As marcas mais lembradas e preferidas de
gestores e formadores de opinião do RS.

A Gera��o polegar



Luiz Coronel Luiz Coronel
Diretor da Ag�ncia Matriz, www.luizcoronel.com.br
1. Tenho uma vaga percepção de que os infantes recém-nascidos digitam no seio materno mensagens claras nas quais reivindicam o leite que os sustenta. Desdobro o intuitivo ou caricatural conceito para afirmar a convicção de que as novas gerações nascem codificadas à digitação. No panorama visto da ponte é possível dizer que a paisagem do mundo contemporâneo é povoada por seres silenciosos, movendo com infinita destreza os polegares dialogantes.
2. O dedo polegar, o mata-pulgas - antes assim denominado - detinha poucos préstimos, além dos ofícios de assinalar "positivo ou negativo". Hoje, ele deleta os lábios e a fala, substituindo-os na comunicação oral entre os indivíduos e ascoletividades. Senhoras e senhores, está instaurada a dinastia, ou melhor, o reino da geração polegar.
3. Qual ponteiro veloz disparo minha abordagem falando sobre revolução. Calma! Os tempos são aflitos, e as contradições se avolumam! Entende-se por revolução uma transformação essencial das formas de produção, projetando-se em modificações profundidas na escala de valores que rege a vida social. As fases da história diferem não pelo que o homem produz, mas pela forma através da qual se produz a riqueza.
4. Fujo deste contexto histórico para falar de falsas revoluções e revolucionários de improviso. A América Latina tem numeroso elenco e exóticos exemplares. Em certo país bolivariano, "el General Comandante" teve a perna amputada durante uma intervenção cirúrgica. A essa gloriosa perna que percorreu os caminhos de "Levante del Pueblo", prestou-se solene enterro, com abundante público, tropas, banda fúnebre, bandeira a meio-pau.
5. Não se afugente o eventual leitor que não escaparei da temática sugerida pela agenda. Levo a marca no peito, como ostentavam os proclamas do governo Simon. O que interessa é inserir o tema "marcas" ante as mutações históricas. Três processos de globalização invadem e sinalizam a rotação histórica no avançar dos séculos. A Pax Romana, na antiguidade; as navegações ibéricas, no alvorecer da idade moderna; (cruzando mares nunca dantes navegados) e a contemporânea revolução da informática.
6. É possível afirmar que as duas primeiras globalizações foram maré alta. Essa última, um verdadeiro maremoto, uma avalanche, um tsunami. Aquelas revoluções, como diria meu amigo Patinete, "São dente de leite diante desta que hoje nos engole". "Tudo que é sólido se desmancha no ar", escreveu Marx. Na espantosa vertigem das transformações, suspirou o Conde Fabiano, mui fraterno amigo: "Sinto-me um intruso no século XXI!".
7. Eis-nos no olho do furacão. O distanciamento ético e comportamental entre as gerações dando passos largos e talvez irreversíveis. O conceito sagrado de nação reduzindo-se a um hino, uma bandeira, uma seleção de futebol. O que entendíamos como "imperialismo", dominação de um país sobre continentes, deu lugar ao império do dinheiro volátil. O capital não tem sede, não tem país, ele é nômade. Ele tem acionistas, isso sim. Senta sua robusta traseira onde os investimentos tiverem maior lucratividade.
8. A notícia é instantânea, e o vento tornou-se rengo em relação à velocidade da comunicação. Com um computador na mão todo homem é um exército, assim nos revela Edward Snowden. Temos de convir que o assento desta polvadeira, consagração de novos códigos, funeral de certezas antigas, compete ao tempo. Sim, ao tempo, pois é dentro de suas paredes invisíveis que desempenhamos nossa tumultuada façanha humana.
9. Pergunto aos quatro ventos: Como consolidar nossas marcas em tempos tão fugidios? Como entregar o barco de nossas marcas à corredeira das águas, sem se abismar nas cataratas de uma nova época? Como levar a vela acesa contra a ventania? Como manter a donzela casta ante este striptease e geral?
10. A experiência empresarial me revelou certos caminhos. Ter firmeza na construção dos alicerces, conceitos sobre os quais a empresa pretende edificar sua produção ou sua prestação de serviços. Ter constância, nitidez em suas operações. Ter extrema sensibilidade no que tange à aquisição de novos métodos operacionais, sem desfigurar sua identidade. Ter uma guarda de prontidão para assegurar, a todo tempo, o seu poder de verdade. É isto aí. Ou bem mais do que isso.
11. Venho de um longo andar sobre o trilho das décadas. As cadeiras na calçada e a conversa amena e sempre cordata dos vizinhos. Nos bailes e nos templos,dançavam e oravam as gerações integradas. Os músicos sopravam melodias; os poetas, metáforas, e os bailarinos dançavam. Hoje, como flagrou Quintana, "Grita-se e não se canta. Pula-se e não se dança". Não há mais tempo para suavidades. Somos mais felizes hoje? Ninguém há de responder.
12. É sábado, sento-me à mesa de um restaurante, entra um belo e jovem casal. Pedem água mineral e Coca-Cola. Geração saúde. Cada um deles pega seu celular ou tablet e, entregues a destreza dos dedos polegares, elaboram e recebem mensagens dos cafundós do mundo. Ele não diz: "O mar pediu licença para usar a cor dos teus olhos?","Que linda a cor dos tachos de tua pele, bronzeada pelo mar!".O romantismo caiu em desuso, assim como polainas, abotoaduras e espartilhos. A moça faz uma selfie, e os pratos que a civilização nos serve terão um áspero gosto de vida.
13. Quem elege o passado como paraíso perdido está proibido de por os pés no futuro. Agora, sejamos sensatos: não é fácil dormir com tanto ruído lá fora. A vida humana não está no período mais rico de sua valorização. Mas é preciso acreditar no milagre. Milagre é o povo/vítima por falcatruas e trapaças/arrastando a bandeira da esperança/pelas ruas, pelas praças.

Publicado em 28/03/2016.