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Empresas & Negócios

- Publicada em 25 de Janeiro de 2016 às 10:09

Brasil ruma para as finanças alternativas

 Robert Wardrop - divulgação crownfunding insider

Robert Wardrop - divulgação crownfunding insider


CROWNFUNDING INSIDER/DIVULGAÇÃO/JC
Cristine Pires
Quando Robert Waldrop começou sua carreira no Grupo de Gestão da Procter & Gamble, no Canadá, as finanças alternativas ainda eram um tema incipiente. Hoje, o professor da Escola Judge de Administração de Empresas da Universidade de Cambridge (Inglaterra) dirige uma unidade de estudo sobre os novos sistemas de captação de recursos. Com experiência de 30 anos de mercado e passagem por empresas como a Anschutz Investment Company, dedica-se a pesquisar a sociologia por trás da tomada de decisão financeira, o que envolve confiança organizacional, influência de instituições sociais e formas não convencionais de busca de aportes financeiros para micro, pequenas e médias empresas. Para o especialista, o Brasil apresenta grande potencial para esta modalidade e tem se desenvolvido mais que outros países da América Latina.
Quando Robert Waldrop começou sua carreira no Grupo de Gestão da Procter & Gamble, no Canadá, as finanças alternativas ainda eram um tema incipiente. Hoje, o professor da Escola Judge de Administração de Empresas da Universidade de Cambridge (Inglaterra) dirige uma unidade de estudo sobre os novos sistemas de captação de recursos. Com experiência de 30 anos de mercado e passagem por empresas como a Anschutz Investment Company, dedica-se a pesquisar a sociologia por trás da tomada de decisão financeira, o que envolve confiança organizacional, influência de instituições sociais e formas não convencionais de busca de aportes financeiros para micro, pequenas e médias empresas. Para o especialista, o Brasil apresenta grande potencial para esta modalidade e tem se desenvolvido mais que outros países da América Latina.
JC Empresas & Negócios - Qual é a definição de finanças alternativas?
Robert Wardrop - São instrumentos de finanças que emergem de fora do sistema regulado das instituições financeiras. Podemos citar como exemplo o crowdfunding (financiamento coletivo por meio de plataformas on-line). Ideias assim não partiram de um banco, assim como muitas outras inovações que vemos por aí, em outras áreas como crédito e meios de pagamento. O interessante é que, se bem-sucedidos, esses novos instrumentos acabam entrando no sistema regulado. As fintechs têm influenciado o desenvolvimento desses canais alternativos de finanças.
Empresas & Negócios - O Brasil apresenta potencial para esta modalidade de financiamento?
Wardrop - Estamos, hoje, em um processo de coleta de dados sobre as várias formas de financiamento alternativo on-line, incluindo crowdfunding e concessão de empréstimos sem intermediação bancária, em países da América Latina. O que percebemos, até agora, é que o Brasil parece estar se desenvolvendo mais rapidamente do que a maioria das outras nações latino-americanas, apesar de apresentar um ambiente regulatório menos desenvolvido para este tipo de atividade do que alguns de seus vizinhos. Uma grande parte dos financiamentos ao consumidor brasileiro se dá fora das instituições financeiras. Plataformas de empréstimo alternativas costumam usar modelos de scoring de crédito ( sistema usado por instituições financeiras para avaliar risco na concessão de crédito aos consumidores) incorporando novas formas de captar dados para conceder empréstimo a pessoas que têm histórico de crédito insuficiente para se qualificar junto a credores tradicionais. O que o seu uso de telefone móvel pode dizer a um credor alternativo sobre a sua credibilidade, por exemplo? Se você desligar o telefone no mesmo local nos dias úteis, mas ligá-lo em um lugar diferente no fim de semana, isso sugere que você pode ser um trabalhador que mora em uma cidade e trabalha em outra. Existem muitas fontes de dados como essa que podem ser utilizadas para avaliar, de uma maneira não tradicional, o potencial quanto à capacidade de pagamento de dívidas. Essas novas abordagens de análise devem reduzir a vantagem de financiadores tradicionais e, assim, aumentar a disponibilidade e reduzir o custo dos empréstimos a consumidores e pequenas empresas . As fintechs desempenham um papel importante no apoio a esse desenvolvimento, pois fornecem os dados, têm capacidades de processamento e ferramentas necessárias para gerenciar operações em conformidade com a legislação e os regulamentos, o que permite aos novos operadores de financiamento alternativo que tenham condições de competir.
Empresas & Negócios - Quais são as condições para o crescimento das fintechs no Brasil?
Wardrop - A grande questão que permanece sem resposta, no entanto, é se essas novas abordagens para o trabalho de análise de crédito alternativo funcionam tão bem, ou até melhor, do que as tradicionais. Em muitos mercados, os reguladores estão atentos à atividade de financiamento alternativo para tentar encontrar um equilíbrio entre apoiar um potencial de uma nova fonte de recursos para a inovação e o crescimento econômico, e buscar garantir que os investidores individuais que participam desta modalidade não assumam um risco de investimento que não possam arcar. Teremos uma avaliação mais específica sobre o Brasil a partir do momento em que analisarmos os dados de nossa pesquisa, o que devemos fazer no início de abril.
Empresas & Negócios - Quais são as áreas dos bancos que serão mais afetadas com essa onda de fintechs que cresce em todo mundo?
Wardrop - Muitas áreas serão afetadas, mas acredito que a principal delas é a de empréstimos para consumidores e pequenos empresários. Se antes os bancos eram os únicos a ter informações sobre os indivíduos ou sobre as empresas para realizar, então, a análise de crédito, hoje, as pegadas digitais que existem na internet permitem que startups com pouco tempo de existência façam uma análise minuciosa e eficiente dos riscos do indivíduo ou empresa não pagar pelo empréstimo. Há uso de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, e as análises são feitas em segundos, sem que a pessoa vá a uma agência bancária ou já tenha feito algum empréstimo. Um dos maiores exemplos mundiais nessa área é a empresa Kreditech, de Hamburgo (Alemanha) que, usando Big Data, consegue fazer análise de créditos em 35 segundos, com operações realizadas 100% por meio de canais on-line.
Empresas & Negócios - Diante dessas novas tecnologias como ficam as instituições tradicionais?
Wardrop - Os bancos estão sem outra saída que não seja a colaboração com essas inovações que vem de fora. A tecnologia está mudando tudo de forma muito rápida e eles sabem que têm de inovar. Ao mesmo tempo, operam em um mercado extremamente regulado e com uma cultura corporativa muitoconservadora que dificulta esse movimento. Por isso, é cada vez mais comum essa colaboração de empresas tradicionais e mais sólidas com essas startups do setor financeiro.
Empresas & Negócios - A colaboração também é positiva para as startups do setor financeiro? Por quê?
Wardrop - Extremamente positiva por três razões. É bacana ter ideias inovadoras, a partir de novas tecnologias, mas elas não podem ser colocadas em prática se você não tem acesso ao mundo real. A partir de parcerias com grandes instituições financeiras, essas startups têm acesso a informações que fazem com que os produtos e serviços sejam desenvolvidos de forma mais rápida e melhor. Além disso, há uma questão de validação, de ganho de credibilidade. A partir do momento que a startup tem um reconhecimento, uma parceria, alguma relação com uma instituição financeira já consolidada no mercado, fica mais fácil de apresentar e validar seu produto perante outras empresas. Por último, essas parcerias podem se transformar em oportunidades lucrativas para as fintechs, por meio da venda de seus produtos e serviços.
Empresas & Negócios - Como a onda das fintechs vai mudar o dia a dia das pessoas em todo o mundo?
Wardrop - No que diz respeito a empréstimos, por exemplo, grande parte dos custos para os clientes está relacionada à insegurança da análise de crédito, na capacidade ou não do individuo pagá-lo. A partir do momento que a tecnologia possibilita uma análise mais rápida, eficiente e barata, os custos podem diminuir, assim como as burocracias. Isso é muito positivo para as pessoas. Acredito, no entanto, que as pessoas devem dar uma atenção maior a todas as pegadas digitais que deixam na rede, mesmo sem perceber. As pessoas têm de levar isso em consideração, porque essas informações estão sob análise a todo instante.
*Com Agência Estado
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