Publicada em 24 de Agosto de 2016 às 15:50

Alta da demanda mundial favorece mercado brasileiro

Produção nacional alcançou 9,4 milhões de toneladas de carne no ano passado

Produção nacional alcançou 9,4 milhões de toneladas de carne no ano passado


CI/DIVULGAÇÃO/JC
Marina Schmidt
Segundo maior produtor e exportador de carne bovina no mundo, o Brasil ainda tem um mundo inteiro a explorar. Segundo dados apurados pela assessoria econômica da Farsul, com base em informações levantadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), a produção brasileira alcançou 9,4 milhões de toneladas no ano passado, volume cerca de 13% inferior ao do maior produtor do mundo, os Estados Unidos, com 10,8 milhões de toneladas.
Segundo maior produtor e exportador de carne bovina no mundo, o Brasil ainda tem um mundo inteiro a explorar. Segundo dados apurados pela assessoria econômica da Farsul, com base em informações levantadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), a produção brasileira alcançou 9,4 milhões de toneladas no ano passado, volume cerca de 13% inferior ao do maior produtor do mundo, os Estados Unidos, com 10,8 milhões de toneladas.
Os dois países também figuram no primeiro e segundo lugares do mundo no consumo de proteína bovina. O país norte-americano consumiu 11,3 milhões de toneladas, em 2015, enquanto aqui a quantia chegou a 7,8 milhões de toneladas. Os dois maiores produtores e consumidores da commodity encerram aí suas semelhanças.
Na competição pelo mercado internacional, o Brasil se projeta. Quase 20% da produção nacional, no ano passado, foi exportada. O volume de 1,7 milhão de toneladas chegou a mais de uma centena de países, colocando o País em segundo lugar em exportação, atrás apenas da Índia, que colocou 1,8 milhão de toneladas no mercado internacional.
A distância pequena do primeiro concorrente no mundo demonstra o espaço que a pecuária de corte no País ainda pode alcançar. Embora a Índia seja o principal exportador mundial, o volume produzido aqui é mais do que o dobro do atingido pelos pecuaristas indianos, que somaram 4 milhões de toneladas no último ano.
Caracterizada não só pela elevada produção como também pela qualidade do produto que comercializa, a pecuária brasileira tem potencial para alcançar uma fatia maior do mercado internacional no decorrer da próxima década. Se nos últimos 10 anos a demanda se manteve praticamente estável, passando de 56,77 milhões de toneladas em 2006 para 56,74 milhões de toneladas neste ano, segundo cálculos do Usda, o mesmo não se pode dizer para o período que vai até 2026.
O incremento deve ser de 6,12 milhões de toneladas até lá, projeta a assessoria econômica da Farsul. Em 2020, o consumo mundial deverá alcançar 59,29 milhões de toneladas, subindo para 62,86 milhões de toneladas, em 2026. A ampliação entre 2016 e 2026 será de quase 11%, um estímulo e tanto para um país que hoje responde por 14% da produção mundial e alcança uma fatia de quase 20% do mercado internacional.

Elevação do consumo no continente asiático abre perspectivas para ganhos com exportação

Vencer a estagnação identificada nos últimos anos, passando para um crescimento de 10,8% projetado para o próximo período, é um salto, que será impulsionado por um gigante asiático: a China. O que o Brasil tem de vantagem nesse contexto é que já é, atualmente, o grande fornecedor de proteína animal para os importadores chineses.
"A Ásia não comia carne vermelha, mas agora está consumindo", salienta o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. Assim como os países ocidentais estão incluindo pratos orientais em seus cardápios, o inverso também é verdadeiro. E o mercado que se abre no horizonte é imenso.
Nas projeções da Farsul, é do continente asiático que virá a maior demanda nos próximos anos. A estimativa é de que a Ásia consumirá 5,15 milhões de toneladas de carne a mais até o final do decênio 2016/2026, quantidade que representa 84% do que será demandado pelo mundo no período. O restante da procura virá dos países americanos (1,72 milhões de toneladas, 28%), seguidos da África (340 mil toneladas, 6%).
A Europa, que já vem reduzindo consumo como efeito do envelhecimento da população, necessitará cada vez menos da proteína animal, a retração, nesse mercado deve ser 1,09 milhão de toneladas até 2026. Esses são números que demonstram o quanto o mercado asiático é estratégico para os pecuaristas brasileiros. O lado negativo é que talvez os produtores nacionais ainda não tenham identificado essas oportunidades, e se perderem tempo para se adequarem às exigências dos novos importadores, podem perder espaço para a concorrência.
"Nós vemos a quantidade crescente de restaurantes de comida japonesa, indiana, chinesa e tailandesa que são abertos no País. O que nós estamos fazendo? Nos orientalizando. E, da mesma forma, eles estão se ocidentalizando", argumenta o economista. "Para diversificar a culinária com aspectos ocidentais é preciso de carne bovina, leite e trigo." Essa é uma tendência para qual ainda não se dá muita atenção, frisa.
Sem voltar o olhar para esse mercado, como tradicionalmente fazem as entidades do setor em busca de acordos comerciais, o Brasil já atende ao mercado chinês, que é o principal comprador da região, sem fazer qualquer esforço. É de forma praticamente espontânea que a nossa proteína chega ao país, esclarece Luz. "Já estamos vendendo para eles, só sem qualquer alarde", demonstra.

