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Teatro

- Publicada em 25 de Janeiro de 2016 às 18:55

Nas pegadas do cabaré

O diretor argentino Néstor Monasterio (que teimo em chamar de uruguaio) está há cerca de três décadas trabalhando entre nós, e sempre se renovando. Sua façanha mais recente acaba de estrear no Porto Verão Alegre. Trata-se de Sexteto, conjunto de histórias que tem escrita de Artur José Pinto e do próprio diretor, com um elenco de seis intérpretes (daí o sexteto), mas que destaca como tema central o sexo (e daí ser um sex teto). Nestes dias caniculares, nada como um espetáculo leve, inteligente, maduro, que não tem medo de falar de certos assuntos meio tabus, como lembra o narrador, mas sempre com alegria e criatividade, fazendo jogos de palavras e revelando um elenco múltiplo, porque capaz de cantar e tocar diferentes instrumentos, além de dançar.
O diretor argentino Néstor Monasterio (que teimo em chamar de uruguaio) está há cerca de três décadas trabalhando entre nós, e sempre se renovando. Sua façanha mais recente acaba de estrear no Porto Verão Alegre. Trata-se de Sexteto, conjunto de histórias que tem escrita de Artur José Pinto e do próprio diretor, com um elenco de seis intérpretes (daí o sexteto), mas que destaca como tema central o sexo (e daí ser um sex teto). Nestes dias caniculares, nada como um espetáculo leve, inteligente, maduro, que não tem medo de falar de certos assuntos meio tabus, como lembra o narrador, mas sempre com alegria e criatividade, fazendo jogos de palavras e revelando um elenco múltiplo, porque capaz de cantar e tocar diferentes instrumentos, além de dançar.
Jussara Miranda ajudou na coreografia, e Simone Rasslan auxiliou na parte musical. O resultado é um trabalho divertidíssimo, que lembra muito os antigos espetáculos dos cabarés alemães e que chegaram a ser apresentados entre nós, ao tempo das confeitarias, tipo Rocco. Anteciparam, de certo modo, as "revistas" que marcariam época entre nós. A diferença é que, enquanto a revista, como seu nome indica, fazia uma revisão do ano recém-findo, glosando os temas abordados, em especial os da política, o espetáculo do cabaré, que também mistura música, coreografias e recitativos, tem maior liberdade temática, pois basta uma pequena e tênue linha para juntar suas diferentes e em princípio distantes partes.
É o que acontece neste espetáculo. O tema do sexo é introduzido através de referências a Freud. Mas depois, o que se explora, efetivamente, são usos e costumes da sociedade brasileira, brincando com os assuntos propostos, sem medo de dizer, em voz alta, palavras que, muitas vezes, apenas sussurramos. E isso porque tudo é apresentado com humor e num tom ligeiro, sem maior responsabilidade, divertindo e surpreendendo, muitas vezes, pelo enfoque escolhido.
É evidente que este tipo de espetáculo, embora pareça fácil, na verdade, não o é. O diretor precisa ter o elenco na mão, e o elenco precisa estar muito afinado, porque qualquer perda de ritmo é um desastre. Mais que isso, os intérpretes precisam ter o sentido de ritmo, estarem preparados para alguma improvisação, se necessário for, e, sobretudo, evidenciar versatilidade. Pois é tudo isso que Néstor Monasterio conseguiu reunir no grupo que contracena com ele: sim, porque, desta vez, Monasterio não apenas se torna ator quanto músico (não sei se ele efetivamente dedilha a guitarra, mas parece que sim). Heloísa Palaoro surpreende com um domínio vocal que, confesso, desconhecia. Kiti Santos toca diferentes instrumentos e ainda canta. Cíntia Ferrer faz o tipo coquete, sempre alegre e com um trejeito sapeca. Léo Ferlauto é impagável: deve rondar a casa dos 60 anos (de teatro...) e continua um guri: tem o tom sempre certo, o comedimento e a segunda intenção necessária, o desenho histriônico correto, gestos sutis, mas precisos, é um espetáculo à parte dentro do espetáculo. Lucas Krug é muito engraçado e tem uma voz excelente, com entonação precisa. E Néstor Monasterio se revela uma presença muito forte em cena, comandando o espetáculo desde o palco, coisa que nem sempre é fácil, mas evidenciando o quanto o grupo está afinado.
Sexteto é um espetáculo com cerca de hora e meia de duração, divertido, bem construído, que não perde nunca o ritmo e rouba risadas e gargalhadas, ao mesmo tempo em que vai dando seu recado. É o tipo do espetáculo que, por trás de sua aparente facilidade, exige uma dedicação imensa do intérprete, um cuidado de produção, um controle para que não ocorram exageros ou brilhantismos desnecessários de algum intérprete, porque vive do coletivo, e o coletivo, aqui, não é apenas o elenco, mas é efetivamente todo o conjunto de artistas que interveio para chegar a este resultado que o público assiste desde a plateia.
Em síntese, com crise ou sem crise, este Porto Verão Alegre está se saindo melhor que a encomenda, com estreias variadas e espetáculos de boa qualidade, que devem ser prestigiados pelo público.
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