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Universidade e empreendedorismo: o conhecimento e a pr�tica formando talentos empreendedores



Gabriela Cardozo Ferreira Gabriela Cardozo Ferreira
Diretora de inova��o e desenvolvimento, pr�-reitoria de pesquisa, inova��o e desenvolvimento e professora da PUCRS, [email protected]
Houve um tempo em que a responsabilidade social da universidade se limitava à formação de pessoas. Mas isso já vai longe no passado. No contexto da sociedade do conhecimento, a universidade expande seu tradicional foco em ensino e pesquisa, agregando à sua missão a atuação direta no processo de desenvolvimento econômico da sociedade. Nesse sentido é preciso empreender, e mais: é preciso ensinar a empreender. Em um mundo onde não existe mais emprego para todos, não é mais suficiente formar empregados, temos que formar empreendedores.
De acordo com a pesquisa "Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras", realizada pela Endeavor, se em 2012 54,8% dos universitários pensavam em abrir um negócio, em 2014 esse número subiu e 57,9% dos novos pesquisados podem ser considerados potenciais empreendedores. E não é só expectativa: de acordo com os dados, um entre quatro alunos já empreenderam. Os números surpreendem e mostram que o perfil dos estudantes está mudando e, com isso, a entrega da universidade tem que mudar também.
Mas como formar empreendedores? Oferecer disciplinas específicas é um começo. A pesquisa da Endeavor mostra que muitos dos alunos já fizeram alguma disciplina dessa área. Para ser efetiva, no entanto, a formação empreendedora tem que ser feita de maneira transversal, atingindo todos os cursos e carreiras. Nas empresas nascentes, as startups, um dos principais limitadores é a baixa capacidade de gestão e conhecimento de negócios dos excelentes técnicos que gerem as empresas. A pesquisa mostra, porém, que poucos alunos de áreas não voltadas a negócios já cursaram disciplinas da temática empreendedora ou de negócios.
E como estão preparados os professores para isso? A mesma pesquisa indica que, quando alcançam graus de titulação maiores, os professores tendem a perder o interesse no empreendedorismo e em empreender. A estratégia de ser uma universidade empreendedora tem que ser deliberada, e uma parte fundamental passa pela capacitação dos seus professores.
A teoria é importante para empreender (e a pesquisa também mostra isso), mas a prática é imprescindível. Quase a metade dos estudantes entrevistados já trabalharam numa empresa em estágio inicial. Entre esses estudantes, 62% apontam que a experiência os deixou mais confiantes para abrir um novo negócio. E aqui há espaço para melhorar, já que seis instituições na rede privada e apenas quatro em cada dez públicas oferecem mentorias, redes de contato e plantões de dúvidas para os negócios dos alunos. Estruturas que conectem os alunos à realidade do empreendedorismo, como por exemplo incubadoras, são fundamentais nessa trajetória.
Enfim, gerar empreendedores passa sim pelo ambiente universitário. Nesse sentido, é necessário oferecer oportunidades, criar canais, mecanismos e estruturas que viabilizem a formação e o caminho desses jovens na direção daconcretização de suas ideias e inovações por meio do empreendedorismo, o que não significa necessariamente ser empresário. Isso representa desafios no sentido de gerar as condições para atender a essa demanda, bem como a necessária análise crítica deste processo e suas consequências, tanto internas como externas às instituições, considerando o trabalho conjunto com os demais atores sociais, especialmente empresas e governos. E esse esforço certamente caminha em direção ao cumprimento da missão de uma universidade, que é ajudar a construir um futuro pelo qual valha a pena esperar.

Publicado em 28/03/2016.