O Brasil registrou uma evasão de US$ 9,3 bilhões em fevereiro, já descontados todos os dólares que entraram no País no mês. Foi o pior desempenho para o mês desde que o Banco Central (BC) começou a registrar os dados, em 1982. Foi também a terceira maior saída já contabilizada em qualquer mês. Mesmo com a alta da moeda norte-americana (que deixa os investimentos mais baratos no Brasil e incentiva as exportações), os números do BC mostram piora dos dados do comércio exterior e do mercado financeiro.
Essa "fuga" de capitais se dá em meio à crise política e econômica que assola o País. O que operadores do mercado financeiro têm dito é que os investidores aproveitaram a trégua dos últimos dias, com os preços dos ativos um pouco melhores, para deixarem o território nacional.
O BC não quis comentar essa debandada de dólares - só no último dia de fevereiro, saíram US$ 3,3 bilhões -, mas decidiu oferecer moeda física a quem necessita, porque, além de deixar o sistema irrigado, evita que essa evaporação distorça parâmetros técnicos do mercado financeiro. Nesta quarta-feira, 9, realizou um leilão de linha no valor de
US$ 2 bilhões. O resultado dessa operação, que consiste na venda de dólares lastreados nas reservas internacionais com o compromisso de recompra no futuro, será conhecido apenas na quarta-feira da semana que vem.
Praticamente metade desse volume todo que deixou o Brasil em fevereiro ocorreu na semana de 22 a 26, num total de US$ 4,9 bilhões. Desde 1982, quando o BC começou a informar os dados ainda existentes hoje, nunca se viu uma cifra tão grande sair do País em um mês de fevereiro.
A saída do mês passado só ficou abaixo de três períodos: dezembro de 2014 (US$ 14 bilhões), mês em que é mais comum haver remessas vultosas, porque empresas instaladas em território nacional precisam mandar lucros e dividendos para suas matrizes no exterior; e em agosto (US$ 11,8 bilhões) e setembro (US$ 18,9 bilhões) de 1998, pouco antes do início do regime de câmbio flutuante no Brasil.
A maior pressão de retiradas se deu nas aplicações financeiras, como investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações. Por esse canal, o fluxo ficou negativo em US$ 11,2 bilhões. Parte desse envio, portanto, foi compensada pelo aporte de
US$ 1,9 bilhão da área comercial.
Os primeiros dias de março (de 1 a 4) mostram algum alívio, com o fluxo positivo em US$ 994 milhões. De forma atípica à verificada nos últimos meses, houve ingresso do segmento financeiro, no valor de
US$ 1,7 bilhão, enquanto os negócios ligados às importações superaram aos das exportações em US$ 721 milhões.
Como é natural, com a perda expressiva de dólares, os bancos aumentaram suas posições de venda, que já perdura há 31 meses. De janeiro para fevereiro, a quantia disparou de US$ 18,8 bilhões para US$ 27,9 bilhões, a maior também desde dezembro de 2014, segundo os dados do BC. "Estar vendido" tem relação com a previsão de queda da cotação da moeda ou com a de que os juros internos serão mais elevados do que a valorização do dólar em determinado período. Para se ter uma referência, a taxa básica Selic está atualmente em 14,25% ao ano.
O BC também informou ontem que, depois do prejuízo de R$ 16,8 bilhões com leilões de swap cambial em janeiro, a instituição obteve lucro de R$ 11,7 bilhões no mês passado. Essas operações funcionam como uma espécie de venda de dólares no mercado futuro. Em contrapartida, obteve perda de rentabilidade com a administração das reservas internacionais de R$ 16,5 bilhões no mês passado. Atualmente, as reservas estão na casa de US$ 370 bilhões.
O envio de dólares pelo canal financeiro no mês passado foi de US$ 11,231 bilhões, resultado de entradas de US$ 28,566 bilhões e de saídas de US$ 39,797 bilhões. Este segmento reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações.