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Publicada em 27 de Março de 2016 às 22:46

"Uma marca sem propósito desaparece"

 COBERTURA DO EVENTO ZOOM, NO TEATRO DO CIEE    NA FOTO: JÚLIO MOTTIN NETO

COBERTURA DO EVENTO ZOOM, NO TEATRO DO CIEE NA FOTO: JÚLIO MOTTIN NETO

MARCELO G. RIBEIRO/JC
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O novo presidente executivo do Grupo Dimed, Julio Ricardo Mottin Neto, chegou ao posto máximo depois de duas décadas como vice da empresa. Aos 41 anos de idade, desde janeiro ele comanda a rede de farmácias Panvel (350 lojas na região Sul), a distribuidora de medicamentos Dimed e o laboratório farmacêutico Lifar, integrantes do grupo. O empresário é formado em Economia pela PUCRS e especialista em Finanças e GMP (General Management Program) pela Harvard Business School. Mottin Neto mostra-se à vontade para falar do seu negócio, do setor, da gestão de marca e do País. Confira:
O novo presidente executivo do Grupo Dimed, Julio Ricardo Mottin Neto, chegou ao posto máximo depois de duas décadas como vice da empresa. Aos 41 anos de idade, desde janeiro ele comanda a rede de farmácias Panvel (350 lojas na região Sul), a distribuidora de medicamentos Dimed e o laboratório farmacêutico Lifar, integrantes do grupo. O empresário é formado em Economia pela PUCRS e especialista em Finanças e GMP (General Management Program) pela Harvard Business School. Mottin Neto mostra-se à vontade para falar do seu negócio, do setor, da gestão de marca e do País. Confira:
Marcas de Quem Decide - Qual o peso da marca no sucesso da Panvel e qual a importância dada pela empresa à gestão da marca?
A marca é a materialização da estratégia e valores do negócio. Sabemos da importância dela, mas temos plena consciência de que o que importa mesmo é a nossa capacidade de nos renovarmos e mobilizarmos nossos colaboradores em prol do nosso propósito, que é o bem-estar das pessoas. Uma marca sem propósito desaparece rapidamente.
MDQD - Qual o conceito que norteia os negócios da Panvel e seu relacionamento com os clientes? Em razão das mudanças que afetam a sociedade atual, esse conceito precisa ser ajustado frequentemente?
Somos uma empresa focada em atender bem as pessoas. Investimos muito em logística para que as pessoas sempre encontrem o que procuram e mantemos uma cultura forte em servir o cliente. Temos uma característica de busca constante pela renovação e isso se reflete em nossos modelos de lojas. Acompanhamos as tendências de consumo e elas nos fazem ajustar nossa oferta e posicionamento. Atualmente, estamos concentrando esforços em aumentar a conveniência para a compra de medicamentos e tornarmo-nos o melhor destino para produtos de higiene e beleza.
MDQD - Como o senhor avalia a concorrência no segmento farmacêutico? Hoje são muitos competidores, inclusive com redes de fora do Estado. A disputa é saudável ou há problemas?
Sempre foi um mercado extremamente competitivo. O número de farmácias em algumas cidades chega a ser absurdo. Não temos medo da concorrência leal, até porque acreditamos muito na qualidade dos nossos serviços. O que nos preocupa é a concorrência desleal, aquela que não paga seus impostos.
MDQD - Qual a participação das vendas por telefone e internet no total do bolo? O Alô Panvel é mais forte que a compra pela internet? O e-commerce tende a crescer? O fato dessa parcela de clientes comprar sem ir à loja não preocupa? Há como compensar?
O e-commerce representa 6,5% de nossas vendas. A internet representa 3%, e o telefone, 3,5%. O Alô Panvel ao longo do tempo vem perdendo espaço para a internet, pois a compra de produtos de higiene e beleza é mais fácil devido à possibilidade de visualizar imagens dos produtos. Encaramos essa tendência digital com muita naturalidade, pois é uma forma a mais de economizar o tempodas pessoas. Nosso serviço de entrega em casa funciona desde a década de 1980. Não temos constatado redução no tráfego e venda das mesmas lojas, pelo contrário. Tanto que em 2014 inauguramos 34 lojas e, em 2015, foram 38. Entendemos que o maior impacto do e-commerce será nos segmentos onde houve a digitalização do próprio produto ou serviço e em mercados onde o produto vendido tem alto valor agregado, onde a conveniência não é tão importante. Por exemplo: ninguém sai de uma loja de eletrônicos com uma televisão de 40 polegadas embaixo do braço. O consumidor pesquisa muito o preço e não se importa em receber sua compra em sete dias. Esse comportamento é mais aderente ao mundo digital.
