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Publicada em 27 de Março de 2016 às 22:46

Investir na qualidade de vida dos funcionários dá lucro

Márcio Fernandes defende que é possível aumentar a lucratividade de uma empresa sem cortes

Márcio Fernandes defende que é possível aumentar a lucratividade de uma empresa sem cortes

ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
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Jornal do Comércio
Márcio Fernandes chegou à presidência da Elektro, uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do Brasil, em 2011, aos 36 anos. Considerado pela revista Você S/A o líder mais admirado do Brasil em 2014, obtendo a maior pontuação da história da pesquisa, com 99% de satisfação e engajamento de seu time. Durante sua atual gestão a Elektro foi eleita por cinco vezes consecutivas a Melhor Empresa para Trabalhar no Brasil pelas pesquisas Great Place to Work e Você S/A. A razão do sucesso desse jovem executivo é sua filosofia de gestão denominada Felicidade dá lucro!, nome de seu primeiro livro, com prefácio de Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza, editado pela Companhia das Letras. Com etapas simples, ele propõe o desafio de vencer, de ir além e de ser mais e melhor a cada dia: acreditar, praticar, melhorar e compartilhar. Segundo Fernandes, a melhor maneira de aumentar a rentabilidade de uma empresa não é fazer cortes, e sim investir na qualidade do dia a dia de seus funcionários. Nesta entrevista ele explica como sua filosofia de gestão pode funcionar na vida real das empresas.
Márcio Fernandes chegou à presidência da Elektro, uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do Brasil, em 2011, aos 36 anos. Considerado pela revista Você S/A o líder mais admirado do Brasil em 2014, obtendo a maior pontuação da história da pesquisa, com 99% de satisfação e engajamento de seu time. Durante sua atual gestão a Elektro foi eleita por cinco vezes consecutivas a Melhor Empresa para Trabalhar no Brasil pelas pesquisas Great Place to Work e Você S/A. A razão do sucesso desse jovem executivo é sua filosofia de gestão denominada Felicidade dá lucro!, nome de seu primeiro livro, com prefácio de Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza, editado pela Companhia das Letras. Com etapas simples, ele propõe o desafio de vencer, de ir além e de ser mais e melhor a cada dia: acreditar, praticar, melhorar e compartilhar. Segundo Fernandes, a melhor maneira de aumentar a rentabilidade de uma empresa não é fazer cortes, e sim investir na qualidade do dia a dia de seus funcionários. Nesta entrevista ele explica como sua filosofia de gestão pode funcionar na vida real das empresas.
Marcas de Quem Decide - O sr. afirma que cabe ao RH das empresas a elaboração de programas e ações que desenvolvam pessoas e proporcionem um ambiente de trabalho saudável e agravável a todos, respeitando limites e considerando interesses individuais. Historicamente o Brasil tem uma relação conflituosa nesse sentido. O sr. acredita que esta mudança está acontecendo ou o que precisa para mudar?
Márcio Fernandes - As empresas assumiram por décadas um papel carrancudo e áspero. Para muitos, o trabalho era apenas uma obrigação, em que recebiam seus salários e ofereciam o básico para manterem este status. Ao adotar a nova Filosofia de Gestão, a empresa deixa de ser aquela que coloca na parede sua visão, missão e valores e diz a suas pessoas: "cumpra, pois, manda quem pode e obedece quem tem juízo", e passa a ser um veículo que, se for conservado, abastecido, enfim, muito bem cuidado, poderá levar os colaboradores com conforto, segurança e agilidade na direção de seus sonhos. Para nós, na Elektro, esta mudança já aconteceu e está consolidada. Vejo outras empresas, que nos procuram para fazer benchmarking, se interessando pela nossa filosofia, portanto, acredito que estamos, sim, no caminho para que esta mudança seja disseminada. E, no que depender de nós, vamos continuar compartilhando nossas ideias para sermos bons exemplos desta transformação. O RH é uma área chave, mas a responsabilidade é de todas as áreas e de cada uma das pessoas.
