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gestão

- Publicada em 04 de Maio de 2016 às 09:53

Ombudsman intermediará investimentos estrangeiros

Figura será uma espécie de 'janela única' para busca de informações

Figura será uma espécie de 'janela única' para busca de informações


GOTCREDIT VIA VISUALHUNT /DIVULGAÇÃO/JC
O Brasil se prepara para criar uma instituição que pode acelerar o ritmo de investimentos estrangeiros no País. Desde 2015, foram assinados sete acordos de cooperação internacional que preveem a adoção de um ombudsman para investidores estrangeiros. Essa figura, a ser criada por um decreto presidencial, atuará como mediador entre investidores já instalados ou potencialmente interessados e autoridades brasileiras para resolver entraves.
O Brasil se prepara para criar uma instituição que pode acelerar o ritmo de investimentos estrangeiros no País. Desde 2015, foram assinados sete acordos de cooperação internacional que preveem a adoção de um ombudsman para investidores estrangeiros. Essa figura, a ser criada por um decreto presidencial, atuará como mediador entre investidores já instalados ou potencialmente interessados e autoridades brasileiras para resolver entraves.
O ombudsman será uma espécie de "janela única" à qual os estrangeiros poderão bater para buscar informações e defender direitos junto ao governo brasileiro, explica Anamelia Soccal Seyffarth, secretária executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e possível futura ombudsman. O profissional atuará em momentos nos quais os investidores demandam mudanças normativas, legais ou de políticas públicas. Há alguns meses, por exemplo, um grupo alemão conseguiu influir em mudanças de leis no Congresso para investir em energia solar e eólica aqui, mas sem amparo institucional oficial.
Para Diego Bonomo, gerente executivo de Comércio Exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o ombudsman será um primeiro passo em direção a um modelo de maior governança para definição de políticas de investimento. Isso melhora as condições de aplicação de recursos no momento em que o País perdeu o grau de investimento e passa por uma crise política. "O Brasil precisa olhar mais para o mundo. Esta é uma agenda positiva para aumentar a confiança no País e que pode ser importante para a retomada do crescimento, por exemplo, viabilizando consórcios entre empresas", diz Anamelia.
Esse acordos ainda precisam ser ratificados pelo Congresso, mas a adoção do ombudsman independe do ocupante da presidência da República, uma vez que se trata de previsão em acordo internacional. Na proposta já aprovada pela Camex, e que deve ser enviada em breve à Casa Civil para virar decreto, o ombudsman será o secretário executivo da própria Câmara, um colegiado de sete ministros.
Membros do atual governo e do mercado reconhecem também que a posição do ombudsman, uma espécie de superministro para investimentos, se encaixa nos planos do vice-presidente Michel Temer para o ex-ministro e ex-governador Moreira Franco, em um cenário de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um dos mais próximos auxiliares de Temer, Moreira não será ministro em um eventual governo do amigo de décadas, mas um assessor especial de formulação de políticas públicas em parceria com a iniciativa privada. Ele coordenará um grupo responsável por atender às demandas das empresas, principalmente nas áreas de regulação, concessões e desburocratização - propostas conectadas à medida aprovada na última reunião da Camex.
No mês passado, o ombudsman para investimentos estrangeiros da Coreia do Sul, Jeffrey I. Kim, esteve no Brasil para apresentar sua experiência a governo e empresariado. Ele explicou que, tendo conexões diretas com o gabinete presidencial, atua como um superministro, convencendo setores do governo a agir de forma mais favorável à empresa de fora ou conversando com os estrangeiros sobre as limitações legais e regulatórias do país em questões tributárias, trabalhistas, ambientais, entre outras. "O ombudsman resolve problemas antes de eles crescerem e se tornarem questões diplomáticas", explica Kim.
No Brasil, o profissional servirá para manter o debate sobre políticas e ações voltadas à atração de investimento direto de todo tipo, seja em infraestrutura ou indústria. Na Coreia do Sul, apesar de não ter o poder para mudar normas, o ombudsman pode exigir de todas as demais autoridades uma resposta em até sete dias de questões feitas pelos investidores estrangeiros. Aqui, os prazos ainda estão em discussão.
No caso do Brasil, inicialmente, o ombudsman atenderá a empresas dos países com os quais foi celebrado um dos sete Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFIs), entre os quais estão os países da Aliança do Pacifico (Peru, Chile, Colômbia e México), importantes investidores no Brasil e receptores de investimento brasileiro, além de Angola, Malaui e Moçambique.
Para a gerente de investimentos da Apex-Brasil, Maria Luisa Cravo, os investimentos que migram entre Brasil e México devem ser os mais beneficiados inicialmente com o ombudsman. Isso porque os acordos preveem que haja ombudsmen nos países que têm acordos com o Brasil, como forma de beneficiar empresas brasileiras. Também por isso, os ACFIs tiveram apoio e estímulo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que quer reduzir os riscos políticos para investidores.
Segundo Anamelia, o Brasil vem firmando acordos de facilitação de investimentos, e o ombudsman é peça importante nesse processo, atuando para cuidar que os investimentos feitos no País permaneçam aqui. "O Brasil reluta um pouco em mudar a legislação por causa dos estrangeiros, mas temos que analisar nossas leis com uma dimensão econômica", alega. A partir do momento em que há licitações e concessões, afirma a executiva, o interessado questionará a segurança jurídica e acordos trabalhistas, por exemplo.

