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Teatro

- Publicada em 11 de Agosto de 2016 às 22:40

Amor ao teatro (e à literatura)

Sylvia Plath é uma escritora norte-americana que, embora tenha um conjunto fidelíssimo de leitores e admiradores, não chega a ser exatamente popular no Brasil. Há, inclusive, muita gente que a considera, no mínimo, exótica e, no máximo, simplesmente louca. Por tudo isso, o projeto do diretor Bob Bahlis e da atriz Gisela Sparremberger, com a montagem de Perto do fim, é uma iniciativa importante. Mais que isso, é um atestado de amor ao teatro. Trata-se, evidentemente, de um trabalho com pouco apelo comercial. A produção, por outro lado, apresenta alguns rituais que tornam a acessibilidade ao espetáculo ainda mais difícil: a gente deve se reunir num restaurante, num dos cruzamentos da rua Riachuelo, cerca de meia hora antes de início do espetáculo. Depois, todos marchamos até um casarão onde as coisas acontecerão. Cada apresentação comporta apenas 12 espectadores/testemunhas. Com pouco mais de uma hora de duração, Perto do fim pretende ser um acompanhamento dos últimos momentos da escritora, antes de seu suicídio.
Sylvia Plath é uma escritora norte-americana que, embora tenha um conjunto fidelíssimo de leitores e admiradores, não chega a ser exatamente popular no Brasil. Há, inclusive, muita gente que a considera, no mínimo, exótica e, no máximo, simplesmente louca. Por tudo isso, o projeto do diretor Bob Bahlis e da atriz Gisela Sparremberger, com a montagem de Perto do fim, é uma iniciativa importante. Mais que isso, é um atestado de amor ao teatro. Trata-se, evidentemente, de um trabalho com pouco apelo comercial. A produção, por outro lado, apresenta alguns rituais que tornam a acessibilidade ao espetáculo ainda mais difícil: a gente deve se reunir num restaurante, num dos cruzamentos da rua Riachuelo, cerca de meia hora antes de início do espetáculo. Depois, todos marchamos até um casarão onde as coisas acontecerão. Cada apresentação comporta apenas 12 espectadores/testemunhas. Com pouco mais de uma hora de duração, Perto do fim pretende ser um acompanhamento dos últimos momentos da escritora, antes de seu suicídio.
A morte de Sylvia Plath tem provocado muita polêmica. A jornalista Janet Malcolm, também norte-americana, inclusive, escreveu um livro acusando o marido da poeta, Ted Hughes, de ter manipulado a memória da escritora. O livro A mulher calada chega agora a ter inclusive edição de bolso, o que é uma exceção no mundo bibliográfico brasileiro.
Gisela Sparremberger, portanto, neste sentido, assumiu uma responsabilidade enorme, responsabilidade, aliás, que ela reconhece, em texto que faz parte do programa do espetáculo. Mas isso aumentou-lhe a paixão. Porque, na verdade, mais do que uma interpretação, a atriz verdadeiramente incorpora a figura da escritora sofrida. A peça certamente ajuda nisso: o diretor Bob Bahlis decidiu montar um espetáculo dentro de uma casa. Assim, o público se encontra na cozinha da casa, onde Sylvia recorda sua vida pretérita. Num certo momento, somos convidados a acompanhá-la quando ela se desloca para o quarto do casal. Ali, assistimos a uma cena que seria habitual: o romance e a sensualidade são assumidos por ela enquanto gestos de agressividade da parte do marido, interpretado pelo estreante Bruno Palharini.
Gisela vive uma Sylvia entre sensual, agressiva, tímida e patética, perdida em seu ensimesmamento. Com enorme força e emoção. Já Bruno Palharini, até por sua juventude, ainda está à busca do personagem: é de se imaginar que Ted também seria uma figura forte e agressiva, extremamente afirmativa. Deste contraste nasceria, justamente, o choque entre marido e mulher, ambos sensíveis, ambos escritores, mas ele emocionalmente mais bruto do que ela, o que lhe valia a dominação da mulher e depois o seu abandono, levando-a à morte.
O espetáculo é, neste sentido, extremamente realista: objetos da cozinha, mamadeiras de criança, bancos, mesa, pratos e talheres, o quarto de dormir etc. Ao mesmo tempo, o texto desenvolvido por Bob Bahlis é extremamente poético, subjetivo, bem marcado pelos sentimentos da personagem, de modo que existe um tensionamento entre o texto e o ambiente, o que se resolve na ação dramática da personagem. A proximidade do público da personagem dá-lhe um sentido de quase voyeur, o que amplia ainda mais esta tensão. É como se a gente antecipasse o suicídio sem nada por fazer para impedi-lo, até porque se sabe que ele, de fato, ocorreu.
Outro elemento positivo na montagem é a trilha sonora idealizada pela própria direção. A música é pretensamente incidental, mas ela se torna elemento narrativo forte, que ora antecipa, ora destaca a dramaticidade da ação. O fato de haver um espaço ampliado, de três dimensões reais, que envolve o público, colabora definitivamente para a proximidade desta plateia com a personagem. O resultado é que, ao final do espetáculo, a gente se sente opresso, triste, como que a querer velar a personagem e, por isso mesmo, custa-se a reagir e aplaudir ao grupo, que merece o entusiasmo que depois se evidencia.
Eis um espetáculo de exceção, em todos os sentidos. Um espetáculo que mostra a maturidade de nosso teatro e a coragem dessa equipe.
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