Ricardo Gruner
Tire suas mãos de mim/ eu não pertenço a você. É assim, com os primeiros versos de
Será, que Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá começam o show Legião Urbana - 30 anos, o qual trazem a Porto Alegre neste fim de semana. No espetáculo, os músicos interpretam, do início ao fim, o álbum com que estrearam no mundo artístico, em 1985. Em um segundo momento, eles ainda aproveitam para relembrar uma seleção de músicas que gravaram posteriormente com o grupo, como Índios e Tempo perdido. O espetáculo acontece na sexta-feira, às 22h, no Pepsi on Stage (Severo Dullius, 1.995), com ingressos entre R$ 100,00 e R$ 320,00. Os tíquetes estão disponíveis nas lojas YouCom ou pelo site
www.minhaentrada.com.br/opiniao.
Os próprios integrantes fazem questão de frisar que a turnê, relativa às três décadas do lançamento de Legião Urbana, deve ser vista como uma comemoração e não como uma volta do grupo. Conforme Bonfá (bateria), o retorno da banda, que marcou gerações e vendeu 25 milhões de discos, é impensável. "Nós tínhamos quase um pacto de que a Legião não existiria mais se algum dos integrantes saísse. Era uma coisa que o Renato (Russo, vocalista falecido em 1996) fazia questão de levantar", lembra o artista.
Para substituir o ícone nos vocais, foi convocado o ator e cantor André Frateschi. "Quando o conheci, ele tinha uns 10 ou 11 anos. Estávamos fazendo shows junto à peça Feliz Ano Velho, em que a mãe dele (Denise del Vecchio) trabalhava. Em uma apresentação, resgatei o Frateschi, perdido no meio da galera, e coloquei no camarim", lembra o baterista. "Houve outras participações em que ele conviveu com o Renato. Isso tem peso no artista que ele é hoje."
Para auxiliar guitarrista e baterista originais, também sobem ao palco Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo) e Roberto Pollo (teclado). Já os vocais ainda contam com participação de Paula Toller (Kid Abelha), Jonnata Doll e Marina Franco - e até Dado e Bonfá têm seus momentos no microfone principal, em músicas como A dança e Pais e filhos, respectivamente.
Além dos espetáculos, a comemoração ainda inclui o lançamento de um disco duplo, que os dois remanescentes estão preparando. O volume contempla o original Legião Urbana, o mesmo de Ainda é cedo, Geração Coca Cola e Teorema, mas em uma versão remasterizada. Já o disco extra vai conter raridades e outtakes - versões preliminares eliminadas durante o processo de gravação e produção. Ainda de acordo com Bonfá, este material apresenta transições pelas quais o grupo passou em estúdio. "O disco de estreia é todo filtrado, burilado, porque nós éramos muito caóticos, éramos uma banda punk rock. O negócio era porrada na orelha", diverte-se ele, completando: "A galera não estava acostumada com isso, nem os técnicos de som e produtores. Esse disco de pérolas e outtakes não mostra o lado 'podrão', mas uma parte dessa transformação, com o Renato tocando baixo em algumas faixas".
Triste por classificar Que País é esse? ainda como uma música atual, mesmo depois de 30 anos, o baterista tem levantado a bandeira da sustentabilidade. Agora, paralelamente aos shows comemorativos, encontrou uma maneira peculiar de unir o interesse pela música e pelo engajamento. Com três discos solo, Bonfá está em campanha de financiamento coletivo no site Embolacha. O objetivo é finalizar o álbum Música de alambique, que mescla guitarra e viola caipira e inclui um repertório só com temas que falam sobre cachaça de forma divertida e consciente. Na lista de faixas, constam canções de Itamar Assumpção, Jorge Mautner e uma parceria entre Bonfá e Seu Jorge.
A ideia surgiu porque o próprio baterista possui um alambique de cachaça orgânica - e o envolvimento com a causa até lhe rendeu o título de Embaixador da Boa Vontade, concedido por uma organização fundada pela ONU. Para 2016, os planos do artista (e empresário do ramo etílico) incluem shows de lançamento deste álbum.