Depois de trabalhar 10 anos na Gerdau, Grazziotin resolveu abrir barbearia em Porto Alegre

Funcionários pedem demissão para abrir negócio próprio


Depois de trabalhar 10 anos na Gerdau, Grazziotin resolveu abrir barbearia em Porto Alegre

Mateus Grazziotin, 35 anos, de Passo Fundo, trabalhou por uma década na Gerdau. Ele começou como estagiário, foi trainee e conquistou uma função de gerência na empresa em São Paulo. Até que um dia, em 2013, tomou uma decisão que quase matou a mãe do coração: não seguiria mais aquela vida turbulenta - e, aos olhos dela, de grande importância profissional.
Mateus Grazziotin, 35 anos, de Passo Fundo, trabalhou por uma década na Gerdau. Ele começou como estagiário, foi trainee e conquistou uma função de gerência na empresa em São Paulo. Até que um dia, em 2013, tomou uma decisão que quase matou a mãe do coração: não seguiria mais aquela vida turbulenta - e, aos olhos dela, de grande importância profissional.
"A insegurança bate mais neles do que em ti", diz, sobre os pais que, como os seus, veem os filhos pedindo demissão de empregos "promissores".
A rotina era tão intensa que resolveu tirar um ano sabático para decidir o que faria de seu futuro. Ficou quatro meses no Pólo Ártico, fez o Caminho de Santiago, na Europa, passou pela África, viveu como um mochileiro. Em 2015, voltou ao Rio Grande do Sul. E enquanto dava um trato na barba, na Barbearia Independência, em sua cidade natal, veio a ideia de abrir uma filial em Porto Alegre. O fato de ser amigo de uma das proprietária da marca, Flavia Escobar, facilitou o processo.
Grazziotin investiu cerca de R$ 260 mil no ponto da rua da República, no bairro Cidade Baixa. Hoje, ganha menos do que quando empregado, mas para ele isso não importa. "Eu já pensava: se for sair para ganhar a metade e eu estiver feliz, tranquilo", conta.
Dinheiro, para o empreendedor formado em Comércio Exterior, atualmente não é uma prioridade. Ele acha que o retorno acontecerá naturalmente. "A minha qualidade de vida é completamente diferente. A carga horária é maior, fico 12 horas de segunda-feira a sábado. Mas, na hora de fechar, não dá vontade de ir embora. E eu tenho flexibilidade para tocar minhas coisas pessoais", reflete o neto do fundador das lojas Grazziotin.
A Barbearia Independência se diferencia pelo fato de contar com o trabalho de barbeiras mulheres. Até o fim do ano, outra unidade deve ser aberta na Capital, em endereço ainda não definido.
A mãe de Graziottin, que no início se preocupou com o destino do filho no empreendedorismo, hoje visita o negócio a cada 15 dias. Em vez do escritório, ele agora passa os dias num ambiente entre navalhas e café espresso, um bar com mais de 30 rótulos de cervejas artesanais, uma mesa de jogos e um Playstation 4. 

