Tema que sacudiu Hollywood neste ano, quando só artistas brancos receberam indicações à cerimônia do Oscar, a produção cinematográfica negra dos Estados Unidos é destaque em mostra na Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro. Faça a coisa certa apresenta 11 longas-metragens que formam um recorte da cultura negra urbana na produção audiovisual norte-americana. A seleção pode ser assistida em sessões às 15h e 19h, até domingo.

A lista de filmes inclui desde representantes do movimento conhecido como blaxploitation, como Rififi no Harlem, de Ossie Davis; Shaft, de Gordon Parks; e Super fly, de Gordon Parks Jr; até títulos contemporâneos que obtiveram destaque internacional, como Creed - nascido para lutar, de Ryan Coogler; Straight Outta Compton - A história do N.W.A, de F. Gary Gray; e Selma: uma luta pela igualdade, de Ava Duvernay. Confira a seguir alguns destaques.

Lançado em 1989, Faça a coisa certa é um representante do início da carreira do cineasta Spike Lee - que recebeu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original por este trabalho. O enredo tem como ponto central uma pizzaria de um ítalo-americano localizada em uma comunidade onde predominam negros e latinos.

Na trama, Sal, o proprietário, decora as paredes do estabelecimento com fotografias de ídolos do esporte e cinema que compartilham com ele a mesma ascendência. Entretanto, no dia mais quente do ano, um ativista local reclama que não existem negros nesta parede da fama - e este é o estopim para um efeito dominó. Até hoje o longa-metragem é frequentemente incluído na lista de pontos altos da cinegrafia do realizador, que contempla também filmes como Malcom X, sobre o ativista político homônimo.

 

Forte na década de 1970, o cinema que ficou conhecido como blaxploitation tem alguns ícones presentes na seleção em cartaz na P. F. Gastal. Shaft, por exemplo, coloca em foco um detetive contatado pelo líder da máfia negra. Ele deve encontrar a filha do chefão, sequestrada pelos italianos. A partir daí, o protagonista se vê no meio de uma guerra de gangues. Dirigido por Gordon Parks e protagonizado por Richard Roundtree, o título teve sequências e recebeu um Oscar de trilha original.

Por outro lado, a produção negra da época também deu origem a obras como O matador de ovelhas, na contramão das caricaturas ou estereótipos. Com assinatura de Charles Burnett, o longa-metragem recebeu o prêmio da crítica no festival de Berlim. Já a trama acompanha um pai de família que trabalha em um abatedouro. Ele permanece tranquilo mesmo com o casamento prejudicado pela rotina e com os filhos à beira da marginalidade.

 

Tanto Straight outta compton - A história do N.W.A quanto Creed - nascido para lutar passaram pelo circuito comercial entre o final do ano passado e o início de 2016. E foram dois dos nomes mais citados na polêmica racial que envolveu a mais recente edição do Oscar - sem negros concorrendo.

O primeiro longa-metragem conta a trajetória do grupo de gangsta rap N.W.A., que revelou nomes como Eazy-E, Ice Cube e Dr. Dre. Já o segundo é uma sequência da franquia Rocky - desta vez o protagonista é Adonis, um jovem que convence o célebre boxeador a treiná-lo.

Ainda em 2015, boa parte da crítica louvou as atuações de O'Shea Jackson Jr (no papel de Ice Cube) e Michael B. Jordan (de Creed). No fim, os dois títulos receberam apenas uma indicação aos prêmios da Academia cada - roteiro original e ator coadjuvante. E, ironicamente, os roteiristas do primeiro filme e o intérprete indicado pelo segundo são brancos.