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Teatro

- Publicada em 22 de Outubro de 2015 às 22:57

Chacrinha redivivo emociona

Fui assistir a Chacrinha, o musical, escrito por Rodrigo Nogueira e Pedro Bial, a partir da pesquisa de Carla Siqueira, em parte atraído pela personagem, Chacrinha, em parte curioso para ver o resultado da primeira direção teatral de Andrucha Waddington. Sou fiel admirador do diretor cinematográfico, que assina obras inovadoras, como Eu, tu, eles, Casa de areia e, mais recentemente Lope, a respeito do mais polêmico dramaturgo do siglo de oro espanhol, Lope de Veja. Waddington parece não ter medo de ousar, e neste sentido é que sua proposição para Chacrinha, o musical me agrada. Um espetáculo de teatro não é uma biografia: a economia do espetáculo teatral precisa selecionar motes para constituir uma unidade específica, a do próprio espetáculo. Assim, Chacrinha, o musical, tem dois atos. O primeiro, mais curto, mostra a infância e o amadurecimento de Abelardo Barbosa, concluindo-se exatamente no momento em que o mesmo vai estrear na TV Globo. O segundo ato, mais longo, abre-se num ritmo absolutamente alucinante, típico da televisão e dos shows de auditório, fazendo suceder-se, ininterruptamente, uma série de composições musicais, nas interpretações recriadas de seus principais intérpretes, com o quê se constitui um clima específico da época e das características do que o programa de Chacrinha propunha a seus espectadores de auditório e de televisão.
Fui assistir a Chacrinha, o musical, escrito por Rodrigo Nogueira e Pedro Bial, a partir da pesquisa de Carla Siqueira, em parte atraído pela personagem, Chacrinha, em parte curioso para ver o resultado da primeira direção teatral de Andrucha Waddington. Sou fiel admirador do diretor cinematográfico, que assina obras inovadoras, como Eu, tu, eles, Casa de areia e, mais recentemente Lope, a respeito do mais polêmico dramaturgo do siglo de oro espanhol, Lope de Veja. Waddington parece não ter medo de ousar, e neste sentido é que sua proposição para Chacrinha, o musical me agrada. Um espetáculo de teatro não é uma biografia: a economia do espetáculo teatral precisa selecionar motes para constituir uma unidade específica, a do próprio espetáculo. Assim, Chacrinha, o musical, tem dois atos. O primeiro, mais curto, mostra a infância e o amadurecimento de Abelardo Barbosa, concluindo-se exatamente no momento em que o mesmo vai estrear na TV Globo. O segundo ato, mais longo, abre-se num ritmo absolutamente alucinante, típico da televisão e dos shows de auditório, fazendo suceder-se, ininterruptamente, uma série de composições musicais, nas interpretações recriadas de seus principais intérpretes, com o quê se constitui um clima específico da época e das características do que o programa de Chacrinha propunha a seus espectadores de auditório e de televisão.
Se o primeiro ato era mais calmo e vinha marcado pela cultura popular (Gringo Cardia é muito feliz ao recriar imagens de xilogravuras dos romances de cordel), a segunda parte está marcada pelo "mau gosto" e os estranhamentos cenográficos e de figurinos que Abelardo Barbosa introduziu na televisão brasileira. Mais que isso, no intervalo, a produção do espetáculo seleciona, localmente, alguns espectadores do auditório que, na abertura do segundo ato, são levados ao palco e constituem os espectadores privilegiados do show da televisão, tornando-se participantes do espetáculo, o que lhe dá vida e ressonância.
Andrucha Waddington buscou inovar no roteiro do espetáculo: embora seguindo uma organização temporal da infância à morte, preferiu, desde logo, unir as duas pontas: assim, o jovem Abelardo logo recebe a visita do futuro Chacrinha, que o inspira; do mesmo modo que Chacrinha, no futuro, será visitado e criticado pelo jovem Abelardo Barbosa: isso permite ao roteiro discutir a relação entre criador e criatura, tema muito importante para se compreender o processo de criação de um artista, seja ele quem for, inclusive um artista da televisão, como o Chacrinha.
O espetáculo, com música ao vivo, reúne mais de 70 canções que marcaram aquelas épocas, e a plateia reage bem: os mais velhos, que conheceram originalmente as canções, aderem ao espetáculo e cantam juntos. Os mais jovens, que não tiveram tal oportunidade, podem, de qualquer modo, considerar a qualidade de tais criações, pois o panorama é extremamente eclético: vai de Expresso 2222, de Gilberto Gil, aos hits de Roberto Carlos, Jerry Adriani e por aí afora. Todo o elenco é cuidadosamente treinado, cantando e dançando com desempenho absolutamente correto, mas há, pelo menos, três figuras que merecem destaque: Stepan Nercessian, que vive Chacrinha, é simplesmente genial. Que belo achado buscar-se este ator, um dos grandes do cinema brasileiro, quando jovem, resgatando-o e a seu talento. Nercessian incorporou Chacrinha, é o Chacrinha, e isso nos emociona profundamente. De outro lado, contracenando com ele, temos o jovem Pedro Henrique Lopes, que vive o curioso e confiante Abelardo Barbosa, com uma excelente performance, porque precisa equilibrar-se junto ao outro intérprete. Mas talvez a figura que mais centraliza as atenções de todos é Laura Carolinah, que incorpora Elke Maravilha e se torna uma figura de referência e apoio para o Velho Guerreiro.
Me assustei com os 135 minutos do espetáculo, mas eles passaram rápido. Chacrinha continua abduzindo a todos, mesmo depois de morto, como fazia em vida.
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