Sistemas de iluminação inteligentes, equipamentos que permitem identificar remotamente se um bueiro está entupido ou microfones instalados em semáforos que, pela curva do som, conseguem descobrir e sinalizar para a central de controle se houve acidente de trânsito nas proximidades.
São ideias criativas, tecnologias muitas vezes simples e desenvolvidas por startups. E que podem ajudar a mudar a cara das cidades brasileiras nos próximos anos. Até 2030, a expectativa é que o Brasil tenha pelo menos 20 cidades inteligentes, projeta o presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas, André Gomyde Porto. "Não 100% inteligentes, porque, para isso, precisaríamos de mais tempo, mas pelo menos com as PPPs de iluminação feitas para podermos ter uma infraestrutura de Smart Grid, os living labs iniciados e ecossistemas de inovação formados", diz.
Ele esteve em Porto Alegre na sexta-feira para participar da primeira edição do encontro Falando de Inovação, realizado pela prefeitura de Porto Alegre através do Gabinete de Inovação e Tecnologia (Inovapoa).
Um dos pontos determinantes para se avançar nesses projetos são as parcerias entre o poder público e a iniciativa privada. Na prática, isso significa as prefeituras entregarem para as empresas a gestão do seu parque de iluminação pública.
Porto comenta que existem no mercado modelos extremamente avançados, como a telegestão e telemetria, em que é possível ter o controle de cada poste da cidade por meio de uma central de comando. "Um profissional monitora tudo e se, ao realizar um teste pelo computador às 11 horas, ele identificar uma lâmpada queimada, tem até as 18 horas para solicitar a troca, evitando a perda da qualidade no parque à noite", relata.
Como esses sistemas inteligentes permitem o controle em todos os pontos, é possível fazer uma programação para que regiões dos municípios como a área administrativa, por exemplo, que funciona durante o dia, tenham o nível de iluminação à noite diminuído, gerando uma redução de custos.
Tecnologia existe, comenta o presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas. O que falta é uma legislação que apoie esses novos projetos e pessoas capacitadas. "Enquanto não olharmos as coisas no longo prazo, vai ser complicado. Por isso, estamos perturbando governos e promovendo debates para esse tema ganhar corpo na sociedade, até as pessoas entenderem que esse é o caminho", relata.
Porto Alegre é uma das cidades que estão avançando nesses projetos, a partir de iniciativas conduzidas por instituições como o Inovapoa, POAdigital e Procempa. Para Porto, a cidade certamente é uma das 20 que, nos próximos anos, vão estar liderando essas mudanças.
A secretária do Inovapoa, Maria Fernanda Bermúdez, diz que a Capital está no caminho, mas aponta alguns passos necessários para a evolução. "A cidade precisa investir na qualificação dos servidores para essa nova realidade tecnológica, em infraestrutura de dados abertos e no fortalecimento da rede da economia colaborativa."
Brasil ainda não 'perdeu o bonde', diz especialista
Existem países muito mais avançadas que o Brasil quando o assunto é a criação de cidades inteligentes. O líder de tecnologias emergentes da PwC, Norberto Tomasini Junior, porém, observa que o desenvolvimento desses projetos ainda é um desafio no mundo todo. "Não estamos perdendo o bonde, mas temos que avançar e ter capacidade de estabelecer parcerias público-privadas para criar um ecossistema que suporte as cidades digitais", reitera.
Empreendedores já estão pensando e criando aplicativos que ajudem cidades em áreas como segurança, saúde, transporte e educação. "Temos que apresentar condições de termos mais startups pensando nisso. E fazer com que os cidadãos que estão de olho no que acontece nas ruas possam ter conexão com prefeituras para ajudar a resolver problemas", sugere.