Veja a justificativa de empreendedores que foram de mala e cuia para a cidade do alfajor e da medialuna

Por que escolhi fazer negócio em Buenos Aires?


Veja a justificativa de empreendedores que foram de mala e cuia para a cidade do alfajor e da medialuna

*de Buenos Aires
*de Buenos Aires
Resposta 1: destino
Mariana Pereira, 34 anos, é baiana. Em 2005, ela conheceu o inglês Alastair Mason, 38, em um hostel de Buenos Aires enquanto cursava um pós-graduação na capital argentina. Algum tempo depois, sentados em um café típico portenho, folheando um jornal que falava sobre hotéis Bed&Breakfast, os namorados tomaram a decisão de suas vidas: ter um. Foi coisa de destino, pois ela não saiu de Salvador com essa intenção.
O local escolhido para instalar o Querido foi Villa Crespo, um bairro que, na época, não tinha muitas opções para o turista. "Saí do café e fui numa livraria comprar um livro sobre como fazer um plano de negócios. Fomos conhecer os lugares que lemos. Estávamos num momento em que não nos encaixávamos em um hostel nem num hotel boutique. Nos perguntamos: onde estão os lugares para quem não quer ficar num ambiente sem personalidade?", conta Mariana, que é publicitária.
O prédio que abriga o Querido foi construído do zero, há cinco anos, apesar das características clássicas. A pintura final de alguns cômodos foi feita por Mariana e Ali - apelido pelo qual é conhecido pelos hóspedes. Antes da sociedade com Mariana, o britânico (na região desde 2003) tinha três apartamentos para aluguel.
Na Argentina, não há facilidade de crédito. As propriedades, portanto, são compradas à vista, de preferência em dólares. Isso, segundo Mariana, exige uma mudança de mentalidade para empreender. "Teve muito suor, muito corpo a corpo, mas com um ano de negócio, a gente não devia nada. Em Salvador, via que a postura do dono tinha de ser a postura de dono. Foi incrível fazer desse jeito", conta ela, que morou com Ali por um ano e meio no Querido, onde ambos faziam todo o serviço de limpeza, alimentação e administração. Hoje, o empreendimento de oito quartos tem nove funcionários - e os donos não vivem mais no local nem trabalham durante a madrugada ou em fins de semana. Sobra mais tempo para curtir a filha Nina, de dois anos.
O fato de a Argentina ter sido atingida pela crise de 2001 foi um estímulo para o casal. "O Ali trouxe para mim que crise é oportunidade. Minha geração tem dificuldade de ver isso no Brasil. Não teríamos conseguido fazer o que fizemos aqui se naquele momento não tivesse crise. Em 2005, a Argentina estava superbarata para os brasileiros e para os turistas em geral", lembra.
Já que o bairro Villa Crespo não era lá muito conhecido na época da abertura, Mariana teve a ideia de criar um blog que promovesse a área, o My Villa Crespo. Foi dele que saíram as primeiras 17 reservas.
Tendo 80% da ocupação formada por brasileiros durante o inverno, o Querido é tão querido que indica as melhores opções gastronômicas a seus clientes, como os restaurantes Sarkis, 878 e La Cabrera. "Buenos Aires é diferente o suficiente de casa para ser estimulante", considera Ali.

Resposta 2: menos polarização

O Relações Públicas Túlio Bragança, 33, nasceu em Santos, São Paulo. Em 2006, foi a Buenos Aires, e, em seu primeiro mês na cidade, criou o blog Aires Buenos. Com sua iniciativa na Argentina recebendo 100 mil visitas ao mês, já consegue pagar as contas. Ele mantém o emprego de oito horas na TV FOX, porque está fazendo uma poupança para o casamento.
Além dos negócios irem bem, o principal motivo para estar no país vizinho é o humor do povo.
"Não sei se são as redes sociais, mas vejo o Brasil numa situação que não gostaria de viver. Não estou achando as pessoas legais. Há muito egoísmo, polarização, essas coisas de contra e a favor do governo", opina.
Com indexação no Google que leva as buscas dos brasileiros a caírem em seu endereço, o Aires Buenos não é mais apenas um blog. Hoje, a empresa oferece tours pela cidade com diferenciais e tem três e-books (que saem por R$ 19,90 cada) com roteiros pelo "lado B de Buenos Aires". Essa última modalidade já vendeu mais de mil cópias.
O tour acontece aos sábados, às 10h, custa R$ 115,00 e dura cerca de três horas. Em determinadas épocas, mais horários são disponibilizados.
A ideia é mostrar aos brasileiros locais mais alternativos da cidade. "A gente faz várias paradas e tem um fotógrafo junto que envia as fotos registradas na experiência. Termina em uma cafeteria gourmet", detalha Bragança.
O fotógrafo, aliás, é outro "produto" do Aires Buenos. "Fazemos ensaios para brasileiros aqui para lua de mel, trash the dress, famílias", revela, acrescentando que também oferece a opção em Montevidéu, no Uruguai. "Queremos lançar um Airbnb de fotógrafos no mundo."
Os brasileiros que usam o serviço do tour pagam parte do passeio pelo site. O dinheiro vai para uma conta no Brasil. "Aqui é muito difícil poupar. Preciso ganhar dinheiro que não seja na Argentina", expõe Bragança.

Resposta 3: moeda

O jornalista Leonardo Gottems, 37, é de Porto Alegre. Com a esposa, há um ano e meio, ele escolheu Buenos Aires para ser sua base de trabalho, mas com uma peculiaridade: não tem negócios na Argentina.
"Minha lógica é ganhar em dólar e viver em um local de moeda depreciada. Em Buenos Aires, alio isso à qualidade de vida", explica.
Gottems vai uma vez por mês à capital gaúcha, onde mantém um escritório na Zona Sul com dois funcionários.
Ele trabalha como correspondente de portais brasileiros e um chinês. Também já atendeu veículos da Dinamarca e Inglaterra. O profissional conta, atualmente, com seis clientes, mas está sempre prospectando mais no exterior.
"Quando vim para cá, o dólar estava controlado no Brasil e aqui estava muito valorizado. O valor que eles pagavam pelo trabalho na Argentina não valia o esforço", reforça.

#Dica

 >> Para os brasileiros, ter um visto de residente na Argentina é um processo simples e rápido, já que o Brasil faz parte do Acordo de Residência Mercosul. A abertura de empresa também leva poucos dias. Ir ao consulado para buscar informações pode ser uma boa pedida para começar.
>> A forma de consumo dos argentinos é diferente. Eles não têm costume de trocar de carro com frequência nem de pintar fachadas das residências. Se algo estraga, eles preferem mandar arrumar do que comprar um novo
>> Na Argentina, você não encontrará produtos da Apple para comprar. Bye bye, iPhone
>> Os bancos oferecem quantidade mínima de crédito
>> Com ou sem crise, os argentinos priorizam sua vida social. Os cortes, portanto, não chegam à alimentação, deixando os bons restaurantes sempre cheios

Resposta 4: ensinar português

Cristiane Piechontcoski (de claro), 33, é de Cascavel (PR). Ela estuda espanhol desde os 12 anos. Após cursar Letras, foi à Argentina. Em 2011, junto a uma sócia, criou a Hibra. "Jamais passou pela minha cabeça abrir uma escola. Eu pensava em engordar meu currículo e voltar para o Brasil", conta. Hoje, ela ensina português aos portenhos.