Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política

- Publicada em 02 de Março de 2016 às 23:44

Lideranças atravessam décadas no comando

Carlos Rivaci Sperotto, presidente da Farsul

Carlos Rivaci Sperotto, presidente da Farsul


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Lívia Araújo
A soma de carisma, representatividade e conhecimento de mecanismos de gestão e articulação política são alguns dos fatores que contribuem para a longa permanência de presidentes de entidades de classe em atuação no Brasil e no Rio Grande do Sul. É o caso de organizações como a Federação Sindical dos Servidores Públicos (Fessergs), presidida por Sérgio Arnoud desde 1995; a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que tem à frente o gaúcho Paulo Ziukoski desde 1997; e da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), capitaneada desde 1997 por Carlos Sperotto.
A soma de carisma, representatividade e conhecimento de mecanismos de gestão e articulação política são alguns dos fatores que contribuem para a longa permanência de presidentes de entidades de classe em atuação no Brasil e no Rio Grande do Sul. É o caso de organizações como a Federação Sindical dos Servidores Públicos (Fessergs), presidida por Sérgio Arnoud desde 1995; a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que tem à frente o gaúcho Paulo Ziukoski desde 1997; e da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), capitaneada desde 1997 por Carlos Sperotto.
De acordo com Maurício Rombaldi, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade Federal da Paraíba, e que estuda a composição e atuação de sindicatos patronais e de trabalhadores, a estrutura sindical brasileira, datada dos anos 1930, proporciona casos diversos em que não ocorre a alternância de poder em entidades de classe, com efeitos variados. "Essa estrutura é geralmente muito atrelada ao Estado e, tanto a parte dos trabalhadores quanto a patronal costumam ter um recurso assegurado, garantindo uma sobrevida à entidade que independe da representatividade que ela terá junto a sua categoria."
Nesse sentido, observa Rombaldi, "a permanência pode acontecer porque uma liderança domina os processos da máquina institucional, o funcionamento das organizações e de suas ferramentas".
Sérgio Arnoud, da Fessergs, confirma essa teoria. "Até agora os meus pares entendem que devo continuar em função da minha experiência, e capacidade de articulação política", acredita. No entanto, o dirigente frisa que a liderança só é exercida porque se soma à disposição dos mais jovens. "A manutenção da Fessergs na vanguarda acontece porque há a combinação de lideranças jovens com antigas", diz.
No caso da Fessergs, o regramento estabelecido pelo estatuto da entidade prevê a inscrição de mais de uma chapa, votada por delegados provenientes de cada um dos sindicatos que integram à federação. No entanto, Arnoud, que ficará na presidência até outubro de 2017, afirma que nunca houve chapa de oposição.
Paulo Ziulkoski, que desde 1997 preside a CNM, explica que somente prefeitos e ex-prefeitos podem votar e ser votados, e que, apesar da possibilidade de haver disputa entre mais de uma chapa, também só houve a inscrição de chapa única. Ziulkoski, que é filiado ao PMDB e foi prefeito do município gaúcho de Mariana Pimentel, atribui sua longevidade à frente da CNM a uma pauta suprapartidária, reconhecida pelos pares. "Nunca tive apoio do partido, porque sempre fiz um embate federativo. Eu voto pelo que interessa aos municípios, que são governados por todos os partidos."
Considerada uma entidade combativa nas questões que tangem à vida dos municípios, como a revisão da proporção do repasse de recursos dos governos federal e estadual, a CNM, segundo Ziulkoski, "pode falar alto" por ser sustentada por contribuições espontâneas dos 4,6 mil municípios filiados à entidade. "A CNM tem bastante recurso, presta contas e tem autonomia. Nunca me vendi para governo. Temos autonomia político-partidária e financeira", detalha. A entidade não possui limite para reeleições.
Independente do regramento, há entidades, entretanto, que buscam garantir alternância de poder na prática. A Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul), fundada em 1927, sempre teve candidato único a disputar a diretoria da entidade, aprovada pela aclamação de seu conselho deliberativo a exceção é a eleição deste ano, que terá dois candidatos. O estatuto determina que haja no máximo uma reeleição para cada presidente, com mandato de dois anos. Uma única exceção foi feita quando o ex-presidente José Paulo Cairoli (PSD), hoje vice-governador do Estado, foi reeleito para um mandato extra, em 2010. "Ele foi uma exceção, pois ao fim de seu mandato não se apresentou nenhum candidato e o conselho solicitou que ele ficasse", explica.
Russowsky defende esse formato. "Como é uma associação de livre-adesão, tem de haver liberdade de expressão, de comando, e independência política. Não há sentido em manter alguém muito tempo no poder, para que a entidade não fique estagnada em um conjunto único de interesses", opina.
O pesquisador Maurício Rombaldi reconhece que carisma e boa gestão podem existir mesmo na ausência da alternância de poder, mas alerta para a necessidade de a liderança ser uma representação efetiva. "A importância da renovação se dá na alteração da base de representados. Quando isso acontece, não tem sentido não ter uma renovação da diretoria ou do presidente, porque eles têm de ser um reflexo da base."
Procurado pela reportagem, o presidente da Farsul, Carlos Sperotto, não se manifestou até o fechamento desta edição.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO