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Conjuntura

- Publicada em 24 de Fevereiro de 2016 às 19:06

Moody's faz ajuste com corte agressivo

Apesar de esperado pelo mercado, o rebaixamento do rating do Brasil em dois níveis pela agência de classificação de risco Moody's surpreendeu pela "agressividade", justificada pela defasagem em relação às outras agências de rating. A Moody's era a única das três principais a manter o Brasil no grau de investimento e, por isso, a avaliação dos economistas é que este downgrade tem efeito mais limitado no mercado doméstico, mas deve afastar ainda mais investidores do País. Para os especialistas, a instabilidade política e a falta de uma solução para o desequilíbrio fiscal no curto prazo podem levar a novas rodadas de rebaixamento ainda em 2016 e pressionar o Congresso em relação a reformas consideradas essenciais para a economia.
Apesar de esperado pelo mercado, o rebaixamento do rating do Brasil em dois níveis pela agência de classificação de risco Moody's surpreendeu pela "agressividade", justificada pela defasagem em relação às outras agências de rating. A Moody's era a única das três principais a manter o Brasil no grau de investimento e, por isso, a avaliação dos economistas é que este
downgrade tem efeito mais limitado no mercado doméstico, mas deve afastar ainda mais investidores do País. Para os especialistas, a instabilidade política e a falta de uma solução para o desequilíbrio fiscal no curto prazo podem levar a novas rodadas de rebaixamento ainda em 2016 e pressionar o Congresso em relação a reformas consideradas essenciais para a economia.
O corte na nota de crédito do País em dois níveis, de Baa3 para Ba2, com perspectiva negativa, é um sinal de que a Moody's "optou por não ficar atrasada novamente", na avaliação do economista da Tendências Consultoria Integrada Sílvio Campos Neto. Na semana passada, a Standard & Poor's (S&P), que já havia colocado o Brasil no grau especulativo em setembro de 2015, voltou a rebaixar a nota de crédito. Para Bernard Gonin, da Rio Gestão, o downgrade já estava incorporado aos preços dos ativos, mas a redução em dois níveis é uma surpresa.
Economistas apontam ainda a relação direta entre as decisões das agências de classificação de risco a anúncios da política econômica. O ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central Alexandre Schwartsman destacou que os últimos rebaixamentos da nota do Brasil ocorreram após medidas pouco ortodoxas adotadas pela Fazenda.
O downgrade pela S&P veio depois de o governo enviar ao Congresso peça orçamentária deficitária. O segundo, pela Fitch, foi após a Fazenda sugerir redução da meta de superávit primário. Agora, a Moody's corta a nota do País dias após o anúncio de uma banda fiscal.
Sem uma melhora do ambiente econômico e político que levem a um ajuste fiscal convincente, novos rebaixamentos do rating soberano brasileiro devem ocorrer nos próximos meses, avalia o economista para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Uma estabilização dos ratings e, eventualmente, a volta para o grau de investimento demandarão do governo federal uma combinação de um ajuste fiscal convincente e reformas estruturais para aumentar o crescimento potencial do País, avalia Ramos. "Infelizmente, o cenário de curto prazo não é muito promissor."
O lado menos ruim do fato é que o corte da nota pode funcionar como um catalisador para a classe política brasileira fazer andar a agenda econômica. Na avaliação do diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, este seria o estímulo que faltava ao Congresso Nacional e ao governo para um pacto político em torno do reequilíbrio fiscal do País. Campos Neto concorda que, enquanto o impasse político não for resolvido, as questões econômicas e fiscais também não avançarão. "Como o cenário político está muito indefinido e pode se arrastar até 2018 não dá para enxergar uma luz no fim do túnel", afirmou. A Moody's afirmou que a adoção de uma meta flexível para o superávit primário não foi determinante para a decisão, mas destacou dificuldades do Congresso em aprovar reformas e atribuiu a perspectiva negativa às incertezas políticas e econômicas.

Fazenda afirma que trabalha para reconquistar confiança

O Ministério da Fazenda reagiu ao rebaixamento do Brasil pela agência de classificação de risco Moody's por meio de uma nota à imprensa na qual afirma que está adotando medidas estruturais para reverter as incertezas do mercado em relação à trajetória da dívida pública e retomar a confiança dos agentes econômicos.
Entre as ações, a Fazenda cita as propostas de reforma da Previdência, que será encaminhada ao Congresso até abril, e de fixação de um teto para os gastos públicos. "Todas essas iniciativas de caráter estrutural favorecerão a reversão das incertezas quanto à trajetória fiscal e a retomada da confiança dos agentes, condição importante para a retomada dos investimentos", afirma nota da equipe econômica.
O texto também destaca que a posição das agências de rating "não altera o comprometimento com o ajuste fiscal necessário para a estabilização da trajetória da dívida pública" e "a perspectiva de recuperação da economia brasileira no médio prazo".
A Moody's já havia indicado que iria rebaixar o Brasil no final do ano passado, quando colocou a nota do País em revisão com perspectiva negativa. Nesta quarta-feira, a agência reduziu em dois degraus a nota em moeda estrangeira de Baa3 para Ba2 com perspectiva negativa. Com isso, o Brasil perdeu o terceiro grau de investimento (selo de bom pagador) que também já havia sido retirado pela Standard & Poor's e pela Fitch. A nota da Fazenda lembra que a decisão da Moody's se deve à tendência de crescimento da dívida pública nos próximos 3 anos, combinada com recessão econômica e com um ambiente político desfavorável à adoção das medidas necessárias à reversão desse cenário.
Por outro lado, lembra a equipe econômica, a própria agência indica que "a consolidação fiscal e a aprovação de reformas contribuiriam para uma melhora do rating no futuro".