Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

comer bem

- Publicada em 22 de Maio de 2016 às 17:57

O que você cozinhará?

Patricia Abbondanza percebe que interesse das pessoas por cozinhar aumentou muito; já a chef Arika Messa observa que programas de gastronomia ajudam a reaprender a comer

Patricia Abbondanza percebe que interesse das pessoas por cozinhar aumentou muito; já a chef Arika Messa observa que programas de gastronomia ajudam a reaprender a comer


DEDO DE MOÇA/DIVULGAÇÃO/JC E DENISON FAGUNDES/DIVULGAÇÃO/JC
Patricia Abbondanza, chef e jornalista, deu início às aulas de culinária da Dedo de Moça, sua empresa, em 2008. A intenção era ensinar a cozinhar em casa. Em 2010, colocou no ar um blog com receitas práticas e possíveis de fazer, uma ferramenta para democratizar o comer bem. Desde então, tem acompanhado - pelo sucesso e crescente número de acessos ao portal na internet - que o interesse das pessoas de ir para a cozinha só aumenta. "Eu entendo este movimento como uma redescoberta do prazer de cozinhar. Ao mesmo tempo, percebo que existe uma busca por uma alimentação mais saudável. Nesta batalha contra sódio e conservantes, as pessoas têm preferido produzir as próprias refeições", comenta.
Patricia Abbondanza, chef e jornalista, deu início às aulas de culinária da Dedo de Moça, sua empresa, em 2008. A intenção era ensinar a cozinhar em casa. Em 2010, colocou no ar um blog com receitas práticas e possíveis de fazer, uma ferramenta para democratizar o comer bem. Desde então, tem acompanhado - pelo sucesso e crescente número de acessos ao portal na internet - que o interesse das pessoas de ir para a cozinha só aumenta. "Eu entendo este movimento como uma redescoberta do prazer de cozinhar. Ao mesmo tempo, percebo que existe uma busca por uma alimentação mais saudável. Nesta batalha contra sódio e conservantes, as pessoas têm preferido produzir as próprias refeições", comenta.
A Dedo de Moça, recentemente, passou a investir também em pesquisa de tendências. E, antes mesmo de qualquer dado consolidado, Patricia já aposta em alguns comportamentos. "Percebemos que existe um resgate da cozinha. O que observamos é que os avós sempre cozinharam; os pais, não. As pessoas têm menos tempo e, por isso, apostam na praticidade. No entanto, quando a gente busca conhecer o perfil do nosso leitor do blog, é a mulher de 25 a 35 anos - e muitas delas já são mães -, que trabalham fora e também precisam desta praticidade, mas perceberam que ser prático demais implicou numa falta de saúde", reflete.
Patricia reconhece o bom momento da gastronomia no Brasil e no mundo. "Os programas de culinária nos canais de televisão aberta - o que antes era privilégio da tevê por assinatura - colocam o tema no mainstream. Os jurados do MasterChef tornam-se celebridades e formam opinião. E isso impacta em casa: as pessoas passam a olhar com mais atenção o que colocam à mesa."
A chef Arika Messa, do restaurante Beta Food, participou da primeira edição do The Taste, em 2015, um dos programas de maior audiência do Canal GNT. E, na frente das câmeras, aprendeu a trocar figurinhas com ícones da gastronomia, como Claude Troigrois, André Mifano e Felipe Bronze, outros cozinheiros de todo o Brasil e também com amadores. "A cozinha pode ser uma válvula de escape. Quando professora, conheci muitos advogados, médicos e publicitários que encontravam seu momento do dia na cozinha. E pessoas que gostam de comer, aquelas que prestam atenção naquilo que estão levando à boca, podem cozinhar muito bem", comenta. Os programas de gastronomia aproximam a população da comida, mas, mais do que isso, ajudam a reaprender a comer. "O 'faça você mesmo' nunca deveria ter morrido. Na Europa, o cozinheiro é considerado um artesão. Eu, por exemplo, tive disciplina de técnicas domésticas na escola. E aí aprendi a cozinhar. Meu pai e meu avô sempre tiveram sítio, e toda a família comia frutas direto do pé, colhia a salada fresquinha. Eu incentivo minha filha, Isis, a comer bem, a colher os tomatinhos da nossa horta direto do pé, faço o lanchinho da escola todos os dias. É preciso entender que comer bem é vital, bom para a saúde e também consciência e cidadania."

Ciclo do alimento e escolha dos ingredientes

 Abertura - Diana Werner - Crédito Divulgação Isla Sementes

Abertura - Diana Werner - Crédito Divulgação Isla Sementes


ISLA SEMENTES /DIVULGAÇÃO/JC
Colocar a semente na terra. Esperar germinar. Regar e ver crescer. Colher, preparar, servir e degustar. Essa é a vida de quem mora no campo. E a cidade costuma desconectar as pessoas do ciclo da natureza. "Quando a gente planta, passa a entender um pouco esse tempo e também a vida do produtor que cuidou por meses daquela planta no campo", observa Diana Werner, presidente da Isla Sementes, empresa gaúcha de sementes de hortaliças, flores e temperos que incentiva uma mudança de hábito.
Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) impressionam: os brasileiros estão longe de atingir a recomendação mínima de consumo de 400 gramas de frutas, folhas e legumes frescos diversificados e coloridos por dia. A média fica em 130 gramas.
A hashtag "vamos comer melhor" (#vamoscomermelhor), nas redes sociais, e as ações envolvendo chefs de todo o Brasil colocam a culinária como ferramenta de transformação. "Percebemos a gastronomia como possibilidade de fazer entender o ciclo do alimento. Os chefs de cozinha estão cada vez mais conscientes e relacionando-se melhor com os ingredientes." Cozinheiros de todo o Brasil, anualmente, são convidados a participar da "Colheita dos Chefs", um momento para entrar na horta para vivenciar um pouquinho da vida do campo.
O boom da gastronomia faz pensar também nas escolhas dos ingredientes e, consequentemente, no ciclo dos alimentos. "Há 10 anos, já se falava muito em hortas urbanas, mas, sem dúvida, nos últimos cinco anos, mais sementes foram colocadas no chão. Não saberia dizer se as pessoas cozinham mais porque plantam mais, ou se elas plantam mais porque cozinham mais. O que fica bem claro é uma busca por reconecta-se", avalia.

Evolução do paladar

Experimentar-se na cozinha ajuda a evoluir o paladar. É o que acredita Dirceu Scottá, presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). E, se somando à tendência da valorização do produto local, surge uma oportunidade interessante para o mercado vitivinícola: investir em qualidade. "Está tudo relacionado. Nós temos um consumidor bebendo menos volume, mas mais qualidade. A evolução do paladar, que se dá também por esse movimento de experimentação na cozinha, traz critérios para a escolha do vinho que irá acompanhar a refeição", reconhece.
Para Scottá, a revolução do vinho brasileiro acompanha o boom da gastronomia, que se deu nos últimos 10 anos. "Conseguimos alcançar um padrão de qualidade e excelência para o espumante brasileiro. Agora, nosso foco é chegar neste nível com os vinhos brasileiros. E estamos no caminho. Com frequência, fazemos degustações às cegas e, sem rótulo, os produtos surpreendem. Há uma transformação cultural de valorização do nosso terroir, e isso se torna uma importante oportunidade", avalia.