Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Geral

- Publicada em 09 de Novembro de 2015 às 21:53

'É preciso desmitificar o autismo', diz especialista

Para o médico Carlos Gadia, inclusão demanda preparação das escolas

Para o médico Carlos Gadia, inclusão demanda preparação das escolas


ANTONIO PAZ/JC
Suzy Scarton
Referência mundial em autismo e desordens de neurodesenvolvimento, o médico Carlos Gadia, diretor associado do Miami Children's Hospital Dan Marino Center, na Flórida, nos Estados Unidos, esteve na Capital ontem para dar uma palestra na Clínica Interligar sobre a síndrome, definida como uma alteração na qualidade de interação e comunicação social da criança se comparada a outras da mesma faixa etária. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o neurologista explicou que o preconceito com relação aos pacientes diagnosticados com autismo ainda é muito presente e traz efeitos nocivos à sociedade. Estima-se que 2 milhões de crianças tenham a síndrome no Brasil - no mundo, são 70 milhões.
Referência mundial em autismo e desordens de neurodesenvolvimento, o médico Carlos Gadia, diretor associado do Miami Children's Hospital Dan Marino Center, na Flórida, nos Estados Unidos, esteve na Capital ontem para dar uma palestra na Clínica Interligar sobre a síndrome, definida como uma alteração na qualidade de interação e comunicação social da criança se comparada a outras da mesma faixa etária. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o neurologista explicou que o preconceito com relação aos pacientes diagnosticados com autismo ainda é muito presente e traz efeitos nocivos à sociedade. Estima-se que 2 milhões de crianças tenham a síndrome no Brasil - no mundo, são 70 milhões.
Jornal do Comércio - Qual era a principal intenção da palestra?
Carlos Gadia - Desvendar mitos e expor verdades sobre o tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA). É um diagnóstico recebido sempre com muita dificuldade. Os pais nem sempre entendem o significado da síndrome e, muitas vezes, acabam se tornando presas fáceis de uma série de pseudotratamentos ou supostas curas, que não possuem embasamento científico. Nos últimos anos, o número de estudos sobre o assunto cresceu, temos um entendimento claro sobre as causas do autismo e sobre os tipos de tratamento.
JC - E existe, de fato, uma cura? É possível se livrar do autismo?
Gadia - Cura é uma palavra que carrega um significado muito forte. Existe um debate na comunidade médica. Há quem acredite que, uma vez diagnosticada com autismo, a pessoa sempre vai estar dentro do espectro. Outros acreditam que existe uma porcentagem de crianças que podem melhorar e sair dele. Acredito na segunda opção. Cerca de 3% a 5% de crianças evoluem tanto que conseguem sair desse espectro. Essa conquista se dá por meio de terapias intensas, que são caríssimas e demandam capacitação de especialistas, algo escasso tanto no Brasil como no mundo. Se a pessoa se torna um adulto funcional, independente, pode ser considerada uma pessoa típica, e existe um número de pacientes que alcança esse patamar.
JC - Existem muitos mitos que envolvem o desenvolvimento da síndrome, como a imunização a partir de vacinas e a "mãe geladeira". Essas ideias ainda são fortes em meio à sociedade?
Gadia - Existem inúmeros estudos que comprovam que as vacinas não contribuem em nada para com o autismo, mas é um problema grave. Tivemos recentes epidemias de sarampo na Inglaterra e na Califórnia porque as famílias se recusam a imunizar as crianças. É uma informação inútil e danosa. Mas o principal mito foi o da mãe geladeira ou refrigeradora, proliferado entre as décadas de 1960 e 1980. Dizia-se que a causa do autismo era o fato de a criança não ter sido desejada ou amada pela mãe, quando no útero. Como resultado, muitas famílias carregaram a culpa do problema do filho pelo resto da vida. Hoje, sabemos que as causas são basicamente genéticas. Exposições externas no período intrauterino, como fumo e pesticidas orgânicos, também podem contribuir.
JC - Qual é a realidade brasileira no enfrentamento à síndrome?
Gadia - O preconceito ainda é muito grande, tanto da sociedade como da família, com relação ao diagnóstico. Existem várias organizações não governamentais, como a Autismo e Realidade, da qual fui diretor, a porto-alegrense Autismo e Vida, e a Associação Brasileira de Amigos dos Autistas (AMA). Todas têm intenção de desmitificar diagnósticos e auxiliar no enfrentamento. Até o final do ano, será inaugurado, em São Paulo, um laboratório, chamado Tismoo, cuja equipe se dedicará exclusivamente ao estudo genético do autismo e à manipulação genética. Em 2012, foi criada uma lei federal (Lei nº 12.764) que reconheceu o autismo como uma deficiência e, portanto, garante os mesmos direitos que os dispensados aos portadores de outras síndromes. A lei também exige que todas as escolas aceitem crianças autistas, mas é evidente que elas precisam estar preparadas. Tanto profissionais da saúde como familiares concordam que a inclusão é o maior objetivo. No entanto, inclusão pressupõe que a escola seja capaz de oferecer um ensino de qualidade. Inclusão é diferente de "estar ali". Estar ali, simplesmente, vira exclusão, e por isso, há ressalvas. A qualidade do sistema escolar brasileiro é inadequada para crianças típicas. Eu diria que, para crianças atípicas, é totalmente inadequado.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO