Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Educação

- Publicada em 27 de Abril de 2016 às 22:02

Entidades alertam para assédios em escolas

Segundo Maria Fernanda Salaberry (c), há professores assediando, mas ninguém toma providências

Segundo Maria Fernanda Salaberry (c), há professores assediando, mas ninguém toma providências


LUIZ MOREM/AGÊNCIA ALRS/JC
Uma mesa composta quase exclusivamente por mulheres foi palco de debate ontem na Assembleia Legislativa sobre assédio e machismo em instituições de ensino no Rio Grande do Sul. Entidades da sociedade civil e órgãos públicos avaliaram ser importante constituir espaços de ouvidoria em escolas e universidades, a fim de incentivar que as denúncias se concretizem.
Uma mesa composta quase exclusivamente por mulheres foi palco de debate ontem na Assembleia Legislativa sobre assédio e machismo em instituições de ensino no Rio Grande do Sul. Entidades da sociedade civil e órgãos públicos avaliaram ser importante constituir espaços de ouvidoria em escolas e universidades, a fim de incentivar que as denúncias se concretizem.
"Recebemos muitas denúncias na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos. Fiquei chocada quando soube que professores homens estavam cometendo assédio sexual contra alunas. Há suspeitas de que, na rede estadual, haja docentes realizando concurso público com o intuito de assediar as estudantes", ressalta a deputada estadual Stela Farias (PT). A informação veio da assessora jurídica Camila Paim, da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). "Temos percebido que há muitas exonerações de professores devido a assédio acontecendo ainda no estágio probatório. Por situações assim ocorrerem tão rápido, dá a impressão de que já participam do certame pensando em ter essa atitude", observa Camila.
A pasta procura prevenir os assédios através das 1,3 mil Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipaves) já existentes em escolas estaduais. Está previsto para este ano um curso de formação para pedagogas de todas as Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) sobre combate à violência contra a mulher. As profissionais servirão como multiplicadoras nas regiões do Estado onde atuam. "Esse instrumento é muito mais adequado do que uma ouvidoria na própria Seduc, pois abrange as instituições do Interior", justifica a assessora jurídica.
Na opinião da promotora Ivana Battaglin, do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), o problema não é haver pessoas que disseminam o discurso machista, e sim que esse discurso seja naturalizado. "O mais grave é quando as alunas não se percebem vítimas de assédio. O número de denúncias seria muito maior se as meninas parassem de achar que o que aconteceu é apenas uma gracinha ou uma cantada. A incapacidade das jovens de perceber o assédio deve ser discutida desde cedo", aponta.

'Infelizmente, há setores declaradamente machistas que têm se encorajado a aparecer'

Representando o Coletivo de Mulheres da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Maria Fernanda Salaberry relatou o caso ocorrido no início de abril na instituição, quando diversos prédios da universidade, especialmente no Campus do Vale, amanheceram com cartazes com dizeres machistas e ofensivos a mulheres. "Infelizmente, há setores declaradamente machistas que têm se encorajado mais a aparecer. Entretanto, eles sempre existiram - é sabido que há professores na Ufrgs que assediam e ninguém faz nada", afirma.
Segundo a coordenadora de Ações Afirmativas da Ufrgs, Luciene Simões, o combate ao machismo e à violência contra as mulheres tem sido muito pautado dentro da instituição. Hoje, a universidade conta com 4,3 mil trabalhos acadêmicos sobre feminismo e mil sobre machismo em seu banco de pesquisas. "Imediatamente após o caso dos cartazes machistas, enviamos um comunicado a todos os professores, solicitando que esse tema fosse tratado em sala de aula", garante. Na segunda-feira, a Ufrgs terá uma audiência pública em suas dependências, a respeito de igualdade entre gêneros.
Maria Fernanda critica a falta de espaço nas casas de estudante para alunas com filhos e lembra que, já em 2016, uma estudante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) foi expulsa de sala de aula por levar seu filho.
Para o coordenador da graduação de Serviço Social da instituição, Francisco Kern, só será possível mudar essa cultura se os homens participarem do debate sobre o machismo. "O discurso machista não existe só na universidade ou na escola, e sim na cultura da sociedade como um todo. A fim de mudar esse discurso e conscientizar as pessoas, possuímos uma estrutura curricular que obriga os alunos a fazerem disciplinas eletivas, o que significa que, quando o estudante estiver realizando uma formação que não possui abordagem humanística, de qualquer forma terá contato com outras visões de mundo", destaca. Além disso, a universidade também conta com uma ouvidoria para denúncias de alunos no link https://ouvidoria.ufrgs.br/ouvidoria/externo/cadastro.do ou pelo telefone (51) 3308-4944.