Às vésperas de terminar outro aditivo de contrato em relação ao fornecimento da nafta (principal matéria-prima da petroquímica brasileira) da Petrobras para a Braskem, o setor do plástico espera que as empresas cheguem a um acordo de longa duração dessa vez. O último acerto provisório (prática que vem sendo adotada pelas companhias desde 2014) foi firmado há cerca de dois meses e finda no sábado.
Ao final de agosto, durante visita a Porto Alegre, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmou que em até 60 dias deveria haver uma conclusão quanto à negociação do preço do insumo. A ideia, segundo o dirigente, era conseguir um contrato de longo prazo. Braga salientou que a cadeia petroquímica defende que o período de renegociação de contrato deva ser, pelo menos, a cada dois anos. Uma das propostas que está sendo analisada é a realização de um acordo de quatro anos, com a reavaliação dos termos na metade desse prazo.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS), Edilson Deitos, admite que a situação preocupa. O dirigente ressalta que o cenário atual, de incerteza de custo de insumo, impede que novos investimentos sejam feitos no polo petroquímico de Triunfo. Esse é o caso da polonesa Synthos, que pretende instalar uma planta de borracha sintética no complexo.
Deitos diz que o preço da nafta também causa preocupação quanto à competitividade da indústria do plástico nacional. "Os padrões da Petrobras são fora da competitividade dos do mercado mundial, que opera à base de shale gas (gás de folhelho ou também chamado gás de xisto) e gás natural e não à base ARA (Amsterdã, Roterdã e Antuérpia - o preço médio da nafta nestes três grandes mercados)", argumenta Deitos. O presidente do Sinplast-RS acrescenta que, apesar de não ter ocorrido um repasse integral por parte da Braskem, as empresas transformadoras de plástico sentem o impacto do aumento do dólar, que encarece as matérias-primas do setor.
O dirigente crê que a instabilidade política vivida hoje no País e a repercussão da Operação Lava Jato dificultam que algum profissional da Petrobras assine um contrato neste momento, mesmo que seja feito com a maior lisura e dentro de regras de mercado. O vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Polo Petroquímico de Triunfo (Sindipolo), Carlos Eitor Rodrigues, concorda que o ideal é que um contrato de longo prazo seja fechado o quanto antes. No entanto, o sindicalista argumenta que a concentração do mercado petroquímico pela Braskem, além do fato de a Petrobras ser sócia da empresa, acabou tornando a estatal refém da companhia. Rodrigues também recorda que há denúncias acusando o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de receber propinas da Braskem para tratar do preço da nafta. "Primeiro, tem que haver transparência nesse processo do contrato de nafta, e a Petrobras tem que cobrar da Braskem o preço de mercado", defende Rodrigues.
O presidente do Sindicato das Indústrias Químicas no Estado do Rio Grande do Sul (Sindiquim/RS), Newton Battastini, destaca que é fundamental que uma solução seja encontrada rapidamente. "A questão afeta a economia do Rio Grande do Sul e a petroquímica brasileira", reforça o dirigente. Battastini acredita e espera que as empresas cheguem a um acordo até este sábado.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, também está otimista que será alcançada uma solução definitiva, com um contrato de longo prazo. O dirigente enfatiza que a cúpula do governo federal envolveu-se no assunto. "Os recursos naturais nacionais deveriam ser utilizados para produzir riquezas no Brasil", sustenta Figueiredo. Petrobras e Braskem, procuradas pela reportagem do Jornal do Comércio, não se pronunciaram sobre o assunto.