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Gás e bioenergia

- Publicada em 22 de Fevereiro de 2016 às 22:35

País tem alto potencial para a geração de biogás

 PLANTA PILOTO DE PRODUÇÃO DE BIOMETANO EM MONTENEGRO.    NA FOTO: GASÔMETROS

PLANTA PILOTO DE PRODUÇÃO DE BIOMETANO EM MONTENEGRO. NA FOTO: GASÔMETROS


JOÃO MATTOS/JC
Depois de uma alta de mais de 50% nas contas de luz no ano passado, vale quase tudo para economizar. Até mesmo investir em lixo. Já existem cidades no País que planejam gerar sua própria energia a partir de matéria orgânica (lixo, resíduos agrícolas e dejetos animais). Em Curitiba, um projeto-piloto prevê não apenas o uso de lixo urbano, mas também do próprio esgoto.
Depois de uma alta de mais de 50% nas contas de luz no ano passado, vale quase tudo para economizar. Até mesmo investir em lixo. Já existem cidades no País que planejam gerar sua própria energia a partir de matéria orgânica (lixo, resíduos agrícolas e dejetos animais). Em Curitiba, um projeto-piloto prevê não apenas o uso de lixo urbano, mas também do próprio esgoto.
A multiplicação de projetos não é à toa. Um estudo inédito da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (Abiogás) indica que o País tem potencial para gerar 23 bilhões de metros cúbicos por ano de biometano o produto final de uma usina de biogás.
O biometano, que tem poder calorífico igual ao gás natural, permitiria gerar até 37 milhões de megawatts por ano de energia, pouco mais de um terço da energia gerada por ano pela usina de Itaipu.
Do volume total de biometano que pode ser gerado, 3 bilhões de metros cúbicos viriam do lixo urbano (saneamento), 8 bilhões de metros cúbicos de agricultura (rejeitos) e dejetos animais, e 12 bilhões de metros cúbicos a partir de cana-de-açúcar.
"A geração de energia em usinas de biogás é barata, com abundância de material disponível e que, além de aliviar a conta de luz, pode reduzir a poluição dos rios e a emissão de gases do efeito estufa", afirmou Cícero Bley Júnior, presidente da Abiogás.
Nos cálculos da Abiogás, no futuro, esta fonte poderia representar até 12% da matriz energética brasileira, contra o patamar atual, de 0,05%. Com o biometano é possível produzir desde energia elétrica até combustível veicular (GNV), além de poder ter uso em termelétricas substituindo o carvão, que é mais poluente. Representantes do setor pretendem levar ao Ministério de Minas e Energia uma proposta para um Programa Nacional de Biogás e Biometano. Segundo Bley Júnior, o País já tem a tecnologia necessária e vários fabricantes de usinas de biogás, de biodigestores e componentes. "Uma política nacional poderá incentivar o surgimento de novos fabricantes, gerando mais investimentos e empregos", afirmou.
O estudo estima que um projeto de biogás para produção de 1 megawatt (MW) custa R$ 2,5 milhões, um patamar vantajoso em relação ao de outras fontes de energia, como microcentrais hidrelétricas e energia solar.
Mesmo sem um programa efetivo de incentivo ao setor, já existem projetos em desenvolvimento no País. Entre eles, um dos destaques é o pequeno município de Entre Rios do Oeste, no Paraná, que tem 4 mil habitantes e 140 mil suínos. A cidade começou a fazer obras para gerar energia a partir dos dejetos de porcos, e o objetivo é atender a 100% da demanda de Entre Rios do Oeste. As primeiras etapas de operação do projeto, que envolvem fazendeiros criadores de suínos e aves, começaram em janeiro. Ao todo, 19 propriedades participam em parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel) e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás).
"Vai se tornar a primeira cidade do País abastecida por biogás gerado a partir de dejetos de animais. Ainda vai solucionar um grave problema ambiental de poluição de rios. A cidade tem 4 mil habitantes, mas os danos ambientais com dejetos animais equivalem a uma cidade de 500 mil habitantes", disse Bley Júnior.
Outro exemplo é um projeto de Parceria Público-Privada (PPP) da CS Bioenergia, em Curitiba, que usa, além de rejeitos de lixo urbano como alimentos vencidos, restos de comida de restaurantes e shoppings, o lodo do esgoto sanitário para gerar energia.
"No Brasil, o biogás ainda é um negócio novo, apesar de a tecnologia já ser consagrada no exterior. Precisamos de uma política pública para desenvolver uma cadeia de suprimento para o biogás - disse Luciano Fedalto, diretor técnico da CS Bioenergia.
Segundo Fedalto, a empresa privada, em parceria com a Sanepar, estatal de saneamento do Paraná, está construindo um projeto de biogás na capital. Com investimentos de R$ 62 milhões, a primeira etapa ficará pronta até o fim do ano. Serão usados 700 metros cúbicos por dia de lodo de esgoto e 200 toneladas de resíduos orgânicos (restos de alimentos). O biogás vai, por dutos, para a minicentral térmica em construção no mesmo complexo e vai gerar 2,8 megawatts médios (MWmédios).
"Usamos um mix de tecnologias desenvolvidas por nós com outras tecnologias europeias. Será a primeira usina de biogás do gênero no País com uso de lodo de esgoto. Mas é fundamental o País ter uma política para incentivar mais estes projetos."

