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empreendedorismo

- Publicada em 05 de Julho de 2016 às 13:39

Brasileiros dão um novo significado ao desemprego e à crise


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Transformar dificuldades em oportunidades sempre foi uma marca dos brasileiros. Do cotidiano duro nas comunidades de periferia e do improviso nasceram as mais importantes expressões da cultura popular, entre elas, o samba. De alimentos descartados foi criado aquele prato que, mais tarde, se tornaria símbolo da culinária nacional: a feijoada. E hoje, em meio a uma crise econômica e política, na expectativa de driblar o desemprego e a diminuição da renda familiar, o brasileiro vê a oportunidade de investir em um negócio próprio.
Transformar dificuldades em oportunidades sempre foi uma marca dos brasileiros. Do cotidiano duro nas comunidades de periferia e do improviso nasceram as mais importantes expressões da cultura popular, entre elas, o samba. De alimentos descartados foi criado aquele prato que, mais tarde, se tornaria símbolo da culinária nacional: a feijoada. E hoje, em meio a uma crise econômica e política, na expectativa de driblar o desemprego e a diminuição da renda familiar, o brasileiro vê a oportunidade de investir em um negócio próprio.
O número de abertura de empresas bateu recorde no primeiro trimestre deste ano, conforme pesquisa da Serasa Experian. De janeiro a março de 2016, surgiram no País mais de 516 mil empresas, o que representa 7,5% acima do registrado em igual período de 2015, quando foram criadas 480.364 novos empreendimentos. Esse é o maior número de empresas já registrado no primeiro trimestre desde 2010, quando teve início a pesquisa em torno do Indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas. O recorde anterior havia sido registrado no mesmo período do ano passado.
O Rio Grande do Sul ocupa a quinta colocação entre os estados com maior criação de empresas. São Paulo esteve na liderança, Minas Gerais ficou em segundo lugar no período. Na terceira posição está o Rio de Janeiro; e na quarta, o Paraná. No acumulado de janeiro a maio de 2016, foram constituídas 51.381 empresas no Estado, conforme dados da Junta Comercial do Rio Grande do Sul (Jucergs). Deste total, 39.151 integram a categoria de Microempreendedores Individuais (MEIs).
As recentes mudanças na economia e no ambiente de negócios brasileiros são parte importante na criação de uma cultura empreendedora mais democrática, acessível à população em geral. O ingresso de uma grande parcela da população no mercado formal, a maior qualificação profissional e a criação de regimes simplificados de tributação (Simples Nacional e MEI) são alguns dos avanços nos últimos anos que contribuíram para que o empreendedorismo se fortalecesse enquanto característica dos brasileiros e brasileiras.
Agora, em vez de utilizar a rescisão para se manter até encontrar um novo emprego, mais gente tem encarado a mudança como ponto de partida para realizar um sonho: o de ter o próprio negócio. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, que acompanhou a atividade empreendedora em 60 países em 2015 (83% do PIB mundial), aponta que ter um negócio está na quarta colocação entre os maiores sonhos dos brasileiros, conforme dados levantados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).
A coragem de empreender, defende a educadora financeira Ana Paula Pregardier, está naqueles que não veem a crise apenas pelo lado negativo, "mas como uma ocasião de ruptura, mudança, julgamento". "No momento em que os países atravessam crises financeiras, que são normais e cíclicas, é importante investir em coisas que possam agregar valor e não em mais do mesmo. Inovar não quer dizer gastar mais dinheiro, mas pensar em como fazer diferente, como o cliente gostaria de receber o produto ou serviço e como ser útil e acessível", indica Ana Paula.
Outro aspecto fundamental é não ter pressa na hora de dar início às operações, complementa a técnica de atendimento do Sebrae-RS, Elisiane Paim Mota. "Notamos um aumento de pessoas desempregadas que veem no empreendedorismo uma alternativa para contornar a crise. É importante fazer um bom planejamento para que o que parecia uma boa solução não se torne um pesadelo", indica Elisiane. O número de atendimentos para pessoas que buscam orientações a fim de abrir uma empresa, de acordo com levantamento da agência Sebrae Regional Metropolitana, chegou a 2,4 mil. O desemprego, muitas vezes, é o empurrão que faltava para dar início a uma nova vida.

Principais erroscometidos pelosiniciantes

Dúvidas quanto ao cliente em potencial
Antes de abrir o próprio negócio, identifique o perfil do seu cliente, quais são seus hábitos de compra e quanto ele está disposto a pagar pelo produto ou serviço
Não tenha medo da concorrência
A concorrência sempre vai existir. Saiba com quem está competindo e procure um diferencial para não ser só mais um no mercado
Avalie quem serão seus fornecedores
Faça um balanço dos preços dos seus possíveis fornecedores, o prazo de entrega, a qualidade do produto, pois isso terá impacto direto na sua empresa
Planos de negócios são fundamentais
Verifique quanto será preciso investir inicialmente para começar a tocar a operação da empresa, se tem à disposição todo o valor de investimento e se será necessário buscar um financiamento ou crédito junto às instituições financeiras
Cuidado com o endividamento
Se for indispensável contrair uma dívida ou financiamento, avalie muito bem a taxa de juros, todas as modalidades e opções de crédito que existem no mercado, se realmente é essencial buscá-lo ou é possível começar as operações com estrutura mais enxuta
 

Setor de serviços é a preferência

 Fotos do franqueado da empresa especializada em limpeza comercial Jan-Pro, Rodrigo Uessler, para Central do Empresas sobre ?oportunidades que surgem com a crise?.     na foto: Rodrigo Uessler

Fotos do franqueado da empresa especializada em limpeza comercial Jan-Pro, Rodrigo Uessler, para Central do Empresas sobre ?oportunidades que surgem com a crise?. na foto: Rodrigo Uessler


