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A perenidade do organismo empresarial



M�rio Verdi M�rio Verdi
Diretor Geral da Inventsys, [email protected]
A entropia, lei fundamental do universo, afirma que todo o sistema tende ao caos. Não é uma possibilidade. É uma força invisível, presente e implacável. Na natureza, um sistema em equilíbrio é aquele que consegue manter ativos ingredientes que reduzem a força da entropia, sustentando a ordem entre organismos e ambiente. Mas, a qualquer mudança nesta ordem, a ameaça do caos virá. Esta mesma regra se aplica à sociedade. Rousseau disse que a vida em sociedade é possível devido à existência de leis formais e regras morais que sustentam a ordem coletiva, evitando a anarquia e o caos. Em um paralelo com o mundo dos negócios, a gestão seria uma tentativa formal e temporária de interromper a entropia no organismo empresarial.
Um regime utópico anarquista pregaria um sistema onde as regras são apenas morais, sem intervenção "oficial" sobre a configuração do sistema. Mas a anarquia sempre foi considerada utópica, justamente por não conseguir fazer valer sua tese de Ordem no Caos. Mas e as empresas? As empresas são organismos vivos e controlados, pertencentes a um macroambiente natural, cultural, econômico, social e político. Alguns organismos não possuem condições de sobrevivência em determinados ambientes. Outros se adaptam e se perpetuam. Alguns crescem em ordem, enquanto outros se proliferam desordenadamente causando impactos negativos no ambiente onde se instalaram. Agora imagine um cenário onde o ambiente muda cada vez mais rápido, de forma imprevisível, e em escalas antes inimagináveis! Este é o mundo empresarial hoje. Por mais de 100 anos, as variáveis macroeconômicas eram: O Que produzir, Para Quem, em que Quantidade e com que Qualidade. A resposta foram as linhas de montagem, o treinamento, o just in time e a qualidade total. Hoje, quase todas estas variáveis se modificaram. O que seria a inovação neste cenário? Penso que a inovação seria um exercício laboratorial da Anarquia dentro de um ambiente controlado, a Empresa, em busca do equilíbrio entre a ditadura produtiva e a validação do propósito de uma empresa. Edward de Bono, um estudioso da criatividade, traçou na obra Pensamento Lateral uma analogia entre os generalistas criativos e os especialistas produtivos. Ele dizia que, comparando o propósito a um buraco, o generalista é quem cava uma infinidade de buracos, buscando encontrar algum que faça sentido para sua busca. Já o especialista cava um mesmo buraco o mais fundo que pode, buscando entender todas as suas especificidades e segredos para, assim, dominá-lo. Com relação à conexão com o ambiente externo, o especialista estaria tão fundo dentro de seu buraco, que o ângulo de visão fica restrito ao extremo. Já o generalista, mantém grande contato com o ambiente externo, no entanto, pouco conhece sobre cada uma das alternativas que deixou para trás, em sua busca pela mais ideal. Talvez o segredo da perenidade empresarial passe pela construção planejada de um ambiente simbiótico entre produçãoe propósito, ou ação e imaginação, onde generalistas e especialistas convivam dentro de regras anárquicas o suficiente para gerarem vida e controladas o suficiente para permitirem a perpetuação da vida. Todos juntos, encontrando e cavando buracos certos. De momento, já me contento se, com criatividade e trabalho, conseguirmos sair do buraco.

Publicado em 28/03/2016.