Oferta de bioeletricidade tem boas chances de crescimento

A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) diz que o volume de bioeletricidade oferecida ao sistema nacional pode aumentar em até oito vezes até 2024, tendo por base 2014, se o governo promover leilões de energia voltados à biomassa com preços mais competitivos. "Os leilões são fundamentais, porque dão previsibilidade para o contratante, o contratado e o financiador, estimulando o investimento", disse a presidente da entidade, Elizabeth Farina.
Segundo ela, os leilões asseguram demanda e proporcionam melhores condições de comercialização a venda para as distribuidoras é feita em até 25 anos (A-5), o produto entregue é reajustado pelo IPCA e há baixo risco de crédito. Além disso, os contratos de longo prazo contribuem para as garantias necessárias à obtenção de financiamentos no mercado. O primeiro leilão de biomassa foi realizado em 2008, com 31 propostas que totalizaram 541 MW. Desde então foram feitos, em média, dois leilões por ano.
No ano passado, o governo promoveu três leilões de biomassa, com participação de três projetos e oferta total de 52 MW. Os preços, entretanto, variaram de R$ 215,00 a R$ 281,00 por MWh. Segundo o gerente em Bioeletricidade da Unica, Zilmar Souza, é papel do governo buscar tarifas mais baixas para o consumidor final, mas ele vê "imperfeições" no modelo de leilões.
"O preço tem sido praticado aquém do potencial. E essa oscilação em um mesmo ano prejudica a previsibilidade. O ideal é que o preço se mantenha ou melhore", comentou. Para ele, valores atrativos poderiam compensar o número reduzido de leilões de biomassa e incentivar a participação do setor.
Na defesa da bioeletricidade, o segmento de cana-de-açúcar destaca que o maior uso ajudaria o Brasil a cumprir as metas traçadas na COP-21, em Paris, para redução das emissões de gases do efeito estufa (GEEs).
"É essencial que o País estabeleça políticas públicas bem estruturadas e de longo prazo na gestão do sistema interligado de fornecimento de energia", disse Farina. Na COP-21, o Brasil se comprometeu a elevar a fatia de energias renováveis de 10% para 23% da matriz energética até 2030. Atualmente, o setor sucroenergético responde por 80% desse tipo de geração, mas apenas metade das 355 usinas espalhadas pelo Brasil exportam energia para a rede.
Em 2015, a oferta de energia obtida a partir da biomassa teve crescimento estimado de 7%, com geração total próxima a 22 TWh. O Brasil é hoje o País com maior capacidade instalada de geração de eletricidade a partir da biomassa, com 15,3% do total mundial, de acordo com dados da International Renewable Energy (Irena). Atrás vêm Estados Unidos (13,6%), China (11,8%), Índia (6,2%) e Japão (5%).
Farina disse que a queda das cotações internacionais do petróleo dificulta o cumprimento das metas da COP-21 tanto para o Brasil como para os demais países. "Cresce a atração por uma energia que custa barato", justificou.
A presidente da Unica, contudo, prevê que mesmo assim haverá investimentos em energias renováveis. "Combustíveis fósseis são subsidiados, e a recomendação que se faz é de taxação do carbono", destacou. "Tem de ser colocada neste momento, para afetar menos o consumidor final e é um bom momento também para incorporação de políticas públicas para a biomassa."