O exemplo da Coreia do Sul

Segundo o ombudsman da Coreia do Sul, Jeffrey I. Kim, quem ocupa o posto deve ouvir reclamações e buscar soluções.
Qual é a importância do "ombudsman"?
Jeffrey I. Kim - A Coreia do Sul se desenvolveu rapidamente, e o país enriqueceu com ênfase em investimentos externos. Mas, como isso foi rápido, as coisas não estavam tão preparadas do nosso lado, e os investidores se desapontavam com problemas inesperados. Eles tentavam resolvê-los, mas nem sabiam como. O ombudsman atua antes de os problemas escalarem.
Qual é o seu trabalho?
Kim - É ouvir as reclamações e pedidos e daí buscar o que deve ser feito para resolver os problemas internamente. Se você quer acelerar o seu crescimento, com industrialização e tecnologia, é preciso acelerar os investimentos.
Nós já fazemos "road shows" para atrair investimentos.
Kim - Você sai e explica seu ambiente de negócios, deixa eles se interessarem, mas isso não é tudo. Isso é parte da propaganda. Você dramatiza as coisas boas do seu país, da sua gente, mas o mundo real é muito diferente. Quando eles começam a vir ao país, surgem vários problemas inesperados.
Pode citar uma medida adotada pelo senhor?
Kim - Muitas leis são feitas muito rapidamente, sem dar tempo para todos a conhecerem. Por isso criamos em nosso site uma área com resumos traduzidos de projetos de lei e normas. Os comentários que recebemos vão para as agências, que são obrigadas a respondê-las. Já aconteceu de projetos caírem assim.

Camex aposta em parcerias

Para Anamelia Soccal Seyffarth, secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), o ombudsman vai viabilizar parcerias entre empresas nacionais e estrangeiras.
Por que o Brasil adotará um "ombudsman"?
Anamelia Soccal Seyffarth - O Brasil vem firmando acordos de facilitação de investimentos. O ombudsman é peça importante nesse processo, atuando para cuidar do investimento feito no país, para que ele permaneça aqui.
Isso exige mudança de postura do governo?
Anamelia - O Brasil reluta um pouco em mudar a legislação por causa dos estrangeiros. Mas temos que analisar nossas leis com uma dimensão econômica. Se estou fazendo licitações e concessões, o interessado vai querer saber de segurança jurídica, acordos trabalhistas.
Qual vai ser a mudança prática?
Anamelia - Hoje o sujeito vem com uma reclamação e fica batendo em ministérios, convoca sua embaixada. Outra coisa é eu saber que tem dezenas de pessoas com potencial de investir aqui. O conselho vai avaliar: "Temos que fazer isso aqui andar". Ou eu vou perceber que, resolvendo isso, eu posso descobrir também investimentos de brasileiros. Eu vou viabilizar consórcios, joint ventures.
Qual será o custo da estrutura?
Anamelia - Boa parte da estrutura pode ser absorvida de outros órgãos. É algo novo, mas o custo é pequeno perto do retorno.