MDQD - Os pilares dessa filosofia de gestão são suportados por um conjunto de práticas gerenciais inspiradas no respeito e na felicidade, que é a base da filosofia. Para o sr, o que é a felicidade?
MF - Para mim, a base da felicidade é o propósito. E, para alcançar este propósito, você tem que trabalhar com o seu dom, fazer algo em que você sejarealmente bom, que você ame, que seja relevante para a sociedade, e que gere valor, ou seja, algo que você queira fazer e não que alguém o mande fazer. Não tem como não ser feliz se você encontrou tudo isso no seu trabalho. Aliando a razão e a emoção ao trabalho, você tem motivação. E, para que tudo isso funcione, você tem que acreditar, praticar, melhorar e compartilhar, pois o propósito é o fim, mas a Filosofia de Gestão é o meio.
MDQD - Outro pilar de sua filosofia de gestão é o "acreditar", que está relacionado a respeitar e cuidar das pessoas. O respeito às pessoas é suportado por um código de ética bem estabelecido na empresa. É possível aprender a ser ético na empresa ou está faltando ética nas escolas, na família?
MF - É possível, sim. As pessoas precisam de bons exemplos. Claro que os princípios éticos começam a ser ensinados em casa, mas são aplicados em todas as instâncias do dia a dia das pessoas, portanto, especialmente no trabalho. Não podemos admitir o jeitinho, nós praticamos o bem e o que é certo com disciplina e rigor todos os dias. Compartilhando bons exemplos, abrimos os horizontes novos, prósperos e ensinamos a futuras gerações que é possível, ter êxito, fazendo a coisa certa e do jeito certo.
MDQD - O pilar "praticar" é muito importante, pois está relacionado a comunicar e desenvolver as pessoas. Quais as melhores práticas para desenvolver as pessoas no seu trabalho?
MF - Acreditamos genuinamente no potencial das pessoas e oferecemos condições para que cada um planeje sua carreira como sempre sonhou. Valorizamos a meritocracia e contamos com o apoio da nossa liderança na construção de um ambiente que engaje e desafie constantemente as pessoas. Basta acreditar, se dedicar e aproveitar as oportunidades. Nosso maior trunfo é buscar desenvolver nas pessoas o senso de protagonismo. Nossos líderes não impõem barreiras para que os colaboradores participem de novos projetos, conheçam novas áreas e até mudem o rumo de suas carreiras. Todos são incentivados a buscar o desenvolvimento contínuo, por meio de treinamentos, pelo autodesenvolvimento e prática de suas ideias. Por meio da nossa rede social interna - o Conecta, todos podem se manifestar e declarar seu interesse em trabalhar em outra área; assim, quando há oportunidade, é convidado a cobrir férias lá e a participar de processos de recrutamento interno (RI). O RI é um dos nossos maiores destaques: temos um aproveitamento interno de 98,6%. Ou seja, as oportunidades que surgem são preenchidas com profissionais da casa. Entre outras tantas práticas de desenvolvimento, destaco o Eu Líder, programa no qual pessoas comuns são incentivadas a ACREDITAR neles mesmos e desenvolvem suas competências e passam de Eletricistas a Líderes por exemplo. Fomos reconhecidos com o título de Melhor Empresa para se Trabalhar no Brasil, por cinco vezes consecutivas, e Melhor Empresa para se Trabalhar na América Latina, em 2015, pelo guia Great Place to Work. A pratica é fundamental para continuarmos melhorando e exercitando nossa coerência
MDQD - O pilar "melhorar" toca num ponto muito delicado nas relações entre empresa e funcionários no Brasil. Está relacionado ao engajamento das pessoas e superação das metas. O engajamento está relacionado ao protagonismo, ao sentir-se dono, à autonomia e o trabalho em equipe. É possível desenvolver esse pilar relacionando os salários com o monitoramento do cumprimento das metas e dos projetos estratégicos e a performance dos processos?
