Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

operação Lava Jato

- Publicada em 04 de Julho de 2016 às 18:15

Propina financiou escola de samba da Restinga

Paulo Ferreira é levado no carro da PF após prestar depoimento

Paulo Ferreira é levado no carro da PF após prestar depoimento


ALOISIO MAURICIO/FOTO ARENA/FOLHAPRESS/JC
Os investigadores da Operação Lava Jato afirmam que a propina com origem em uma obra da Petrobras no Rio de Janeiro financiou escola de samba, blog e familiares do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira.
Os investigadores da Operação Lava Jato afirmam que a propina com origem em uma obra da Petrobras no Rio de Janeiro financiou escola de samba, blog e familiares do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira.
O petista, que está preso desde a semana passada, é o principal alvo da 31ª fase da operação, deflagrada ontem. Ferreira foi tesoureiro do PT entre 2005 e 2010, antecedendo João Vaccari Neto, e atualmente é suplente de deputado federal no Rio Grande do Sul.
Segundo a investigação, o petista e aliados receberam R$ 1 milhão da obra de reforma do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), no Rio de Janeiro. A ampliação do Cenpes foi inaugurada em outubro de 2010, para preparar a estrutura de pesquisa da Petrobras ao crescimento da companhia após a descoberta do pré-sal. O principal contrato da obra teve 17 aditivos, a maior parte para revisão do valor. A Petrobras pagou R$ 1,023 bilhão pelas obras civis, de acordo com dados do Portal de Transparência.
Segundo a investigação, entre os destinatários dos repasses do dinheiro desviado estão a Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, escola de samba de Porto Alegre, e a madrinha da bateria Viviane da Silva Rodrigues. Foram identificados pagamentos de R$ 45 mil à agremiação e outros R$ 61,7 mil a Viviane, em 18 parcelas entre 2010 e 2012.
"Chamou a atenção pela forma como se busca apoio político no Brasil e como o dinheiro impacta na formação do nosso Congresso e da classe política", destacou o procurador da República Roberson Pozzobon, em entrevista coletiva.
O juiz Sergio Moro, na decisão que determinou a prisão preventiva de Ferreira, destacou a "longa vida política" do ex-tesoureiro, que foi deputado federal entre 2012 e 2014, e o risco de que ele volte ao Congresso, por ser suplente.
"Inaceitável que agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de envolvimento em crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro permaneçam na vida pública sem consequências", escreveu Moro.
A informação sobre o destino do dinheiro, de acordo com a investigação, partiu do acordo de colaboração premiada do ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano (PT), que chegou a ser detido na Lava Jato no ano passado.
Segundo o Ministério Público Federal, Romano funcionava como uma espécie de "caixa" para Ferreira. O advogado firmava contratos de fachada ou superfaturados com empreiteiras de quem o ex-tesoureiro afirmava ter "créditos a receber" e depois repassava os valores segundo o seu pedido.
"Ele recebia as ordens do Ferreira. 'Repasse tanto para aquela escola de samba, deposite tanto na conta do meu familiar, repasse para aquele fulano que me apoia'", explicou o procurador Pozzobon.
Os repasses teriam sido feitos por meio da Oliveira Romano Sociedade de Advogados, da Link Consultoria Empresarial e da Avant Investimentos e Participações - todas de Alexandre Romano.
"Ele (Ferreira) buscava apoio político nas mais variadas frentes", comentou o procurador. "Não eram pagamentos que revertiam às contas do partido exclusivamente, mas havia benefícios pessoais." Parentes e pessoas ligadas ao ex-tesoureiro também receberam parte das transferências.
A escola de samba Estado Maior da Restinga foi fundada em 1977 e foi bicampeã do Carnaval porto-alegrense em 2011 e 2012 - anos em que foram identificados repasses do esquema à escola, segundo a Lava Jato. Viviane Rodrigues, 37 anos, é madrinha de bateria da escola há 13 anos. Ela é apontada pelo Ministério Público Federal como amiga de Paulo Ferreira - tido como um apoiador da escola de samba.

