Além do desempenho no campo, os produtores de maçã do Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm outra preocupação em 2016: a concorrência chinesa. Isso porque o governo brasileiro pretende intensificar as trocas comerciais agrícolas com o país asiático, enviando frutas tropicais, como melão e manga, e recebendo em troca pera e maçã, por exemplo. Os chineses detém mais da metade da produção mundial, ou seja, 80 milhões de toneladas. Enquanto isso, a safra nacional é de cerca de 1,3 milhão de toneladas. O principal temor, entretanto, está nas condições de competitividade.
"Não temos receio de concorrer com outros mercados, pois temos tecnologia, qualidade e produtividade. A questão é que existe uma carga muito grande de subsídio do governo chinês para o seu produtor, gerando uma concorrência desleal", explica o presidente da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi), José Maria Reckziegel. A estimativa é de que uma caixa de 20 kg de maçã chinesa possa custar aqui R$ 34,00. Por outro lado, no segundo semestre, o valor padrão do produto nacional pode atingir R$ 60,00, quase o dobro. "Sabemos que eles entram aqui com um preço inferior ao nosso custo", completa Reckziegel.
A colheita da fruta se iniciou nas primeiras semanas de fevereiro. A expectativa dos gaúchos é obter um volume pouco abaixo de 480 mil toneladas, retração se o desempenho for comparado ao do ano passado, quando foram colhidas quase 500 mil toneladas. Atualmente, o Estado conta com pouco mais de 400 mil hectares plantados. A variedade Gala responde por 65% do total, seguida da Fuji, que abocanha 30% da área. Outras, como a Pink Lady, ocupam os 5% restantes. A primeira, mais precoce, está com mais de 40% colhida, enquanto a segunda e a terceira devem sair do campo apenas a partir de março.
O inverno ameno não satisfez plenamente a exigência de frio que a macieira necessita, o que causou brotação desuniforme das plantas. As geadas tardias de setembro, em regiões onde os pomares estavam em estágio de floração, assim como o granizo presente em 25% da área plantada, também não ajudaram no desenvolvimento da safra atual. O quadro é completado pelo excesso de chuvas e a baixa insolação, fatores que diminuem o tamanho e a fixação dos frutos nas plantas. A qualidade, entretanto, deve se manter nos mesmos níveis de 2015, espera a Agapomi.
No que se refere aos preços, os produtores projetam uma compensação em virtude da queda na oferta nacional. Além do mercado interno, existe a intenção de expandir as exportações, tendo ainda os países europeus como principais compradores. No ano passado, o Brasil enviou 60 mil toneladas para outros mercados. Em 2016, a projeção é de comercializar, junto ao exterior, um volume superior a 70 mil toneladas.
Oferta de mão de obra no setor é abundante neste ano
CADERNO DIA DA INDÚSTRIA 2010 COLHEITA DE MAÇÃS EM POMAR NA REGIÃO DE VACARIA.
ANDRÉ NETTO/ARQUIVO/JC
Até o ano passado, a escassez de mão de obra era uma das maiores dificuldades dos produtores de maçã. A colheita manual exige, em média, duas pessoas por hectare e empregou 15 mil funcionários sazonais em 2015, buscados na Fronteira-Oeste, em países do Mercosul e no Nordeste brasileiro. Em 2016, a estimativa da Associação Gaúcha de Produtores de Maçã (Agapomi) é de que sejam necessários 25 mil trabalhadores temporários para a colheita.
Em Santa Catarina, maior produtor da fruta no País, com 650 mil toneladas anuais, são requeridos mais 40 mil temporários. A oferta de mão de obra hoje, na região Sul, está acima da demanda, segundo a Agapomi. Para o presidente da entidade, José Maria Reckziegel, o quadro é resultado da retração econômica e do aumento do desemprego. "Não estamos conseguindo dar trabalho para todas as pessoas que nos procuram. Trata-se de uma situação inédita", diz.