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entrevista

- Publicada em 28 de Agosto de 2016 às 22:29

Está na moda compartilhar

Walter Rodrigues trocou as passarelas por uma outra causa, a consultoria

Walter Rodrigues trocou as passarelas por uma outra causa, a consultoria


MARCO QUINTANA/JC
Um dos maiores estilistas brasileiros, Walter Rodrigues trocou as passarelas por uma outra causa, a consultoria, onde atua compartilhando seu conhecimento. Atualmente atuando com o coordenador do Núcleo de Design da Associação Brasileira de Componentes para Couros, Calçados e Artefatos (Assintecal), esteve em Porto Alegre e encontrou um espaço na agenda para bater um papo com a Coluna De Salto Alto. Há três anos morando em Caxias do Sul (RS), o designer está sempre em movimento, criando nos projetos.
Um dos maiores estilistas brasileiros, Walter Rodrigues trocou as passarelas por uma outra causa, a consultoria, onde atua compartilhando seu conhecimento. Atualmente atuando com o coordenador do Núcleo de Design da Associação Brasileira de Componentes para Couros, Calçados e Artefatos (Assintecal), esteve em Porto Alegre e encontrou um espaço na agenda para bater um papo com a Coluna De Salto Alto. Há três anos morando em Caxias do Sul (RS), o designer está sempre em movimento, criando nos projetos.
Empreender no mercado da moda
"Empreender no Brasil é uma tarefa árdua. Comecei há muitos anos, quando as coisas eram mais fáceis. Saí do interior de São Paulo e fui para São Paulo nos anos 1980. Trabalhei como produtor de moda na revista Manequim, trabalhei na Cori, depois com a Huis Clos e com outras marcas. Em 1992, finalmente me senti seguro para construir a marca Walter Rodrigues. Nos anos 1990, tínhamos como meta estabelecer uma assinatura autoral. Foi quando surgiram as marcas brasileiras com Fause Haten, Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga."
Semanas de moda
"Em 1994, com o convite do Paulo Borges, fui o primeiro estilista a participar do primeiro evento que se tornou a semana de moda brasileira. Olha como eu sou antigo! Foi no primeiro dia do Phytoervas Fashion (embrião do São Paulo Fashion Week). Depois, vieram o Morumbi Fashion e o São Paulo Fashion Week. Em 2012, fui convidado para desfilar na semana de moda de Paris. Estava começando um projeto de exportação e, pelo meu escritório de Paris, surgiu possibilidade de começar a desfilar no Rio de Janeiro, porque isso internacionalmente tornava mais fácil vender a minha marca no mundo. Conectar a sensualidade dos meus vestidos, a ideia da festa e tudo isso com o Rio de Janeiro. Então, em 2004, passo a desfilar no Rio de Janeiro, aonde vou até 2012."
Projetos no Rio Grande do Sul
"Sempre trabalhei com unidades de artesanato, sempre tive uma preocupação muito grande com a preservação dos fazeres. Conheci a Ilse Guimarães, superintendente da Assintecal, sediada em Novo Hamburgo (RS), que me convidou para fazer um projeto chamado Mix By Brasil, que era a interferência de um designer dentro de uma cooperativa de artesanato para transferir conhecimento e trazer para dentro da indústria do calçado a referência do artesanato. Ou seja, ampliar a visão dos artesãos. Tirar o aspecto folclórico do artesanato e trazê-lo para o caminho do design. Meu primeiro encontro com a Ilse foi em 2004. Naquela época, ela começa a criar uma visão muito ampliada do que seria design dentro da indústria no componente de calçados. Ela é uma visionária."
Núcleo de Design
"Somos um bureau de estilo como qualquer outro. A diferença do Núcleo de Design da Assintecal é que temos consultores treinados que vão dentro das empresas. Nosso mercado é de pequenas e médias empresas e, em 2005, não existia equipe de design nas empresas de componentes, porque eles só trabalhavam com a ideia da cópia. A exportação trazia uma referência, eles produziam e entregavam, não tinha uma necessidade de vender. Atualmente, quase 100% das empresas que participam do Fórum de Inspirações (realizado pela Assintecal e Sebrae) têm uma equipe de design."
Transição da grife para a consultoria
"Por longos oito anos, de 2004 a 2012, fiz as duas coisas. Tinha desfiles no Brasil, na Europa, e o Fórum de Inspirações. O arranjo não era fácil, a demanda é muito grande. Entre 2010 e 2011, percebi que o mercado brasileiro passava por uma mudança muito radical com a chegada das marcas internacionais. Não foi a chegada das marcas que me assustou. O que me preocupava naquele momento era a minha consumidora do mercado de luxo, que teria na porta de casa ofertas muito mais facilitadas de marcas internacionais. Já que eu tinha um projeto tão encantador como o Fórum de Inspirações, e estava estabelecendo naquele momento o Instituto By Brasil, que demandaria de certa forma a minha presença, fiz uma escolha. Foi uma escolha para ser feliz. E, nesse momento, também se determina uma outra escolha. Depois de tantos anos, por que não compartilhar com as pessoas aquilo que eu tinha aprendido e também aprender novamente?"
A moda hoje
"Estamos cada vez mais livres, o tempo é líquido. Citando Bauman (Zygmunt Bauman, autor de Modernidade Líquida), a relação das pessoas está tão fluida nas redes sociais, na maneira que se comportam no mundo, tudo é tão rápido! Você vai até a China e volta em dois dias, você vai aos Estados Unidos em um dia, à Europa em um dia. A distância não é mais nenhum problema; e a informação, menos ainda. Se o desfile está acontecendo na Europa agora, nós estamos assistindo on-line. Cada vez mais, estamos livres para escolher. Mas é uma atitude muito complicada, porque, a partir do momento em que o consumidor pode escolher o que ele quiser, se as marcas não informarem corretamente como ele deve usar, ou como ele deve comprar - ou até mesmo assimilar toda aquela proposta de moda -, ele vai se tornar confuso. São poucas as pessoas que conseguem entender a moda, usá-la sem absolutamente se sentir constrangido."
See now buy now
"O importante é entender que a marca vai produzir e estabelecer uma comunicação com o seu cliente, que pode ser uma faca de dois gumes, porque ela estabelece um caminho de cansaço e fadiga. As marcas têm que tomar muito cuidado. Primeiro, acho que não vai pegar. Aliás, tenho certeza que não vai pegar. Na realidade, voltaríamos para um sistema de moda muito antigo, que era pronta entrega. Então você imagina uma marca pequena que faz entre 50 e 60 modelos. Ela terá que escolher uma cartela de cores para esse produto, terá que desenvolver um volume de peças e acreditar muito que alguém vai comprar aquilo. E se ninguém comprar? E se ele errar em algum caminho de cor ou modelagem? As marcas brasileiras não têm capital de giro, principalmente as pequenas, para uma apuração como essa. Quando a Burberry diz que vai fazer tudo isso é completamente diferente, são bilhões de dólares, um sistema de engrenagem muito resolvido."
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