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Cinema

- Publicada em 14 de Julho de 2016 às 22:11

Sonhos desfeitos

Certamente não é uma simples coincidência o fato de Florence Foster Jenkins, a milionária que se julgava uma grande cantora, ter uma semelhança no nome com o protagonista de um dos maiores clássicos do cinema: Charles Foster Kane, a figura central de Cidadão Kane, realizado em 1940, numa época em que aquela se destacava nos meios musicais de Nova Iorque com o seu Clube Verdi, uma fantasia para ela e uma farsa para um grupo de interessados em seu mecenato. Não se trata apenas de nomes semelhantes. Welles e seu roteirista Herman Mankiewicz criaram para o filme citado uma personagem que tem uma trajetória semelhante à da mulher que, graças à sua fortuna, realizou parcialmente seu sonho de se transformar numa diva. No filme, a mulher é forçada a enfrentar o palco para se tornar uma estrela, mesmo que não tenha talento musical. No caso, o protagonista a força a seguir carreira e tentar impor seu nome através do poder. Como curiosidade vale citar que Welles solicitou ao compositor Bernard Herrmann que encontrasse uma ópera na qual um dos atos fosse aberto com um solo de soprano, pois queria o pano subindo sendo acompanhado pela voz da esposa de Kane. Herrmann não encontrou tal ópera e, por isso, criou uma ária fictícia de uma obra chamada Salambô. A ária, numa das cenas mais citadas do filme, é assassinada pela personagem chamada Susan Alexander Kane. Mas vale lembrar que tal ária foi, muitos anos depois, gravada por Kiri Te Kanawa e atualmente, por vezes, pode ser ouvida em recitais. No filme de Welles, a plateia reage com ironia, mas o protagonista força os aplausos.
Certamente não é uma simples coincidência o fato de Florence Foster Jenkins, a milionária que se julgava uma grande cantora, ter uma semelhança no nome com o protagonista de um dos maiores clássicos do cinema: Charles Foster Kane, a figura central de Cidadão Kane, realizado em 1940, numa época em que aquela se destacava nos meios musicais de Nova Iorque com o seu Clube Verdi, uma fantasia para ela e uma farsa para um grupo de interessados em seu mecenato. Não se trata apenas de nomes semelhantes. Welles e seu roteirista Herman Mankiewicz criaram para o filme citado uma personagem que tem uma trajetória semelhante à da mulher que, graças à sua fortuna, realizou parcialmente seu sonho de se transformar numa diva. No filme, a mulher é forçada a enfrentar o palco para se tornar uma estrela, mesmo que não tenha talento musical. No caso, o protagonista a força a seguir carreira e tentar impor seu nome através do poder. Como curiosidade vale citar que Welles solicitou ao compositor Bernard Herrmann que encontrasse uma ópera na qual um dos atos fosse aberto com um solo de soprano, pois queria o pano subindo sendo acompanhado pela voz da esposa de Kane. Herrmann não encontrou tal ópera e, por isso, criou uma ária fictícia de uma obra chamada Salambô. A ária, numa das cenas mais citadas do filme, é assassinada pela personagem chamada Susan Alexander Kane. Mas vale lembrar que tal ária foi, muitos anos depois, gravada por Kiri Te Kanawa e atualmente, por vezes, pode ser ouvida em recitais. No filme de Welles, a plateia reage com ironia, mas o protagonista força os aplausos.
Uma clara coincidência é o fato de dois filmes, um realizado por um cineasta francês, Xavier Giannoli, e outro por um realizador britânico, Stephen Frears, ambos dedicados a Florence, terem sido produzidos quase ao mesmo tempo. Uma curiosidade é que, pela segunda vez em sua carreira, Frears se envolve em simultaneidade, pois em 1988 realizou uma versão de Ligações perigosas, de Chordelos De Laclos, romance epistolar que, logo em seguida, também foi filmado por Milos Forman com o título de Valmont. O filme francês tem o título de Marguerite e foi realizado com a participação da República Checa e da Bélgica. Trata-se de uma adaptação para a França dos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial. Obviamente, embora tendo como ponto de partida fatos reais, a ficção predomina. O interessante é que Giannoli procurou inspiração em outro clássico, Crepúsculo dos deuses, de Billy Wilder. Sua protagonista é, como a do filme, apoiada por um mordomo que, além de incentivar sua fantasia, procura mantê-la distante da realidade. O realizador acentua o tema da manipulação ao colocar em cena dois jornalistas, um deles anarquista militante, que vê nas atrocidades musicais da protagonista um instrumento destinado a demolir símbolos e instituições. A personagem é, portanto, não apenas vítima de suas ingenuidades, pois também se transforma em peça de uma engrenagem deletéria. A cena do espetáculo popular durante o qual a Marselhesa é a trilha sonora de uma destruição resume o filme. Mas Giannoli não esquece o valor paralelo e brinda o espectador com uma série de momentos musicais preciosos, pois também coloca em cena uma cantora de verdade. E sua cena final, quando a protagonista consegue a perfeição, é um achado.
O filme de Frears, intitulado Florence - Quem é esta mulher?, adota uma linha mais perto da realidade, sem se afastar da fantasia, animada por uma paixão pela música, que deveria manter-se no nível da admiração, mas que ultrapassa as fronteiras da racionalidade. A figura do marido que se move entre um afeto que parece sincero e interesses materiais bem claros resume a atitude de uma sociedade capaz de fechar os ouvidos para a realidade em nome de segurança material. Frears é impiedoso, mas não deixa de expressar sua simpatia por quem, de repente, se descobre vítima de uma farsa e não resiste ao impacto de tal descoberta. Em ambos os filmes, o tema da busca de um sonho e a imposição das leis do mundo é mais valioso do que o ridículo que, por vezes, é a expressão de infortúnios e desejos não concretizados.
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