JONATHAN HECKLER/JC
Sem necessidade de espaços para estoque, compras contínuas e serviços muitas vezes considerados essenciais, o setor de serviços é o mais escolhido por quem pretende investir na abertura de empresa em um momento de crise. Mais da metade dos novos empreendedores (63%) buscou o setor de serviços (324.984), segmento que lidera o ranking dos que mais crescem últimos seis anos.
A atividade também se destaca como a que mais tem gerado empregos em meio à crise. O mesmo ocorre em relação às franquias de serviços estão entre as que apresentam maior faturamento e que têm conquistado a preferência de quem busca investir em um novo negócio. Um dos atrativos são os custos reduzidos, já que empresas desta área dispensam espaço extra para estoque, o que reduz o custo com o imóvel.
Franquias de produtos, como roupas, cosméticos, sapatos, chocolates e bebidas, por exemplo, vão para uma lista que não é prioridade do consumidor quando a ordem é contar os gastos. Além disso, os franqueados precisam investir em compras constantes, porque necessitam de diversidade e quantidade, muitas vezes deixando o estoque "encalhado".
Esses elementos pesaram na hora de Rodrigo Uessler escolher onde aplicar uma parte da rescisão recebida após oito anos em uma grande montadora de automóveis no Estado. Uessler, assim como dezenas de colegas, foi demitido devido à crise econômica e passou nove meses desempregado.
Investir no próprio negócio em um cenário como o atual poderia ser perigoso, mas ele resolveu planejar que fazendo um bom planejamento podia transformar em uma aposta menos arriscada. "Como minha experiência de trabalho era toda como funcionário, decidi que a melhor opção seria buscar uma franquia. Fui em busca daquela que exigia um investimento inicial que não ultrapassava 30% das minhas economias, para contar com um capital de giro nos primeiros meses de operação, e que mantinha boas qualificações entre franqueados e clientes", explica Uessler.
O empreendedor também levou em consideração nas suas pesquisas quais serviços ainda não eram oferecidos em Porto Alegre. O caminho o levou a a Jan Pro, rede de franquia especializada em limpeza comercial. Antes de começar as operações, Uessler passou por um curso de formação em São Paulo e, dentro de duas semanas, estava começando a captar clientes.
Inaugurada em março deste ano, a unidade da Jan Pro na capital gaúcha administrada por Uessler se prepara para fechar o terceiro contrato de prestação de serviços e vem cobrindo o sustento do proprietário e o pagamento de dois funcionários fixos. "Ainda não é o ideal, mas estou conseguindo realizar um sonho. Se não tivesse sido demitido, talvez nunca encarrasse o desafio", declara o empresário.

Profissionalizar tarefas diárias e prazerosas pode ser ponto de partida

Ana Paula destaca que  atividades feitas cotidianamente, como cozinhar, costurar, reformar, podem ser interessantes a outras pessoas

Ana Paula destaca que atividades feitas cotidianamente, como cozinhar, costurar, reformar, podem ser interessantes a outras pessoas


FREDY VIEIRA/JC
Investir em um negócio que já conhece e gosta de executar é sempre a melhor opção, indica a educadora financeira Ana Paula Pregardier. "Muita gente tem visto que aquelas atividades feitas cotidianamente, como cozinhar, costurar, reformar, podem ser interessantes a outras pessoas", analisa. Depois de definir qual será o produto ou serviço oferecido, é o momento de pensar fora da caixa, fazer o exercício de imaginar diferenciais para aquilo que lançará ao mercado e se colocar no lugar dos clientes.
Foi o que fez Vitor Corrêa: transformou uma ideia informal, que servia apenas como fonte de renda extra, em um empreendimento formal. Depois de menos de um mês desempregado, o jovem empresário viu que se inserir novamente no mercado de trabalho está mais difícil do que antes. Mas o que, para muitos, poderia ser motivo de desespero; para ele, representou o momento de decidir entrar de cabeça naquele que antes era apenas um hobby seu e da esposa, Ane Vanessa. Começava a surgir a empresa de doces gourmet Vitane.
O capital inicial foi pequeno, em torno de R$ 300. As compras são feitas de acordo com os pedidos e com a saída dos produtos. Hoje, em torno de três meses após o início das vendas e encomendas para um público maior, "além dos amigos", o faturamento mensal do negócio é de aproximadamente R$ 2 mil - valor considerado satisfatório por Vitor.
O segredo, comenta, foi investir em marketing via redes sociais e na fidelização daqueles clientes que já compravam os quitutes enquanto era funcionário em uma papelaria no Centro de Porto Alegre. "Eu já trabalhava cercado de gente e levava alguns brigadeiros para vender. Como tenho muitos amigos no Facebook, comecei a convidar para curtirem a página e a mandar mensagens oferecendo. E vou te dizer, tem funcionado melhor do que esperávamos", comemora o agora Microempreendedor Individual (MEI). A página da Vitane conta com mais de 1 mil curtidas.
A ideia de começar a fazer os doces foi de Ane. Natural do Rio de Janeiro, ela começou a cozinhar por influência de uma amiga carioca que já comercializava para ganhar mais um dinheiro ao longo do mês. Formalizar a empresa e profissionalizar cada etapa vêm sendo os desafios da dupla.
"Quando a gente oferece um produto de qualidade, com diferencial, as pessoas se interessam. Por enquanto, estou explorando o meu bairro, a Restinga, que já conheço; e consegui colocar os doces à venda em dois estabelecimentos", festeja. Quando estimulado a pensar no futuro, ele responde sem pensar duas vezes: "nosso sonho é ter uma loja, talvez um estande em um shopping com bastante movimento".