MDQD - Qual a participação dos produtos marca própria?
Nossa venda hoje se divide em 65% medicamentos e 35% produtos de higiene e beleza. Nossa linha de produtos da marca própria Panvel representa 18% da venda de produtos de higiene e beleza.
MDQD - Em que momento a Panvel deu o seu grande passo? Aproveitou qual oportunidade para crescer?
Não tivemos grandes saltos. Somos uma empresa de crescimento 100% orgânico. Mas é evidente que o varejo brasileiro cresceu mais a partir de 1994, com o fim da hiperinflação. Este, na minha opinião, foi o maior plano de distribuição de renda que o Brasil já viu. Devemos isso ao Fernando Henrique Cardoso.
MDQD - Qual a meta de crescimento da Panvel?
Nossa meta é crescer sempre 10% a base de lojas. Hoje são 350 lojas em toda região Sul do Brasil.
MDQD - De que forma a atual crise econômica impacta o negócio e as metas de crescimento?
A crise econômica também impacta o varejo, pois a volta da inflação não apenas reduz o consumo, mas coloca uma pressão absurda nas empresas para gerir seus custos, principalmente salários e aluguéis. Esperamos que o Brasil encontre novamente seu caminho através de menos populismo e mais pragmatismo. Estamos alinhados a uma melhor distribuição de renda no Brasil, acredito que todo empresário inteligente está. Mas para distribuir renda é preciso criar riqueza, e para criar riqueza não podemos ter um governo anticapitalista.
MDQD - Na sua opinião qual o principal diferencial da Panvel?
Nossa cultura e nossos valores. Isso ninguém consegue copiar. Só trabalhando aqui com a gente para entender isso.
MDQD - Quanto a Panvel investe do seu faturamento em inovação, laboratório, atendimento, lojas, tecnologia?
Reinvestimos 75% de nosso lucro no negócio. Nossa distribuição de dividendos é apenas 25%. Estamos em um mercado com grande potencial de crescimento. No entanto, procuramos sempre trabalhar com um baixíssimo nível de dívida. Essa postura em momentos de crise nos traz muita solidez.
MDQD - O que muda no seu sentimento, na sua responsabilidade, ter assumido a presidência, embora já tivesse papel importante na Panvel?
Além de garantir o bem-estar dos nossos clientes, meu maior compromisso com acionistas e com nossos colaboradores é a manutenção da nossa cultura e dos valores que nos trouxeram até aqui. Mas é preciso continuar olhando para o futuro, pois a única certeza que temos é a mudança constante nos hábitos de consumo. Empresas que querem sobreviver precisam se adaptar às mudanças.
MDQD - Como empresário jovem e bem-sucedido, apontaria quais linhas para o País ter um crescimento econômico sustentável e dar certo como nação desenvolvida?
Acredito que de alguma forma o Brasil evoluiu nos últimos 25 anos. Temos uma democracia forte e um bom mercado consumidor, mas não tivemos coragem de modernizar o País. Continuamos com um regime tributário absurdamente complexo e injusto com as pessoas menos favorecidas, além de leis arcaicas que criam uma indústria de ações trabalhistas e que, com isso, prejudicam boas empresas. Fora isso, continuamos com um Estado pesado, inchado e engessado que não consegue atender ao cidadão e muito menos investir em infraestrutura. Precisamos, portanto, de reformas estruturais e, principalmente, repensar o tamanho do Estado. Afinal, não tem o menor sentido termos uma empresa de petróleo se o Estado é incapaz de facilitar o acesso à saúde, educação ou mesmo dar o mínimo de segurança às pessoas.

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