China já é o segundo comprador global

Atualmente, o país que realiza o maior volume de compras no mercado internacional é o Estados Unidos. No ano passado, os norte-americanos compraram 1,5 milhão de toneladas de carne bovina. A China foi o segundo maior importador, com volume de 700 mil toneladas. Porém, as compras efetuadas por Hong Kong (que atingiram 300 mil toneladas, no ano passado) não entram nos volumes chineses contabilizados. Se somados os dois volumes, os compradores chineses demandaram 1 milhão de toneladas.
Nas projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para 2016, a quantidade é ainda superior. Enquanto a demanda norte-americana deve cair para 1,3 milhão, a chinesa subirá para 800 mil toneladas e a de Hong Kong atingirá 400 mil toneladas (somando 1,2 milhão). Enquanto o gigante asiático já tem o Brasil como principal fornecedor, os Estados Unidos apenas agora estão abrindo mercado para a proteína nacional.
"Os Estados Unidos são importantes, mas a China também é", sublinha o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz. O desafio para fortalecer ainda mais as vendas para os asiáticos é voltar a olhar para esse mercado com interesse em atendê-lo com excelência. Ou seja, a mesma atenção dispensada aos mercados tradicionais é imprescindível agora com a Ásia. "O exportador precisa estar interessado em conhecer como os asiáticos consomem a carne bovina", defende o economista.
Diferentemente dos ocidentais que comem de garfo e faca, qual é a melhor opção para quem prefere comer com o já tão disseminado hashi, é um dos questionamentos que deve ser feito. Quais são os cortes mais valorizados e como conquistar o paladar de quem não está habituado com a nossa carne são outras questões que merecem reflexão.
A lição de casa, se bem feita, pode render frutos para além do decênio projetado pela Farsul. "Em geral, a China é um país pobre, com uma renda per capita que é metade da brasileira", descreve o economista, sinalizando que, atualmente, o consumo da carne bovina se concentra entre chineses de renda elevada. "Só que a população rica da China equivale a um Brasil e meio", sustenta, referindo-se a um público consumidor que já está interessado na commodity, o que só conta a favor do Brasil.
Para além dos próximos 10 anos, as perspectivas também são excelentes. Afinal de contas, há uma classe média por emergir na China ao longo das próximas décadas, e cada salto de renda da população eleva a demanda pela proteína bovina.

Carne gourmet certificada ganha novos mercados

Com rebanho criado a pasto, sabor dos cortes brasileiros é diferenciado

Com rebanho criado a pasto, sabor dos cortes brasileiros é diferenciado


CI/DIVULGAÇÃO/JC
A pecuária brasileira tem pontos a seu favor que vão além dos números de produção, consumo e comercialização. A qualidade, por exemplo, é uma das marcas que fortalece o segmento. Com um rebanho criado a pasto, o sabor dos cortes é diferenciado daqueles oriundos do confinamento. E é explorando essas características que o País pode se projetar para o mundo.
A Associação Brasileira de Angus saiu na frente nesse processo, iniciando, há dois anos, um trabalho de promoção internacional da carne de qualidade brasileira. O projeto, conduzido em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) tem o objetivo de apresentar para o mundo uma carne gourmet, de alta qualidade quanto ao marmoreio, maciez e suculência. "A carne escolhida para capitanear essa ação foi o Angus, que é o maior programa de carne de qualidade do Brasil, e tem o primeiro protocolo registrado na Comissão Nacional da Agricultura (CNA)", descreve Fábio Schuler Medeiros, médico veterinário da entidade.
Com ações de promoção conduzidas ao longo dos últimos dois anos, a iniciativa já está revertendo frutos. "Hoje, já exportamos a carne Angus certificada do Brasil, com selo da entidade, para Alemanha, Holanda, Suíça, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Chile e Líbano", elenca. Desses mercados, os principais compradores são os três países da União Europeia e a Arábia Saudita. "Hoje já são 10 países alcançados pelo projeto, com volumes crescentes", sinaliza. Medeiros estima que 5% da carne Angus produzida no País está sendo exportada.
O último ano, por exemplo, foi de um volume baixo de exportação, mas a perspectiva é de alta contínua, explica. Foi um ano voltado para atendimento de exigências e de rotulagem dos produtos, adaptando o produto ao mercado consumidor. "Em 2016, a gente começa com força nesse propósito." O câmbio, mesmo oscilando, tem favorecido às vendas internacionais, tornando a mercadoria nacional mais competitiva, com uma remuneração mais atrativa para os exportadores.
"No mercado mundial de carne de alta qualidade, quando se olhava para a América Latina só se via Uruguai e Argentina. Agora, o Brasil começa a aparecer", observa. Além de ganhar o nicho gourmet, esse produto também tem uma valorização acima do comum, com margem até 25% superior, frisa. "É um ágio que estamos buscando, construindo pouco a pouco."
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