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mercado de capitais

- Publicada em 20 de Janeiro de 2016 às 18:43

Queda na bolsa chega às corretoras

Os três anos consecutivos de resultados negativos na BM&FBovespa impactaram no desempenho das empresas independentes

Os três anos consecutivos de resultados negativos na BM&FBovespa impactaram no desempenho das empresas independentes


MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/JC
Três anos seguidos de queda da bolsa, aperto nos juros e pagamento de dívidas antigas estão cobrando seu preço às corretoras brasileiras. Levantamento feito com base nos balancetes trimestrais submetidos pelas instituições ao Banco Central mostra que, entre as 40 maiores corretoras e distribuidoras de valores mobiliários do Brasil em patrimônio líquido, 15 acumularam prejuízo entre janeiro e setembro de 2015. O levantamento considerou apenas empresas independentes (que não integram grupos bancários) e que apresentaram todos os balancetes desde o início de 2014. Os dados fechados de 2015 serão divulgados em março.
Três anos seguidos de queda da bolsa, aperto nos juros e pagamento de dívidas antigas estão cobrando seu preço às corretoras brasileiras. Levantamento feito com base nos balancetes trimestrais submetidos pelas instituições ao Banco Central mostra que, entre as 40 maiores corretoras e distribuidoras de valores mobiliários do Brasil em patrimônio líquido, 15 acumularam prejuízo entre janeiro e setembro de 2015. O levantamento considerou apenas empresas independentes (que não integram grupos bancários) e que apresentaram todos os balancetes desde o início de 2014. Os dados fechados de 2015 serão divulgados em março.
A corretora com a maior perda é a Gradual, com prejuízo acumulado de R$ 37,34 milhões. Depois vem a Souza Barros, com perdas de R$ 32,64 milhões. Em agosto, essa sangria levou ao fechamento da corretora, que era a mais antiga em atividade no Brasil, após 87 anos no mercado. Outro prejuízo importante foi o da Spinelli, que perdeu R$ 19,8 milhões de janeiro a setembro. "As corretoras estão muito dependentes de ações. Se a Bolsa cai, ficam em situação difícil", diz Marcelo Verdini Maia, superintendente da FGV Management no Rio.
De acordo com Caio Villares, presidente da Ancord, associação que reúne as corretoras e distribuidoras, vários fatores explicam a crise. Um deles é o impacto da adesão ao Refis, programa de refinanciamento de débitos tributários sobre impostos devidos pelas corretoras desde 2007. Na época, houve a conversão de títulos patrimoniais que detinham em ações da Bovespa e da Bolsa de Mercadorias (BM&F), processo que resultou na criação da BM&F Bovespa, em 2008. Para o Fisco, as instituições tinham que pagar impostos sobre os ganhos com a venda das ações.
Em janeiro de 2015, uma lei abriu a possibilidade de renegociação da dívida com descontos. As empresas tiveram que desembolsar o montante no ano passado. Mas Villares reconhece que é apenas parte do problema. "Vivemos um momento macroeconômico adverso para o mercado de capitais, e as corretoras têm relação muito próxima ao comportamento do setor. Em um ano em que não tiveram aberturas de capital na bolsa, fica muito clara essa debilidade. Mas o principal problema é o nível dos juros, que são imbatíveis."
Com prejuízo de R$ 37,34 milhões até setembro, a Gradual foi afetada pelo Refis. Segundo a diretora executiva, Fernanda de Lima, a corretora pagou R$ 20 milhões em 2015 para quitar a dívida renegociada. Mas admite que também houve o efeito de enxugamento do segmento de corretagem de clientes institucionais. "O volume do segmento institucional brasileiro teve queda de 30%. A Gradual perdeu a certificação do Programa de Qualificação Operacional da Bovespa, exigido por muitos clientes internacionais", conta Fernanda, destacando que a questão está ligada a uma disputa societária.
Agora, a corretora mira os clientes de varejo, que significam menos custos para a empresa. A Gradual se reorientou para a prestação de serviços de de administração e custódia de fundos, sobretudo FIDC, FIP fundos imobiliários, enxergando aí um vácuo deixado pelos bancos. Além disso, cortou o número de funcionários de 170 para menos de 70, e entregou um andar do seu escritório em São Paulo e parte da unidade carioca. A reestruturação visa a reduzir, ao todo, R$ 3 milhões em custos mensais.
Muitas corretoras passaram a oferecer letras de crédito (LCA e LCI), títulos do tesouro e CDBs. Essa reorientação se intensificou em 2015, ano em que a Bolsa caiu 13,3% e os juros básicos saltaram de 11,75% para 14,25%. Enquanto o número de pessoas físicas cadastradas na Bolsa terminou novembro em 583 mil, praticamente o mesmo número de 2011, no Tesouro Direto, a quantidade de investidores saltou 33% apenas em 2015, atingindo 604 mil em novembro.
A Easynvest, por exemplo, teve prejuízo em 2014, mas lucrou R$ 3,5 milhões nos três primeiros trimestres de 2015. A estimativa de ganhos para o ano passado é de R$ 6 milhões. "A renda fixa representa cerca de dois terços da receita. Somos remunerados pelo spread, a diferença entre o que o banco me cobra e o que repasso para o investidor. Como ofereço uma vantagem aos bancos, que não precisam, por exemplo, se preocupar com o cadastro de clientes, eles conseguem me oferecer uma taxa atraente", afirma Amerson Magalhães, diretor da Easynvest.

Fator focará atuação em áreas com maior retorno

A crise econômica já afeta o mercado financeiro. Com 49 anos de atuação, a Fator Corretora de Valores terá sua atividade "redimensionada" e sua unidade no Rio de Janeiro será fechada. Além disso, a instituição prepara um reposicionamento da atuação do banco, que ainda está em processo de finalização. A intenção é focar o trabalho em áreas mais demandadas e diminuir as atividades em outros segmentos que dão menos retorno ao grupo.
A informação foi dada a colabores e clientes no dia 18 de janeiro, e reenviada  por e-mail assinado pelo presidente do Banco Fator, Marco Antonio Bologna. O grupo reúne também administradora e a área de seguros. O objetivo dessas mudanças é a redução de custo e adaptação "à conjuntura a ser enfrentada em 2016". A decisão da instituição ocorreu "em função dos desafios enfrentados pela economia brasileira, de um modo geral, e pelo mercado de capitais, em particular".
O e-mail cita que houve nos últimos anos "profundas mudanças estruturais" no mercado de capitais, como o encolhimento do volume de operações, queda no número de investidores, aumento de custos regulatórios e a concentração de mercado. A primeira medida adotada foi a redução da atividade em São Paulo, com a preservação de quadro de funcionários suficiente para atender clientes - a nota diz que, para os clientes do Private Banking do Banco Fator, atendidos pela capital paulista, não haverá nenhuma alteração em suas operações.
No caso da unidade do Rio de Janeiro, a empresa decidiu pelo fechamento da corretora na última segunda-feira e os clientes serão atendidos pela mesa de operações de São Paulo. Não há mudanças nas demais unidades de negócio do grupo. Conforme explica o e-mail, o efetivo encerramento ocorrerá após o envio de comunicado ao Banco Central.
A terceira decisão foi a de colocar um fim às análises de mercado (atividades de research) e do fornecimento de relatórios. "Em consonância com as mudanças estratégicas no foco de negócios da Corretora, serão descontinuados também os serviços de Equity Research", trouxe o e-mail. Os relatórios de análise de mercado, elaborados por terceiros, disponibilizados aos clientes da área de Private Banking do Banco Fator e aos clientes da plataforma eletrônica fator4U, permanecerão disponíveis. De acordo com a assessoria de imprensa, com essas mudanças, houve 23 desligamentos na corretora, que passa a contar com cerca de 30 profissionais. O grupo todo conta com aproximadamente 340 funcionários.

Investidores retiram US$ 2,3 bilhões do Brasil

Investidores internacionais retiraram US$ 2,3 bilhões de aplicações financeiras no Brasil (já descontadas todas as entradas de recursos) nas duas primeiras semanas deste ano. Os dados do chamado fluxo cambial financeiro foram divulgados pelo Banco Central. Nos 15 primeiros dias do ano passado, a saída de recursos do mercado financeiro era de apenas US$ 304 milhões. No entanto, em janeiro de 2015, os aplicadores internacionais regressaram e o mês fechou no azul em US$ 4,1 bilhões.
O pessimismo de investidores em relação ao Brasil não é a única influência no desempenho da entrada e saída de dólares. A cotação da moeda americana influencia o chamado fluxo de comércio exterior, ou seja, o dinheiro que circula por causa das operações comerciais com os outros países. Em janeiro do ano passado, o dólar estava na casa dos R$ 2,70. Hoje, está acima de R$ 4,00.
Com isso, os exportadores vendem mais. E a diferença entre as entradas e saídas de moeda em operações comerciais foi positiva em US$ 1,5 bilhão nas duas primeiras semanas. No mesmo período de 2015, o fluxo comercial era negativo em US$ 215 milhões.
Por causa desse saldo, o resultado total do fluxo cambial (financeiro e comercial) nos primeiros 15 dias ficou negativo em US$ 843 milhões. No mesmo período de 2015, o saldo estava no vermelho em US$ 1 bilhão.

Volume de fusões e aquisições atinge menor nível desde 2009

 PICTURE TAKEN AT SAO PAULO'S STOCKS EXCHANGE (BOVESPA) HEADQUARTERS IN DOWNTOWN SAO PAULO, BRAZIL, ON AUGUST 24, 2015. STOCKS IN BRAZIL AND MEXICO, LATIN AMERICA'S TWO LARGEST EXCHANGES, FELL SHARPLY MONDAY AS PLUNGING CHINESE SHARES UNLEASHED FRESH TURMOIL ON GLOBAL MARKETS. SAO PAULO'S IBOVESPA STOCK INDEX FELL 6.49 PERCENT IN OPENING TRADE BEFORE RECOVERING SLIGHTLY, WITH SHARES DOWN 4.5 PERCENT AT MID-MORNING.   AFP PHOTO / MIGUEL SCHINCARIOL

PICTURE TAKEN AT SAO PAULO'S STOCKS EXCHANGE (BOVESPA) HEADQUARTERS IN DOWNTOWN SAO PAULO, BRAZIL, ON AUGUST 24, 2015. STOCKS IN BRAZIL AND MEXICO, LATIN AMERICA'S TWO LARGEST EXCHANGES, FELL SHARPLY MONDAY AS PLUNGING CHINESE SHARES UNLEASHED FRESH TURMOIL ON GLOBAL MARKETS. SAO PAULO'S IBOVESPA STOCK INDEX FELL 6.49 PERCENT IN OPENING TRADE BEFORE RECOVERING SLIGHTLY, WITH SHARES DOWN 4.5 PERCENT AT MID-MORNING. AFP PHOTO / MIGUEL SCHINCARIOL


MIGUEL SCHINCARIOL/AFP/JC
O número total de fusões e aquisições no Brasil em 2015 caiu 16% em relação ao ano anterior, para 742, atingindo o menor nível desde 2009, segundo os dados mais recentes da consultoria PwC. Com a economia brasileira em crise e a forte valorização do dólar no ano passado, os estrangeiros lideraram as transações pela primeira vez em 15 anos. Das 742 operações de fusões e aquisições anunciadas no ano passado, 218 tiveram seu valor divulgado, totalizando US$ 34,85 bilhões. Trata-se de uma queda de 68% na comparação com o volume das transações com valores anunciados em 2014. Foram sete grandes acordos superiores a US$ 1 bilhão e 51 com valores entre US$ 101 milhões a US$ 999 milhões. As demais aquisições foram de pequeno porte.
No ano de 2015, os investidores estrangeiros estiveram presentes em 51% das transações, bem acima da participação do ano anterior, de 38%, e o maior nível desde 2000, quando chegou a 57%. As empresas de capital americano continuaram liderando o ranking de operações, seguidas das britânicas e das japonesas. "Os chineses têm aparecido bastante, mas eles são muito seletivos. Fazem grandes e poucas operações, em setores bem definidos, como o de infraestrutura", diz Rogério Gollo, sócio da PwC Brasil e líder da área de fusões e aquisições.
Para este ano, o executivo prevê nova queda na participação de empresas brasileiras nas aquisições e presença ainda maior de estrangeiros. "Com base nas consultas que nos fazem, estimo um aumento de 20% na participação de companhias de fora nas transações."
"As empresas estão esperando um cenário político e econômico mais claro e certa estabilidade do dólar. Se isso acontecer, as fusões e aquisições vão crescer. Mas se as condições piorarem, com acirramento da disputa política, com mais inflação e alta de juros, aí haverá nova queda", explica.
Entre os investidores financeiros, o apetite, segundo Gollo, tem sido menor, em função do risco cambial, já que normalmente esse tipo de fundo compra participações em empresas para revender em um prazo relativamente curto, de dois, três anos. Para as multinacionais que esperavam uma brecha para entrar ou se fortalecer no mercado brasileiro, o momento é particularmente interessante, diz o executivo. "Tivemos uma pequena janela entre 2008 e 2009 e antes disso só em 2002, 2003. Para quem planeja estar no Brasil, a hora é agora."