Praiana e Império da Zona Norte também são citadas na investigação

"Paulo Ferreira, hoje é carnaval." Assim termina a primeira estrofe do samba enredo da Academia de Samba Praiana, de Porto Alegre, que, no último Carnaval, levou para avenida uma homenagem ao ex-tesoureiro do PT. Há anos Ferreira é conhecido no meio carnavalesco. Mesmo quem é de fora o via sendo exaltado por dirigentes de escolas, e, por vezes, acompanhado por baterias.
A investigação da Polícia Federal aponta doações com dinheiro de propina para escolas de samba. Além da Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga (Tinga), a Academia de Samba Praiana e o Império da Zona Norte também foram beneficadas, segundo a força-tarefa.
Apenas os pagamentos à Escola Maior da Restinga somaram R$ 45 mil no início deste ano. Ao todo, os investigadores apontam que a escola recebeu, nos últimos anos, R$ 180 mil, que vieram do esquema de propinas.
Ferreira ainda ajudou integrantes da Tinga a viajarem para a China, tema do samba-enredo para o desfile de 2010.

Dono da WTorre é alvo de ação, mas não foi encontrado

O empresário Walter Torre Junior, dono da construtora WTorre, não foi levado coercitivamente para prestar depoimento na Polícia Federal, ontem, porque não foi encontrado pelos policiais federais.
Torre Junior viajou, há duas semanas, de férias com a família para a Europa. Ele terá que se apresentar à Polícia Federal assim que voltar ao Brasil. A previsão é que ele retorne no final de agosto.
O empresário é suspeito de ter recebido R$ 18 milhões de um consórcio concorrente para desistir da licitação da obra do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) - investigada na 31ª etapa da Lava Jato, deflagrada ontem.
Segundo as investigações, Torre Júnior recebeu o presidente da OAS, Léo Pinheiro, que coordenava o consórcio Novo Cenpes, em um domingo, a fim de acertar o pagamento.
"O Léo, depois, por mensagem, me comunicou que estava tudo sacramentado com a Walter Torre. Não disse assim, mas disse: 'Vocês me fizeram trabalhar em um domingo. Tá tudo ok'", contou o empresário e delator Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia - também participante do consórcio.
O colaborador ainda afirmou ao Ministério Público que recebeu Torre Júnior em seu apartamento, em São Paulo, alguns dias depois para confirmar o acerto.
"Entrou pela garagem e tudo, foi à minha casa e foi só para dizer que teve a conversa e para dizer: 'Tá tudo ok?'. Eu disse: 'Tá tudo ok'", contou Pernambuco Júnior aos procuradores.
O MP ainda não descobriu de que forma foi feito o pagamento dos R$ 18 milhões. A WTorre, porém, está sendo investigada sob suspeita de fraude à licitação.

Inaugurada por Lula, reforma de centro da Petrobras teve 17 aditivos

A ampliação do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras) foi inaugurada no dia 7 de outubro de 2010, com o argumento de preparar a estrutura de pesquisa da Petrobras para o crescimento da companhia após a descoberta do pré-sal.
A reforma é investigada pela Operação Lava Jato e desencadeou sua 31ª fase, denominada "Abismo", nesta segunda-feira.
Projetado pelo arquiteto Siegbert Zanettini, o edifício ocupa uma área de mais de 150 mil metros quadrados e está localizado na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro, em frente ao Cenpes original, inaugurado em 1973.
São mais de 200 laboratórios, onde cientistas e pesquisadores trabalham no desenvolvimento de tecnologias para exploração de petróleo e produção de combustíveis, entre outros.
O principal contrato da obra teve 17 aditivos, a maior parte para revisão do valor. A Petrobras pagou R$ 1,023 bilhão pelas obras civis, de acordo com dados do Portal de Transparência.