Desde o final do ano passado, os supermercados gaúchos já sentiam os reflexos da crise financeira e a mudança de comportamento do consumidor. Agora, não é mais só neste setor que as compras diminuíram de volume e alguns produtos foram colocados de lado. O princípio da primeira necessidade vale também para os frequentadores das feiras livres: o movimento não mudou, mas os gastos, sim.
A mudança mais significativa está nas escolhas dos consumidores. Os comerciantes continuam vendendo os produtos de primeira necessidade, mas o que é dispensável sai da lista de compras. A feirante Diana Kilpp observa essa tendência. Segundo ela, as pessoas continuam comprando legumes e frutas. "Isso não mudou. O que deixam de lado é o supérfluo."
Segundo avaliação dos dirigentes das associações das feiras de Porto Alegre, a venda em comparação aos supermercados está aumentando. Eles garantem que alguns produtos chegam a ser 30% mais baratos e que os preços dos feirantes estão mais competitivos. Essa conclusão é baseada na venda dos produtos que caracterizam as feiras, ou seja, as frutas e as verduras.
Antonio Bertaco, diretor de divisão de fomento à agropecuária da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic), afirma que a avaliação considera esses os produtos "carros-chefes". Segundo ele, os supérfluos não entram nesse parecer. "Esses itens não representam a finalidade da feira, que é a comercialização de produtos agropecuários in natura."
A dica do Movimento das Donas de Casa e Consumidores é pesquisar e substituir produtos. "Não consumir os produtos de valor mais elevado pode forçar a modificação de preço", acrescenta o presidente da instituição, Cláudio Pires Ferreira, ao destacar que a alta é generalizada e leva o consumidor a abrir mão de algumas compras.
Apesar de possuírem mais opções para driblar a crise e conquistar o consumidor, os supermercados gaúchos registram queda de 1,91% em 2015, segundo dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Os pequenos e grandes supermercados sofrem mais, os médios apresentam melhor desempenho devido à proximidade das pessoas. Antonio Longo, presidente da Agas, relata que o consumidor está indo mais vezes às lojas e não excluiu totalmente os produtos supérfluos do seu orçamento. "As pessoas estão intercalando esses itens em suas listas de compra; continuam comprando o chocolate, mas em uma periodicidade maior", exemplifica.
Longo afirma que as empresas não estão repassando a necessidade total de aumento em razão da perda de poder aquisitivo do consumidor e indica que não é mais inflação, e sim recessão econômica. Para o dirigente, o consumidor está mais criterioso e exigente, fazendo valer o seu dinheiro.
Mudança mais significativa está na escolha dos produtos, constata Diana
JONATHAN HECKLER/JC
Severina Schneider, frequentadora da feira, conta que considera o preço muito melhor. Mesmo com a crise, ela afirma: “Comprar a gente tem que comprar né”. Apesar da mudança no comportamento dos clientes, nem todos reduziram os gastos. Eugenio Oliveira conta que não mudou muito as compras: “lá em casa na comida a gente não mexe”. Ele vai à feira toda semana. Questionado sobre o porquê da preferência, ele explica que o local é mais barato, prático e no caminho que utiliza no dia a dia.
Mudança mais significativa está na escolha dos produtos, constata Diana
JONATHAN HECKLER/JC
Felipe Barbosa vende frutas no Mercadão do Produtor da avenida Érico Veríssimo, no bairro Medianeira, em Porto Alegre, e nota que os clientes não deixam de frequentar o local, mas carregam menos sacolas.
Mudança mais significativa está na escolha dos produtos, constata Diana
JONATHAN HECKLER/JC
Carlos Augusto Schaidhauer e a esposa, Ana Lúcia, sentiram a diferença nas vendas e compara com aquelas que fazia há 30 anos: “Vendíamos 70 dúzias de rabanete no sábado e 80 no domingo. Hoje, quando dá bom, vendemos 20 nos dois dias”, lamenta Schaidhauer.
Mudança mais significativa está na escolha dos produtos, constata Diana
JONATHAN HECKLER/JC
Junior Silva, responsável por uma banca de doces, conta que se baseia no faturamento das outros comerciantes para saber como está o movimento. "Se a venda deles, que é o primeiro produto, está fraca, a minha vai cair. Eles (os clientes) compram tudo primeiro, depois, com o que sobrar de dinheiro, vêm nos doces”, constata.