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Teatro

- Publicada em 22 de Fevereiro de 2016 às 18:42

Descobrindo a Colômbia por seu teatro

Uma rápida passada pela Colômbia - além da surpresa de encontrar um país em que as pessoas são profundamente simpáticas, educadas e disponíveis, as cidades são limpas e existe um enorme esforço social no sentido de se constituir um sentido de cidadania em todo o país, em que pese a corrupção institucionalizada, o debate em torno dos narcos e a busca desesperada pela paz junto às guerrilhas -, revela um país de cultura popular profundamente dinâmica e viva e uma produção artística, histórica e contemporânea extremamente pujante.
Uma rápida passada pela Colômbia - além da surpresa de encontrar um país em que as pessoas são profundamente simpáticas, educadas e disponíveis, as cidades são limpas e existe um enorme esforço social no sentido de se constituir um sentido de cidadania em todo o país, em que pese a corrupção institucionalizada, o debate em torno dos narcos e a busca desesperada pela paz junto às guerrilhas -, revela um país de cultura popular profundamente dinâmica e viva e uma produção artística, histórica e contemporânea extremamente pujante.
Alguns dias antes de viajar, comprei o romance Sem tetas não há paraíso, de Gustavo Bolívar Moreno (Record), corajosa denúncia a respeito da corrupção de meninas menores (12 e 13 anos) que, para se tornarem amantes dos narcos, viam-se obrigadas a implantarem próteses de silicone nos seios. O sucesso do romance levou-o à tradução em vários países e sua transformação em série televisiva e, recém-lançado, surgiu o segundo romance da série, Sin tetas si, hay paraíso, contraponto que o escritor faz à sua própria obra: numa, a denúncia. Na outra, a afirmação de que nem tudo é corrupção, crime e descaminho na Colômbia.
Pois me preocupou o teatro. Não encontrei livros que trouxessem uma história do teatro ou da dramaturgia do país (há uma obra, me dizem, mas antiga e esgotada, editada por uma universidade). Cruzei, contudo, com dezenas de prédios, nas cidades por que passei (Cartagena das Índias, Bucaramanga, Bogotá), que atestam a ampla atividade teatral no país, pelo menos desde o século XVIII.
Os nativos colombianos, espalhados por seu relativamente amplo e variado território (marcado pela cultura africana na área do Caribe; pela ibérica mais ao Sul; pela indígena um pouco por todo o país), foram hábeis ourives desde pelo menos 1500 anos antes de Cristo. No teatro, suas culturas autóctones apresentaram rituais e espetáculos dramáticos variados desde sempre, enriquecidos depois pela contribuição européia (especialmente a partir dos sacerdotes jesuítas) e pelos escravos africanos.
A riqueza original do país, a riqueza propiciada pelo comércio (em Cartagena, por exemplo) e pela pirataria (inclusive de seres humanos) transformaram a região em área sensível à demonstração de poder (como ocorreria no século XVII na Espanha) também através do teatro. Assim, Cartagena chega a ter duas construções teatrais uma ao lado da outra, no espaço que hoje está próximo à Porta do Relógio, por onde se entra para a "cidade amuralhada", a parte histórica da cidade, além do teatro Heredia, que leva este nome em homenagem ao libertador da colônia, erguido em comemoração ao centenário de independência do país, sobre a capela do claustro de La Merced, por Luis Felipe Jaspe, onde se apresentaram óperas e espetáculos de grandes companhias internacionais. O prédio foi inteiramente restaurado em 1998, pelo arquiteto Alberto Samudio Trallero, com pinturas originais de Enrique Grau. Semelha nosso Theatro São Pedro, mas é maior (quatro andares) e todo dourado, graças às riquezas minerais da região.
Todas as cidades médias e grandes colombianas possuem tais salas. E ativas. No fim de semana em que passei por Bogotá, anunciava-se a estreia da polêmica ópera Salomé, de Richard Strauss, com interpretações locais e internacionais, orquestra e regente também nacionais.
Se não encontrei livros específicos sobre uma história panorâmica das artes cênicas colombianas, vi muitas obras específicas sobre grupos e movimentos. Mais: dezenas de autores dramáticos têm suas peças editadas em livro, à venda nas maiores livrarias, e pelo menos um ensaio, Geografías del teatro en América Latina, de Mariuna Lamus Obregón, que comprei, evidencia um esforço para um estudo abrangente sobre uma história das artes cênicas no continente, o que é absolutamente inédito entre nós.
Em suma, a Colômbia se apresenta ao visitante como um enigma a ser desvendado. Longe da dramática imagem de marginalização que a mídia nos sugere, ansiosa e persistente na busca de uma identidade e de uma afirmação.
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