas criadas nas escolas da Duda.