Em mais uma manobra protelatória, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), antecipou o horário das votações em plenário ontem e, com isso, inviabilizou o funcionamento da sessão do Conselho de Ética que discutiria a sua cassação.
Diferentemente do que ocorre às quartas-feiras, quando as votações começam no fim da tarde, Cunha convocou sessão extraordinária para o período da manhã, tendo atingido número suficiente de deputados para começar a ordem do dia já no início da tarde.
Como a sessão do Conselho de Ética estava marcada para as 14h30min, ela foi aberta pelo presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), mas acabou sendo suspensa por causa da ordem do dia no plenário.
Araújo até tentou levar adiante a sessão, mas sofreu protestos até de deputados contrários a Cunha, receosos de que acabasse havendo uma anulação e o processo de cassação demorasse ainda mais, como tem ocorrido. Diante desses apelos, o presidente do conselho declarou suspensa a sessão e anunciou que a retomaria quando as votações no plenário da Câmara se encerrassem. Com a demora nas votações, porém, por volta das 18h30min o presidente do conselho anunciou o cancelamento da sessão desta quarta-feira e convocou novas reuniões para terça e quarta-feira da próxima semana.
"Como manda o regimento, suspendi a sessão para voltar logo que acabassem os trabalhos do plenário. Recebi vários apelos dos deputados (...) para que eu encerasse a sessão, haja vista que os trabalhos de hoje (ontem) devem entrar pela noite e não se sabe que horas vão acabar. Eu não quero ser o responsável para que esses deputados ficam aqui até 23h, meia-noite, por causa da sessão do Conselho de Ética", justificou Araújo. A representação pela cassação de Cunha até agora não saiu da fase inicial.
Cunha é alvo de uma denúncia na qual é acusado de receber US$ 5 milhões de propina de um contrato de navios-sonda da Petrobras. Outro inquérito apura o recebimento de propina em uma das contas na Suíça.