O site que nasceu da sensação de vazio

Fernanda Pandolfi, 29 anos, conquistou, antes dos 30, uma função prestigiada no meio jornalístico: a de colunista. Apesar de disputada entre as fontes, ela abriu mão de ter sua imagem publicada diariamente no jornal para ser feliz - e poder fazer mais do que gosta: escrever. "Eu sentia um vazio, com valores superficiais. Tinha medo de sumir", afirma.
Fernanda trabalhou por seis anos no jornal Zero Hora, e nos últimos três assinou o espaço Rede Social. Em junho, pediu demissão para apostar num negócio próprio, com a sua cara. O site Ida e Volta, que será lançado em agosto, é a nova motivação da jornalista, formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). "Minha mãe sempre me apoiou. Meu pai questionou 'como vais te sustentar?'. Quando fui mostrando meu plano, ele gostou. Era o que eu precisava", lembra.
Respondendo à pergunta do pai, ela terá mais de uma opção de fonte de renda. Começa pelo tradicional anúncio na plataforma, segue pelo branded content e continua na possibilidade de produtos licenciados. "Para uma pousada de Gramado, posso fazer uma websérie, um conteúdo casado", exemplifica Fernanda. "Se eu quiser ir para Amsterdam, posso levar uma marca comigo", detalha a jovem, que também é formada em Marketing pela ESPM.
Já estão agendadas cinco viagens. A primeira internacional foi ao Peru. Agora, pensa em promover um almoço temático do país. "A experiência tem que ter uma entrega", justifica, relacionando às lições que tirou do MBA.
Para montar o site, que está sendo desenvolvido pela Plano Agência Digital, Fernanda teve de desembolsar R$ 8,5 mil. O investimento deve chegar aos R$ 15 mil, pois um computador e uma câmera fotográfica estão entre os novos itens necessários. Ela também fez uma parceria com a Meu Mundo Pocket Mag, onde terá uma coluna. "O maior desafio é a parte de empreender", confessa.
A qualidade de vida pesou na hora de encarar o incerto. Fernanda conta que, por causa da exposição no veículo, seu telefone não parava nunca e que chegou a emagrecer devido à rotina do trabalho. "Aprendi com o (professor da Pucrs Marques) Leonam que o jornalista não pode aparecer mais que a matéria. O que eu mais fazia era aparecer", aponta.
O Ida e Volta será responsivo e contará com um mapa que localizará Fernanda pelo mundo - em algum lugar onde ela estará realizando o sonho antigo (e que muita gente tem) de poder viajar e ganhar dinheiro com isso.

Ex-Braskem diz que abrir o próprio negócio não é um mar de rosas

Mauro Amaral Gonçalves, 54, foi funcionário da Braskem por 30 anos. Com a intenção de poder trabalhar de casa ou frequentar o ambiente profissional três vezes por semana, resolveu pedir a aposentadoria da empresa para abrir um estúdio de depilação na avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre. O resultado foi bem diferente do que esperava: faz três anos que ele não tira férias e até agora não recuperou o valor investido, de R$ 160 mil.
"Se eu não estou aqui, não funciona. Até hoje, não consegui contratar alguém para gerenciar, devido aos custos", lamenta. Gonçalves toca o negócio ao lado da esposa, Rosângela, 55, que fica na recepção.
Quando o casal precisa se ausentar, o ex-supervisor de turno da multinacional tem de recorrer à cunhada para substituí-los.
A decepção se deve, segundo Gonçalves, ao momento vivido pelo Brasil - que afeta diretamente os negócios. O imóvel alugado ao preço de R$ 4,6 mil tem dois andares, com possibilidade de expansão. Só o primeiro piso, no entanto, recebeu as seis cabines de depilação (e apenas cinco delas são utilizadas).
"No início, tinha dias que entrava duas, três pessoas", lembra Gonçalves, que passou os dois primeiros anos no vermelho. Atualmente, a situação está estável, mas não gera lucro. "Eu achava que o retorno seria imediato, e isso não aconteceu. Não é um mar de rosas", assume.
Se pudesse voltar no tempo, Gonçalves avalia que não teria aberto a operação, talvez aplicaria a quantia. "Caso eu vender, vou parar. Não vou arriscar mais e vou usar o dinheiro para viajar", prevê o empreendedor, que colocou a Vupt à disposição de algum comprador interessado.
Para quem está na situação de decidir se sai de um emprego para apostar em algo próprio, ele sugere que se tenha afinidade com o mercado. "Eu gosto de administração, mas não gosto do serviço ali embaixo", confessa, referindo-se ao segmento estético. Gonçalves e Rosângela, na década de 1990, tiveram uma creche também, mas a fecharam devido as características do trabalho com crianças e pais.
 

Dica do Sebrae

Se você pretende abrir um negócio com o valor da rescisão, tome alguns cuidados. O técnico do Sebrae Luciano Francisco Silveira da Silva sugere planejamento. Ele diz que o natural é que as pessoas usem todo o dinheiro recebido para investir em estrutura, o que é um erro. O ideal é guardá-lo para o capital de giro (necessário para compra de mercadorias, pagamento de aluguel, etc.). "O Sebrae tem assessoria de crédito, onde conversa com o cliente e indica as melhores linhas de acordo com o perfil dele." A instalação de piso, por exemplo, é financiada pelo ConstruCred, da Caixa Econômica Federal. O juro para infra pode se aproximar de 2%; para capital de giro, 10%.