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Crise Política

- Publicada em 18 de Abril de 2016 às 19:13

Dilma se diz 'injustiçada' e fala que luta está no início

 Dilma Rousseff admite apresentar projeto para antecipar eleições

Dilma Rousseff admite apresentar projeto para antecipar eleições


ROBERTO STUCKERT FILHO/PR/JC
Em sua primeira declaração pública desde a derrota na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem que se sentiu "indignada" e "injustiçada" com a aprovação da abertura do processo de impeachment, que voltou a chamar de "golpe de Estado", diferente do de 1964.
Em sua primeira declaração pública desde a derrota na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou ontem que se sentiu "indignada" e "injustiçada" com a aprovação da abertura do processo de impeachment, que voltou a chamar de "golpe de Estado", diferente do de 1964.
A petista afirmou que está apenas "no início da luta", e não no fim de seu mandato, e que estão "torturando" seus sonhos e direitos, momento no qual embargou a voz. "Não é o começo do fim, estamos no início da luta e ela será longa e demorada", disse. "Estou tendo meus sonhos e direitos torturados, mas não mataram, em mim, a esperança, porque sei que a democracia é sempre o lado bom da história", acrescentou.
Dilma criticou a Câmara por ter reservado um tratamento a ela diferente do oferecido a seus antecessores em relação às chamadas "pedaladas fiscais". Segundo ela, ex-presidentes realizaram iniciativas contábeis que, na época, não foram caracterizadas como ilegais ou criminosas. "Foram praticadas por outros presidentes antes de mim e não se caracterizaram como atos ilegais ou criminosos, foram atos legais. Quando me sinto injustiçada e indignada é porque a mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém."
Dilma voltou a acusar seu vice, Michel Temer (PMDB), de trair e conspirar abertamente contra ela. Para a petista, é "estarrecedor" que um vice-presidente conspire contra a presidente abertamente. "Em nenhuma democracia do mundo, uma pessoa que fizesse isso seria respeitada, porque a sociedade não gosta de traidores."
A presidente não descartou, mas disse que está avaliando agora a possibilidade de apresentar ao Congresso Nacional projeto para antecipar para este ano a eleição presidencial. Ela ressaltou, contudo, que "todas as outras alternativas", dentro de um processo democrático, poderão ser avaliadas.
Dilma disse ainda que o governo não abrirá mão de "nenhum instrumento para exercer o direito de defesa", confirmando que a Advocacia-Geral da União (AGU) recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) questionando o mérito do processo de impeachment. Ela antecipou também que participará de sua defesa no âmbito do Senado.
"Eu vou enfrentar todo o processo, vou participar e me defender juntos aos senadores", disse. "Tenho ânimo, força e coragem para apresentar, apesar do sentimento de tristeza, não vou me abater, vou continuar lutando."
Ela ressaltou ainda que "qualquer governo pode cometer erros", mas que ressentimentos não são motivo de impeachment. A petista anunciou ainda que o deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG), licenciado da Secretaria de Aviação Civil, não voltará ao governo federal. No domingo, ele votou a favor do impeachment.
"Eu enfrentei um terceiro turno e agora vou para o quarto turno", disse, reclamando de uma oposição que trabalhou pelo "quanto pior, melhor" ao longo de todo o seu segundo mandato.
Dilma afirmou ainda que nenhum governo será legítimo sem passar pelo processo democrático.

Tarso Genro defende nova constituinte e mudanças no sistema político

O ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT) comentou, em evento ontem, que a votação de domingo, na Câmara dos Deputados, do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) mostrou que os fundamentos apresentados favoráveis ao impedimento não tinham a ver com o eventual crime de responsabilidade. "Todos tinham a ver com a crise. E isso é desvio de finalidade do processo de impedimento. E não houve julgamento de crime de responsabilidade, houve eleição indireta de um presidente", enfatizou.
"Hoje, deveria se pensar em uma readequação da ordem constitucional brasileira, na qual o povo fosse informado e compreendesse todas as informações. Sem mudança nessa relação, é improvável resgatar a social democracia", completou.
Segundo Tarso, a modulação e a amplitude dessa nova etapa constituinte do País dependerá do processo político e de como as forças políticas reagirão a esse processo. "Uma das exigências que têm que ser cumpridas para que a gente comece a navegar de maneira mais unitária para sair da crise é reformar o sistema político", disse, reiterando sua posição de que o financiamento de empresas a campanhas tem que acabar, que a votação seja em lista e que as alianças sejam nacionais, não regionais.
Tarso propõe ainda a adoção de um sistema parlamentarista-presidencialista, como é em Espanha e Portugal. "Seria a forma mais resolutiva e potente, com mais abertura de resolver crises. Hoje, você tem bloqueio de relações perversas que é detonante. E aí vai levando a um eleitorado ofensivo e ceticista, que se expressa em intolerância e em violência", disse. Nesse caso, o próprio presidente poderia convocar novas eleições. O político também explicou que, para que esse tipo de sistema ganhe força no Brasil, é preciso uma concertação estratégica de diversas lideranças. "Partido hoje tem muito pouco significado, como vimos na votação ontem. Grandes lideranças do País deveriam adotar uma saída política que poderia começar com esse ponto, questão de reforma política e depois constitucional. Também deveria haver redução de número de partidos, por meio de obrigatoriedade de piso", falou. Para ele, todos os partidos precisam se reconectar à sociedade.

Para aliado, Michel Temer tem 'noção exata do desafio da presidência'

Um dos principais auxiliares do vice-presidente Michel Temer, o ex-ministro Moreira Franco afirmou ontem que o peemedebista tem "a noção exata do tamanho do desafio que a Presidência da República impõe".
Ele se reuniu com Temer no escritório de advocacia do vice-presidente em São Paulo. O ex-ministro da Aviação Civil de Dilma
Rousseff chegou ao encontro acompanhado de Thomas Traumann, que foi porta-voz de Dilma e chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. "O desafio (de Temer) começa pela necessidade de restabelecer a credibilidade do País, restabelecer a possibilidade de a economia crescer para que possamos gerar emprego e tranquilizar a sociedade brasileira", afirmou Moreira Franco ao chegar no escritório de Temer, no bairro do Itaim Bibi.
O ex-ministro disse ainda que Temer tem "senso e o sentido da grande responsabilidade que, a cada vez que esse processo (de impeachment) vai ganhando corpo, pesa sobre ele".
Questionado se o vice-presidente já estaria pensando em uma equipe econômica para o seu futuro governo, respondeu: "É claro".
"Não só ele, mas o Brasil inteiro, todo mundo desesperado em busca de uma alternativa", disse. "Na realidade, como tenho dito, o problema maior da sociedade brasileira hoje é a economia, o segundo problema é a economia, o terceiro problema é a economia", afirmou.
Para Moreira Franco, a votação da Câmara que aprovou o avanço do processo de impedimento da presidente na noite de domingo foi "muito expressiva, muito geradora de esperança".
"Ficou claro que todo esse discurso de golpe é um discurso que não se sustenta porque não se faz golpe com a participação de deputados à luz do dia, televisionado por todas as televisões e ainda indo ao Senado com as sessões comandadas pelo presidente do Supremo. Ou seja, o arcabouço institucional da democracia brasileira, que foi fruto do PMDB com a Constituição de 1988, está sendo usado para dar uma solução no problema político-institucional", afirmou.