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Comércio Exterior

- Publicada em 03 de Julho de 2016 às 18:23

Indústria calcula perdas com virada do dólar

Entre empresários, é quase consenso que a valorização do real impacta na competitividade

Entre empresários, é quase consenso que a valorização do real impacta na competitividade


STOCKVAULT/DIVULGAÇÃO/JC
A recente valorização do real não estava no radar das empresas e pegou a indústria brasileira no contrapé. Em duas semanas, a moeda norte-americana saiu do patamar de R$ 3,40 para R$ 3,20. Na sexta-feira, bateu em R$ 3,23, leve alta de 0,63%. A alta do dólar ante o real, no ano passado, havia colocado as empresas brasileiras de volta no jogo das exportações. As companhias se tornaram mais competitivas, promoveram uma reorganização interna e passaram a enxergar o mercado externo como uma válvula de escape, no momento em que o País estava mergulhado na pior recessão desde a década de 1930.
A recente valorização do real não estava no radar das empresas e pegou a indústria brasileira no contrapé. Em duas semanas, a moeda norte-americana saiu do patamar de R$ 3,40 para R$ 3,20. Na sexta-feira, bateu em R$ 3,23, leve alta de 0,63%. A alta do dólar ante o real, no ano passado, havia colocado as empresas brasileiras de volta no jogo das exportações. As companhias se tornaram mais competitivas, promoveram uma reorganização interna e passaram a enxergar o mercado externo como uma válvula de escape, no momento em que o País estava mergulhado na pior recessão desde a década de 1930.
Entre os empresários, os indícios de valorização do real dão uma sensação de déjà vu. Nos últimos anos, um mantra repetido pelo setor industrial era de que o real valorizado tirava a competitividade das exportações. E foi o que ocorreu: as empresas brasileiras perderam espaço no mercado internacional.
"A valorização do real tem nos deixado apreensivos. A empresa fez planos imaginando que o dólar estaria mais próximo de R$ 4,00 do que de R$ 3,00", afirma o presidente da calçadista Vulcabrás/Azaleia, Pedro Bartelle. "Calculamos os nossos preços e fizemos as nossas pré-vendas, mas essa valorização tem corroído o resultado das exportações." No início deste ano, a empresa planejava um crescimento de 30% nas vendas para o mercado internacional. Com a mudança de patamar do câmbio nas últimas semanas, reduziu a projeção para alta de 20%. O cenário se torna mais difícil porque as empresas também estão tendo de lidar com a volatilidade do câmbio. No início deste ano, por exemplo, o dólar chegou a ser cotado acima de R$ 4,00.
"É muito difícil trabalhar com essa oscilação do câmbio", afirma o presidente da Cedro Têxtil, Marco Antonio Branquinho Junior. "A volatilidade talvez seja o maior desafio. A exportação exige um planejamento para 30, 60 ou 90 dias. Em um cenário como o atual, de grande oscilação, os empresários estão assumindo riscos muito grandes."
Nos anos de real valorizado, entre 2% e 3% do faturamento da Cedro vinha da exportação. Com a desvalorização do real, a companhia projetou um aumento dessa fatia para 10% em 2016 e chegou a sonhar com 15%. "O volume de 10% já foi alcançado no primeiro semestre. Eu até pensei que essa projeção fosse um pouco tímida e cheguei a projetar 15%", afirma o empresário. "Agora, ela fica em suspenso. A fatia que já alcançamos pode ser considerada um bom patamar."
Na Fakini Malhas, com sede em Pomerode (SC), todas as vendas feitas com um câmbio inferior a R$ 3,50 estão representando uma perda de rentabilidade para a empresa. "Para o segundo semestre, as propostas para o mercado internacional foram feitas com um câmbio na casa dos R$ 3,50. Nesse momento, se fecharmos algum negócio, vamos levar um prejuízo", afirma Francis Giorgio Fachini, diretor comercial da empresa. "Como o volume de exportação não é tão expressivo para comprometer o nosso negócio, nós conseguimos administrar essa redução de margem momentânea." Na avaliação de André Leone Mitidieri, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o atual patamar do dólar já prejudica as exportações brasileiras. "Para reduzir os estoques acumulados, a indústria conseguia baixar o preço em dólar por causa da taxa de câmbio desvalorizada", afirma Mitidieri. "Com essa valorização recente, a margem do início do ano pode ter sido perdida."
Por ora, é difícil identificar qual é novo patamar do câmbio. Há uma conjunção de fatores internos e externos que colaboram para a valorização do real. No cenário internacional, a decisão do Reino Unido em deixar a União Europeia deve prejudicar o crescimento mundial, o que vai obrigar os principais bancos centrais do mundo a adotarem uma política expansionista. A movimentação dos principais bancos centrais indica que haverá mais dinheiro circulando em busca de altos retornos. Como o novo presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, sinalizou, na semana passada, que a taxa básica de juros (Selic) deve permanecer em 14,25% por um período mais longo do que se imaginava, a economia brasileira se tornou uma exceção em um mundo cujo juro é baixo ou até mesmo negativo.

Maior cotação do real já reduz as projeções de saldo comercial, segundo economistas

O saldo da balança comercial deverá ficar menor, neste ano, se o câmbio permanecer no atual patamar. Atualmente, os analistas esperam que o superávit fique próximo de US$ 50 bilhões. "Já é possível antever uma balança que será menor do que os US$ 50 bilhões previstos para este ano", diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) também já sinalizou que deverá reduzir a previsão para o saldo comercial deste ano, de R$ 50 bilhões para aproximadamente R$ 45 bilhões. O setor externo tem sido responsável pelas notícias mais positivas da economia brasileira. No resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, por exemplo, a queda de 0,3% foi menos intensa do que o esperado por causa da contribuição do quadro externo.
O impacto do real mais valorizado deverá se estender para 2017. O superávit do ano que vem caminha para ser menor, sobretudo porque a melhora da atividade econômica vai impulsionar a importação - no atual quadro recessivo, os saldos estão maiores porque o Brasil tem comprado pouco. "No ano que vem, os efeitos do câmbio devem acontecer de uma forma mais clara. O impacto é sempre um pouco defasado", afirma Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências.