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Cinema

- Publicada em 23 de Dezembro de 2015 às 22:13

A vingança

O cinema norte-americano várias vezes refilmou sucessos estrangeiros, algumas com inegável êxito. Embora na maioria das oportunidades os resultados tenham sido desastrosos ou insignificantes, é justo lembrar que, em duas ocasiões, a primeira em 1960, quando John Sturgess adaptou para o gênero western a história dos Sete samurais, de Kurosawa, e a segunda em 1964, quando outro clássico daquele cineasta japonês, Rashomon, deu origem a Quatro verdades, de Martin Ritt, as variações em torno dos temas originais se concretizaram em filmes bastante apreciáveis. O curioso em Olhos da justiça, uma refilmagem de O segredo dos seus olhos, realizado em 2009 e um dos êxitos do atual cinema argentino, é que o diretor Juan José Campanella, o realizador daquela obra-prima, aparece como produtor executivo desta produção americana. Isso significa, sem dúvida, que o cineasta aprovou a refilmagem e concordou com a escolha do diretor e elenco. Certamente isso influenciou em muitos aspectos positivos do filme de Billy Ray, sem que isso signifique que seus méritos permitam uma aproximação com o original. É importante também lembrar que o compositor Emilio Kauderer, que muito contribuiu para a atmosfera do original, também está presente na nova versão. Mas como Ray não é Campanella, o impacto é bem menor, até porque uma história contada duas vezes sempre perde algo na repetição.
O cinema norte-americano várias vezes refilmou sucessos estrangeiros, algumas com inegável êxito. Embora na maioria das oportunidades os resultados tenham sido desastrosos ou insignificantes, é justo lembrar que, em duas ocasiões, a primeira em 1960, quando John Sturgess adaptou para o gênero western a história dos Sete samurais, de Kurosawa, e a segunda em 1964, quando outro clássico daquele cineasta japonês, Rashomon, deu origem a Quatro verdades, de Martin Ritt, as variações em torno dos temas originais se concretizaram em filmes bastante apreciáveis. O curioso em Olhos da justiça, uma refilmagem de O segredo dos seus olhos, realizado em 2009 e um dos êxitos do atual cinema argentino, é que o diretor Juan José Campanella, o realizador daquela obra-prima, aparece como produtor executivo desta produção americana. Isso significa, sem dúvida, que o cineasta aprovou a refilmagem e concordou com a escolha do diretor e elenco. Certamente isso influenciou em muitos aspectos positivos do filme de Billy Ray, sem que isso signifique que seus méritos permitam uma aproximação com o original. É importante também lembrar que o compositor Emilio Kauderer, que muito contribuiu para a atmosfera do original, também está presente na nova versão. Mas como Ray não é Campanella, o impacto é bem menor, até porque uma história contada duas vezes sempre perde algo na repetição.
Campanella parece ter feito algumas exigências, além de trazer de volta o autor da partitura original. O elenco, por exemplo, tem três nomes de peso: Nicole Kidman, Julia Roberts e Chiwetel Ejiofor. E o diretor Ray tem sido visto por parte da crítica como uma das promessas entre os jovens realizadores americanos. Não estamos diante de um filme realizado com poucos recursos. Os resultados são visíveis na tela e as alterações feitas na história original fazem com que a narrativa seja acompanhada com algum interesse. Ray, no entanto, não consegue fazer com que as cenas do passado e as do presente sejam apresentadas de forma tão clara como no original. É que no filme de Campanella, além dos tempos, havia também uma terceira linha, aquela que mostrava as cenas narradas no livro que o personagem de Ricardo Darin está escrevendo. Esse recurso de encenar a imaginação de um personagem é utilizado apenas uma vez, quando, repetindo o original, o filme descreve detalhadamente uma mentira, destinada a encobrir o que realmente havia sido feio pela mãe vingadora. É uma aproximação direta com o original sem a força da primeira vez, quando a direção apostava mais na sugestão do que em imagens explícitas. Outro momento em que a repetição é procurada sem êxito é a tentativa de recriar a prisão do assassino num estádio repleto. E também é considerável a distância existente entre o romance do original com o de agora, bastante artificial e com uma cena muito ruim, aquela no qual o marido interrompe o diálogo entre os dois personagens.
O mais interessante nesta refilmagem é fazer a ação do passado se desenrolar logo após o 11 de Setembro, quando a sociedade americana estava dominada pelo medo. No original, era a Argentina na época do governo peronista que precedeu a ditadura militar. Agora são os diversos órgãos de segurança orientados a dar prioridade máxima a entidades e indivíduos suspeitos. A ação do policial interessado em achar o culpado de um crime ocorrido há 13 anos desta vez encontra obstáculos não em uma organização estatal ameaçada e sim numa engrenagem que tem outras prioridades. Um crime ocorrido em tal período não é tão importante para os que se encontram em postos de chefia do que as atividades relacionadas à segurança do Estado. Ao contrário do original, no entanto, quando o poder de sugestão tinha uma força significativa, agora se recorre a diálogos. Não há uma cena como aquela do elevador, por sinal repetida sem o mesmo impacto, o filme preferindo utilizar discussões entre os personagens. Algumas imagens valem mais, como as dos soldados que vigiam prédios, recurso empregado para acentuar o clima da época. Olhos da justiça não é um mau filme, mas está muito longe da obra que lhe deu origem.
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