Tornado. Para quem testemunhou a destruição provocada pelo tornado que atingiu o distrito de Águas Claras no ano de 2000 e o fenômeno que atingiu o Centro de Porto Alegre na inesquecível noite de 29 de janeiro foi um tornado. Ao menos as características foram idênticas: chuva forte e ventos fortíssimos destelhando prédios, cortando galhos e tombando árvores. Porto Alegre, que se orgulha de, com mais de 1 milhão de árvores, se constituir, talvez, a Capital mais arborizada do País, terminou tendo uma violenta poda irregular promovida pela natureza, já que as autoridades responsáveis não são capazes de um manejo regular. O tornado deveria servir para nosso aprendizado. Por exemplo, a participação de soldados do Exército no auxílio do recolhimento de árvores caídas deveria servir para o reconhecimento do valor das Forças Armadas, que são sempre chamadas a ajudar nos momentos de crise e de tragédias. No entanto, quando baixar a poeira, alguns pseudorrevisionistas históricos certamente voltarão com seu discurso de ódio contra esta instituição. Da mesma forma, a contribuição do trabalho feito por algumas dezenas de condenados pelo regime semiaberto. Além de diminuir-lhes as penas, sua contribuição não passa de um retorno à sociedade, a qual, afinal, paga a sua comida. E, ao serem úteis, deixam de voltar à delinquência, num país onde 80% dos crimes são praticados por foragidos, reincidentes e sob regime semiaberto. Ou seja, a exceção praticada na tragédia deveria ser norma regular e permanente. Até porque nossos parques e praças, afora alguns casos pontuais, disputam o campeonato do abandono. Por fim, restaria a questão da relação homem-meio ambiente. Como temos muitos maus alunos na nossa sociedade, o Dilúvio continuará com ligações de esgoto clandestinas; calçadas, terrenos baldios e riachos continuarão recebendo o descarte de sofás, de fogões e de pneus. No fim de semana pós-tornado, deu para ver donas de casa varrendo calçadas com água tratada. Sem se dar conta que, se ninguém morreu, foi porque Porto Alegre foi cenário de um milagre divino.
Jornalista e escritor