Carolina Malta, de 18 anos, faz parte do grupo de profissionais que querem uma política de horizontalidade e não abrem mão de seus interesses próprios

Gerações X, Y e Z povoam o mercado de trabalho e têm o desafio de conviver


Carolina Malta, de 18 anos, faz parte do grupo de profissionais que querem uma política de horizontalidade e não abrem mão de seus interesses próprios

O recorte do limite de idade de cada geração é esfumaçado. Isso porque há um período transacional que leva de três a cinco anos de uma para outra. Cada uma, no entanto, é impactada por sua época. Hoje, todas essas gerações, juntas, compartilham os mesmos ambientes de trabalho e estudos. Como lidar?
O recorte do limite de idade de cada geração é esfumaçado. Isso porque há um período transacional que leva de três a cinco anos de uma para outra. Cada uma, no entanto, é impactada por sua época. Hoje, todas essas gerações, juntas, compartilham os mesmos ambientes de trabalho e estudos. Como lidar?
A geração Y se criou sem medo de ser feliz, porque entrou no mercado de trabalho quando o Brasil flertava em ser potência e havia pleno emprego, em meados de 2010. A geração anterior, chamada de X - nascida no meio da década de 1960 até o fim da 1970 foi talhada na obsessão pelo aprofundamento (temos aí os jovens das Diretas Já).
Quem traça esses perfis é o professor Ilton Teitelbaum, 47 anos, coordenador do Núcleo de Tendências e Pesquisa da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), que, desde 2012, estuda gerações. Seu foco é o comportamento da população entre 18 e 34 anos.
Mesmo com características distintas, no entanto, Teitelbaum sustenta que rotular sempre é complicado. "Todo mundo é gente, todo mundo acaba ficando um pouco parecido em certa altura da vida", resume. A mudança vigente está no contexto social que as novas gerações trazem, pautado por mais questionamento. "E o questionamento é um grande caminho sem volta", acredita. Há, hoje, uma maior flexibilidade, a começar pelo conceito de família.
Alguns fenômenos atingem a todos, como o excesso de "palco" nas redes sociais. "Dedicamos pouco tempo para conversar", exemplifica. Agora, nos negócios, o desafio é entender como fazer essas gerações operarem juntas.
Algumas empresas já trabalham para movimentar essa mistura. Segundo Niarchos Pombo, 28, líder de Diversidade da SAP na América Latina, diversidade não é mais somente uma questão de postura empresarial, mas um diferencial competitivo. A multinacional tem um time só para trabalhar questões relativas às gerações. Uma das ações é o mentoring reverso, onde profissionais da geração Y/millenium repassam aos baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964) mentorias sobre como a sua geração trabalha e percebe o mundo à sua volta. Usar o celular em uma reunião, por exemplo, para o baby boomer soa como falta de interesse. Para o millenium é mais uma forma de estar engajado.
As formas de entendimento de hierarquia também divergem. "Como os valores das gerações são muito diferentes entre si, isso pode impactar no dia a dia do trabalho", pondera Pombo. "A geração X aspira estabilidade, teve paciência para construir carreira e é extremamente patrimonialista. A Y já é mais multifacetada, faz coisas diferentes, quer acumular experiências, e não patrimônio", retrata Teitelbaum.
A SAP executa, no México, um projeto piloto com um grupo de empregados formado por todas estas gerações. No ano passado, a mesma experiência foi feita só com milleniums. A ideia deste grupo é prever as melhores práticas para expandir o programa para toda a América Latina. Além disso, em nível global, a empresa opera uma linha de trabalho flexível, orientada pelas etapas da vida que o funcionário esteja passando.
"As gerações novas vêm para agregar mais itens ao cardápio, e o desafio é para todos", ressalta Teitelbaum. A solução, para o pesquisador, está na empatia. "Não só entender o diferente, mas se colocar no lugar dele."

