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Infraestrutura

- Publicada em 04 de Novembro de 2015 às 22:20

RDC pode aumentar os custos das obras públicas

Estádio Mané Garrincha tornou-se um dos exemplos negativos da implantação do regime diferenciado

Estádio Mané Garrincha tornou-se um dos exemplos negativos da implantação do regime diferenciado


ANTÔNIO ARAÚJO/ABR/JC
O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira avalia que a utilização do Regime Diferenciado de Contratações (RDC) pode gerar um aumento no custo das obras públicas. Ele afirma que o modelo de "contratação integrada" acelera os processos, mas, ao permitir a licitação com anteprojeto, faz com que os preços subam devido aos riscos que a realização da obra pode trazer. O procurador critica a ampliação aprovada no Congresso em uma medida provisória que passa a permitir a utilização do RDC para todo tipo de obra.
O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira avalia que a utilização do Regime Diferenciado de Contratações (RDC) pode gerar um aumento no custo das obras públicas. Ele afirma que o modelo de "contratação integrada" acelera os processos, mas, ao permitir a licitação com anteprojeto, faz com que os preços subam devido aos riscos que a realização da obra pode trazer. O procurador critica a ampliação aprovada no Congresso em uma medida provisória que passa a permitir a utilização do RDC para todo tipo de obra.
"O RDC tem um pecado gravíssimo, que é a contratação integrada. O governo tem meramente o anteprojeto de construção, com elementos muito básicos, e a empresa é quem vai fazer projetos para fazer a obra", critica Oliveira. "Você tem com isso uma dificuldade imensa de definir o preço do que vai contratar. Isso leva o preço lá para cima porque a empresa não conhece o terreno, nem outras variáveis. Então você contrata mais rápido, mas paga muito mais caro. O governo quer resolver sua ineficiência de fazer projetos atropelando o conceito. É a pior forma de contratação possível", analisa o procurador.
Oliveira ressalta também que o debate sobre a legalidade do RDC deve ser feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A Procuradoria-Geral da República (PGR) ingressou em 2011 na corte questionando o novo modelo de contratações quando ele ainda se restringia às obras da Copa do Mundo de 2014. O relator do caso é o ministro Luiz Fux, que está com o processo paralisado em seu gabinete desde março de 2013.
De todos os lados, o regime especial para contratação de obras suscita críticas. O secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, rejeita a forma como o assunto foi tratado no Congresso, sem ter sido devidamente discutido, segundo ele. Para Gil, o RDC "afronta" a lei de licitações ao priorizar a urgência. "Pela lei de licitações, primeiro se licitava o projeto para, depois, licitar a obra. Demora, mas faz-se uma obra com tudo definido e claro", diz, reforçando o problema acarretado na fiscalização com a adoção do regime. "O governo esconde o preço e não diz quanto ele pretende gastar. O concorrente que sabe quanto ele quer gastar vai direcionado. É mais fácil trabalhar às claras, falar quanto deseja pagar e ponto."
Especialista em licitações, Inaldo Soares é categórico sobre a promessa de acelerar a execução de obras. "É uma enganação. Todas as obras feitas para a Copa do Mundo (pelo RDC), como o estádio de Brasília, foram entregues superfaturadas e com atraso", relembra. Apenas quatro contratos de um total de 20 empreendimentos incluídos no regime especial para a Copa do Mundo foram concluídos antes do Mundial.
Previsto para entrar em funcionamento no torneio, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Cuiabá se tornou um caso emblemático. Com investimento previsto em R$ 1,5 bilhão, já foram gastos mais de R$ 1 bilhão. No início de outubro, porém, apenas sete quilômetros, dos 22 previstos, haviam sido executados. Outra grande obra que também chama a atenção é a do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Entregue com cinco meses de atraso, a arena foi concluída em maio de 2013. Foi o estádio mais caro da Copa do Mundo no País, com custo de R$ 1,4 bilhão - 108% maior do que o previsto.
O RDC também não é visto com bons olhos pelas empresas, que teoricamente seriam beneficiadas. O vice-presidente de Obras Públicas do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Luiz Antônio Messias, defende que o Congresso deveria investir na discussão da revisão da legislação das licitações. "Por que ampliar o RDC e não aprovar outra lei discutida com sindicatos, TCU e comissões? Não faz sentido pegar algo que foi feito a toque de caixa para a Copa. Seria mais razoável acelerar a revisão da Lei nº 8.666 (sobre licitações), em vez de ampliar o RDC."
A presidente Dilma Rousseff é quem deve dar a palavra final, com a sanção ou veto, sobre a ampliação praticamente irrestrita do alcance do RDC. O governo federal tinha proposto na Medida Provisória nº 678 a permissão para a utilização desse regime para obras de Segurança Pública, como presídios. Os parlamentares, porém, incluíram obras de mobilidade urbana e infraestrutura logística. Na prática, segundo especialistas do governo e do setor da construção, o RDC poderá ser usado em todo tipo de obra, seja pelos governos federal, estaduais e municipais, favorecendo as grandes empreiteiras.

MPF denuncia executivos por desvios na Ferrovia Norte-Sul

Prejuízo em apenas um trecho teria chegado a quase R$ 1 milhão

Prejuízo em apenas um trecho teria chegado a quase R$ 1 milhão


VALEC/DIVULGAÇÃO/JC
O Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) ofereceu denúncia, pelo crime de peculato, contra oito executivos envolvidos em suposto caso de superfaturamento nas obras de construção de um trecho da Ferrovia Norte-Sul. Segundo a denúncia, os prejuízos aos cofres públicos chegam a quase R$ 900 mil.
De acordo com o MPF-GO, após o contrato entre a Valec e a Serviços Técnicos de Engenharia (STE), no valor de R$ 5,4 milhões, para o serviço de Supervisão de Obras de Implantação da Ferrovia Norte-Sul Lote 6 (Pátio Jaraguá - km 93 ao Pátio de Uruaçu - km 269), diversos aditivos foram feitos de forma irregular, causando prejuízo aos cofres públicos. Ao todo, foram autorizados seis termos aditivos no período de 2008 a 2012.
"Não há explicação técnica que demonstre que cada um dos novos itens acrescidos ao contrato era necessário e por que o era. Associado a isto, o que restou comprovado pela perícia criminal é que tais aditivos (modificações) causaram prejuízos aos cofres públicos (por superfaturamento)", explicou o procurador da República e autor da denúncia, Helio Telho Corrêa Filho.
Segundo a representação, os executivos agiam em uma espécie de "jogo de planilha", "caracterizado pela quebra do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato em desfavor da Administração por meio da alteração de quantitativos durante a execução da obra".
Pela Valec, foram denunciados José Francisco das Neves e José Eduardo Sabóia Castello Branco, ex-diretores-presidentes; Antônio Felipe Sanchez Costa, ex-diretor-presidente interino; Ulisses Assad, Luiz Carlos Oliveira Machado e Célia Maria de Oliveira Rodrigues, ex-diretores de engenharia; e ainda Jorge Antônio Mesquita Pereira de Almeida, ex-superintendente. Já pela STE, foi denunciado o seu diretor-superintendente, Roberto Lins Portella Nunes.