A crise política e econômica não deu trégua e mais uma vez contribuiu para o mau desempenho da indústria e dos serviços em todo País. No Rio Grande do Sul, o alento vem do campo, com ótima safra de soja e aumento de 20 mil postos de trabalho com carteira assinada no primeiro trimestre. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria nacional reduziu sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) em quase todos os estados, inclusive no Rio Grande do Sul. O estudo revela ainda que de 2010 a 2013 - último dado disponível para análise - a parte da indústria gaúcha no PIB do Rio Grande do Sul, que é de 24,3%, registrou queda de 3,6 pontos percentuais.
A redução de produtividade das cadeias automotiva, máquinas e equipamentos e construção civil atingiu a demanda da indústria de borracha, que registrou retração pelo segundo ano consecutivo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção e venda de pneumáticos e artefatos encolheu 10% em 2015 e as projeções para 2016 não são animadoras. Além da produção, as exportações do segmento também registraram queda no ano passado.
No setor de serviços, outro que sofreu com a recessão, a euforia provocada pela Copa do Mundo no Brasil, quando os investimentos no segmento foram bastante agressivos, cedeu lugar a uma nova realidade na qual inovação e criatividade são essenciais para driblar a crise, atrair e fidelizar o cliente. Pesquisa elaborada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que 85,9% dos brasileiros foram obrigados a ajustar o orçamento doméstico para se defender dos efeitos da crise.
Os supermercados gaúchos também sentiram os efeitos. No entanto, segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), o setor já vinha se preparando para essa retração.
"Todos os estados estão caindo, não é um movimento específico do Rio Grande do Sul", diz a economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Cecília Hoff. Apesar do cenário difícil, a comparação de trimestre contra trimestre mostra uma estabilização na queda. "Está parando de cair, assim como a confiança do brasileiro", sinaliza Cecília, lembrando que a indústria parou com o ciclo de redução de estoques. Para ela, a recuperação só deve vir com uma política expansionista do governo federal, que inclui baixar os juros e liberar o crédito. "O câmbio parece ter se estabilizado em menos de R$ 4,00, o cenário internacional está mais favorável e isso deve ajudar a reduzir a inflação", explica Cecília.
Quem está se dando bem
Entre os destaques positivos da indústria gaúcha está a celulose, que em 2015 registrou crescimento de 37,9% e, somente em janeiro deste ano, aumentou 86%, resultado da ampliação da capacidade da Celulose Riograndense de Guaíba. Os resultados refletem os esforços do segmento em focar no mercado externo, estratégia para potencializar as exportações e manter o desempenho. Outro setor que vai bem é o coureiro-calçadista devido ao câmbio, que facilita as exportações, e à abertura do mercado da Argentina. Sede de mais da metade das indústrias de couro do País, a indústria gaúcha é reconhecida pela capacidade de atender a todos os segmentos da cadeia. Apesar de liderar as exportações, o setor não passou ileso à crise e registrou queda de 5,4% no acumulado de 2015 do volume da indústria de couro em geral.
A indústria gaúcha em números
- PIB industrial: R$ 69,5 bilhões
- Participação no PIB industrial no nacional: 6,1%
- Número de trabalhadores: 901.813
- Participação da indústria no PIB do Estado: 24,3%
- Principais setores:
- Construção (21,7%), alimentos (11,5%), veículos automotores (9,5%)
- Exportação do setor: US$ 8,006 bilhões em 2015
- Salário médio: R$ 2.024,70 (10,5% abaixo da média nacional)
Composição Setorial do RS
- Construção: 21,7%
- Alimentos: 11,5%
- Veículos automotores: 9,5%
- Máquinas e equipamentos: 8,2%
- Químicos: 5,8%
- Serviços industriais de utilidade pública: 5,4%
- Couros e calçados: 4,9%
- Produtos de metal: 4,9%
- Fumo: 3,4%
- Borracha e material plástico: 3,2%
- Móveis: 3%
- Minerais não metálicos: 2%
- Metalurgia: 1,8%
- Bebidas: 1,8%
- Derivados de petróleo e biocombustíveis: 1,8%
- Outros equipamentos de transporte: 1,5%
- Máquinas e materiais elétricos: 1,5%
- Produtos diversos: 1,3%
- Celulose e papel: 1,2%
- Manutenção e reparação: 1,1%
- Madeira: 0,9%
- Informática, eletrônicos e ópticos: 0,9%
- Vestuário: 0,9%
- Têxteis: 0,6%
- Impressão e reprodução: 0,5%
- Extração de minerais não-metálicos: 0,3%
- Farmacêuticos: 0,2%
- Extração de carvão mineral: 0,2%