Geração X - entre 34 e 49 anos

José Renato Hopf, 47 anos, "millenium vintage", brinca ele, fundou a GetNet em 2003, empresa líder em pagamentos eletrônicos na América Latina, da qual se desfez em 2014 numa transição de
R$ 1,1 bilhão para o Banco Santander. A partir daí, fundou a 4all, plataforma de consumo mobile onde responde como CEO. "Eu sou muito inquieto, não consigo fazer nem uma semana sabática", conta. No dia da entrevista, praticou tênis às seis e meia da manhã. "Gosto muito de vários esportes, mas o tênis requer que apenas haja mais outro maluco para jogar comigo neste horário", diverte-se. Casado e com dois filhos, ele faz parte desta geração X, que é mais estruturada pessoal e profissionalmente.
Para Zé Renato, como é chamado, o principal vetor de inovação hoje não é a nova tecnologia, mas sim os modelos de negócio disruptivos que surgem a partir dela (a exemplo do que fizeram Uber e Airbnb). Neste sentido, não há o que temer por vanguardismo tecnológico. "Eu acho que a sociedade está num momento muito bacana mundialmente, onde as empresas estão tendo que se adaptar a uma realidade que não é mais apenas global, e sim hiperconectada em tempo real", salienta. Zé Renato participou da Feira de Carreiras da Pucrs, em maio, onde fez o que acha fundamental: que as diferentes gerações troquem ideias e experiências.
"Eu gosto de falar com as pessoas, de construir coisas a várias mãos", afirma o executivo. Ele enxerga este momento conectado - em que mais impactada vive a geração Z - como uma mudança que atinge a sociedade como um todo. "Quem vive a geração X tem algumas bases um pouco mais sólidas. Mas isso tem muito mais a ver com uma questão de experiência também", pontua.

Geração Y ou Millenium - nascidos nos anos 1990 até meados dos anos 2000

A maior parte da geração Y, ou millenium, ainda mora com os pais (59,7%), adia as possibilidades de se casar e ter filhos e entende inúmeras maneiras de constituição de família. Além disso, 75% destes jovens estão interessados em atingir um alto patamar em suas carreiras. A maneira de fazer isso, no entanto, é diferente: com mais independência e com espírito de mudança. Os milleniums são os mais insatisfeitos com o estilo de vida que levam, e os mais ansiosos também. Mas 47,9% deles quer mesmo é ser feliz no trabalho. Eles representam 23% da população brasileira atualmente.
O paulista Eduardo Migliano, de 27 anos, é o retrato desta exigência por mudança em busca de satisfação. Inquieto, criativo e muito ativo, ele é o fundador da plataforma de oportunidades 99Jobs, empresa criada em 2013 que, anualmente, cresce mais de 100% e fatura na casa dos R$ 4 milhões. O norte que ele encontrou para emplacar no empreendedorismo (antes da 99 teve outras tentativas frustradas) foi justamente a relação de amor e plenitude que buscava com o trabalho. Com viés colaborativo e o slogan "Faça o que você ama", a empresa atinge 800 mil usuários, entre contratantes e profissionais, que se comunicam através de valores comuns. O propósito é unir organizações e pessoas que se identifiquem para trabalhar juntas, e que elas possam fazer o que gostam.
Migliano é um defensor das decisões feitas pelo coração. Para ele, sinceridade emocional é algo difícil, porém faz muita diferença. "Aprendi com o exemplo do meu pai que o trabalho é a causa que você quer no mundo. Como o mundo fica melhor baseado nas oito ou 10 horas que a gente fica trabalhando?", questiona.
 

Geração Z - de 12 a 21 anos

"Eu tinha uma reunião hoje ao meio-dia e simplesmente não dormi", conta a estudante de Relações Internacionais Carolina Malta (foto principal da matéria), 18. Os membros desta geração já nasceram nativos na tecnologia e, por isso, são mais conectados e voltados para o funcionamento do mundo digital. Tanto na rede quanto na TV, porém, esta geração está mais interessada em entretenimento do que em qualquer outra coisa. Segundo pesquisa do Ibope, 71% deles usam frequentemente as redes sociais. Os preferidos de Carolina são o WhatsApp e o Snapchat. Atualmente, a estudante assume a gerência de comunicação do Nexa, grupo ligado à Junior Achievement, e diz que sempre sonhou em ter o negócio próprio. "Passa muita coisa pela minha cabeça. Já pensei até em algum dia abrir uma transportadora", diverte-se.
A rotina dela é bastante agitada. "Eu sou muito exigente comigo, mas gosto de um trabalho horizontal, onde todo mundo pega junto", aponta. Não é à toa que a maturidade é a marca da Z: Carolina divide-se entre as aulas da faculdade, o trabalho no Nexa e a escola de ballet, onde pratica e dá aulas. Daqui cinco anos, ela se vê formada na faculdade, trabalhando em uma empresa que tenha uma política que se identifique e que possa manter vínculo com as coisas que gosta. E, assim como 66% deles, Carolina anseia por viagens para o exterior.