MF - Sim, é possível. Nós não deixamos de ter metas. A nova filosofia não significa que vamos nos esforçar menos ou trabalhar de forma lenta ou com o compromisso exclusivo com a felicidade ou qualidade de vida somente, sem produtividade. Trata-se de uma forma nova de lidar com o trabalho, com desafios, agilidade e intensidade acima da média. Na Filosofia de Gestão a Eficiência, Produtividade e o trabalho estão conectados com Família, Qualidade de Vida e Respeito, por isso melhoramos, encontramos o equilíbrio na relação pessoa empresa. Quando se faz algo com amor e interesse genuíno, tudo funciona de forma diferente. Eliminando o fardo tradicional de ter que fazer algo, as pessoas passam a querer fazer. Superar metas e vencer passa a ser algo frequente, pois, o entusiasmo é seguido pela união, criação de propósitos comuns e o reconhecimento por parte da empresa é só a consequência. As metas são convergentes e não mais impostas e, assim, todos participam. Melhoramos tudo, inclusive o que já está bom.
MDQD - O sr. afirma que o mundo corporativo ainda "enlata" muito as pessoas. Existe um padrão, um estereótipo do mundo corporativo que remete a várias horas de trabalho, de convivência mútua entre as pessoas que não se agridem, mas também não produzem. Qual seria a antítese dessa forma de trabalhar?
MF - A antítese é o modelo de trabalho que adotamos na nova Filosofia de Gestão, em que as pessoas acreditam, praticam, melhoram e compartilham os bons resultados mútuos. Este modelo inspira as pessoas a serem protagonistas de suas carreiras e as engaja em um propósito comum, que lhes traz resultado financeiro, mas acima de tudo, a felicidade. Para trabalhar "fora da caixa", as pessoas precisam se sentir em um ambiente próspero e propício para a criatividade, um lugar em que tenham encontrado um propósito. As empresas precisam resgatar alguns valores de base, como respeito, inclusão, família, integridade, coerência, transparência, ética e liberdade. Assim, podemos dizer que temos uma nova forma para fazer o que precisa ser feito, mas sem o sofrimento de sempre, no qual odiar o "chefe" é algo normal, e sim com prazer e orgulho, passando a ter gestores inspiradores e facilitadores.
MDQD - Como iniciar o processo para um relacionamento dentro do ambiente de trabalho mais feliz e ético?
MF - Simples, um relacionamento começa com confiança e respeito e, para alcançar isso, a alta liderança precisa se mostrar próxima. Foi o que eu fiz assim que assumi a presidência da Elektro, em 2011: aproximei-me das pessoas e não fiquei sentado em minha sala. Em seguida, começamos, juntos, a rever tudo o que historicamente fazia sentido, mas que agora seria descartado. Foi o trabalho de um time inteiro. Os resultados foram apenas consequência de algo que pode parecer inovador, mas foi um exercício de humildade em favor do fim da inércia. Nossas pessoas decidiram aceitar o convite para mudarmos juntos tudo, iniciando por suas próprias possibilidades e chegando até a nossa rentabilidade, que melhorou muito. Não existe um segredo, apenas uma nova Filosofia. Valorizar as pessoas é mais que uma opção, deve ser um exercício de coerência diária. Para mim, quem funciona é máquina, uma pessoa respeitada, que participe, seja ouvida e esteja estimulada a ser feliz, tonar-se muito mais que um funcionário, ela colabora. Acredito que oferecendo o protagonismo verdadeiro, qualquer um pode prosperar. A ética é uma exigência básica, devemos ser exemplo e oferecer para as pessoas um caminho que seja sustentável. Mostramos a todos que os caminhos mais curtos, os do jeitinho, nunca são os melhores e que mesmo com a impunidade que muito se vê no Brasil infelizmente, em nossa empresa, ceder a este desvio não será tolerado. Estou certo de que aqui temos um exemplo de pessoas, processos, sociedade e empresa, que nos orgulham, aqui dá gosto ser brasileiro.

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