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Cinema

- Publicada em 29 de Outubro de 2015 às 22:51

Humanismo e lucidez

Sem dúvida, há um caso Steven Spielberg no cinema das últimas décadas. Na verdade, vários, porque não existe apenas um Spielberg. O mais conhecido deles é o da série dedicada a Indiana Jones, na qual, fazendo ressurgir a técnica e o espírito dos antigos seriados, o cineasta revitalizou o cinema de aventuras, com humor e vitalidade incomuns. Há o diretor fascinado pelas possibilidades do gênero da ficção-científica, no qual realizou Contatos imediatos do terceiro grau. Não falta também o interessado na imaginação infantil, o que lhe possibilitou a realização do notável e já clássico E.T. E o maior de todos, o cineasta que dirigiu A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan. A filmografia é extensa e dela não estão ausentes filmes de reconstituição histórica, como Amistad e Lincoln e nem mesmo exemplos de utilização inteligente dos efeitos especiais. O novo Spielberg, Ponte dos espiões, não é apenas mais um título na filmografia do diretor - é um de seus melhores filmes e também um dos mais notáveis dos últimos anos. De certa forma, pelo ambiente e pelo tema que desenvolve, o filme se aproxima de A vida dos outros, de Florian Henkel von Donnersmark, no qual a chamada Guerra Fria servia de cenário para um relato que terminava possibilitando a imposição do humanismo. Este, por sinal, é o tema dominante na obra de Spielberg.
Sem dúvida, há um caso Steven Spielberg no cinema das últimas décadas. Na verdade, vários, porque não existe apenas um Spielberg. O mais conhecido deles é o da série dedicada a Indiana Jones, na qual, fazendo ressurgir a técnica e o espírito dos antigos seriados, o cineasta revitalizou o cinema de aventuras, com humor e vitalidade incomuns. Há o diretor fascinado pelas possibilidades do gênero da ficção-científica, no qual realizou Contatos imediatos do terceiro grau. Não falta também o interessado na imaginação infantil, o que lhe possibilitou a realização do notável e já clássico E.T. E o maior de todos, o cineasta que dirigiu A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan. A filmografia é extensa e dela não estão ausentes filmes de reconstituição histórica, como Amistad e Lincoln e nem mesmo exemplos de utilização inteligente dos efeitos especiais. O novo Spielberg, Ponte dos espiões, não é apenas mais um título na filmografia do diretor - é um de seus melhores filmes e também um dos mais notáveis dos últimos anos. De certa forma, pelo ambiente e pelo tema que desenvolve, o filme se aproxima de A vida dos outros, de Florian Henkel von Donnersmark, no qual a chamada Guerra Fria servia de cenário para um relato que terminava possibilitando a imposição do humanismo. Este, por sinal, é o tema dominante na obra de Spielberg.
Há, em A lista de Schindler, uma cena emblemática, aquela na qual, num filme em preto e branco, a menina prisioneira, contemplada pelo protagonista, é homenageada pela presença da cor. O recurso era empregado para que ficasse realçado que a vida é um bem que ao ser agredido compromete toda uma civilização, na época ameaçada de destruição. É o tema que volta de forma vigorosa no novo filme, cujo roteiro foi escrito por Matt Harman e pelos irmãos Coen, Joel e Ethan. Mas Ponte dos espiões não é apenas a retomada brilhante de um tema antes desenvolvido. E nem uma obra na qual o mérito maior seja uma meticulosa reconstituição de época. Ao reconstituir o episódio protagonizado pelo advogado James B. Donovan, Spielberg coloca em cena seu personagem favorito: aquele que não desiste diante de obstáculos e que, impulsionado pelo respeito que o ser humano merece, permanece fiel naquilo que acredita, sendo capaz de enfrentar várias formas de intolerância, entre elas ameaças à sua vida e à sua família. O conflito de interesse entre as duas grandes potências teve alguns subprodutos, entre eles a paranoia que o cineasta e seus roteiristas não esqueceram de colocar no filme e diante da qual o personagem de Tom Hanks se comporta de maneira a realçar a lucidez como elemento primordial no comportamento humano.
Indicado pela firma na qual trabalha para defender um espião soviético apanhado pelo FBI, o protagonista age no rigoroso cumprimento da lei e em nenhum momento se deixa levar por qualquer forma de emocionalismo. Tem diante de si um inimigo, mas sabe que o maniqueísmo deve ser evitado. Ao mesmo tempo em que o processo se desenvolve, o filme vai também acompanhando outra ação, outro ato de espionagem, este organizado pelos americanos e envolvendo uma tecnologia avançada. Donovan terminará com o personagem essencial dessa trama bastante conhecida, mas da qual Spielberg extrai significados relevantes. No jogo do conflito entre as potências, os indivíduos são peças num tabuleiro. O protagonista não está apenas defendendo um espião. Ele é um combatente da lei e como tal enfrentando o fanatismo e a falta de visão. Na cena na qual a assistência tem de se levantar quando da entrada do juiz, o diretor interrompe o ritual para focalizar crianças sendo doutrinadas numa escola: a fantasia infantil sendo utilizada para a criação de adultos movidos pelo medo. É sobre esse tema que o filme fala. Donovan é a lucidez que termina se impondo num cenário que ignora complexidades e exalta distorções. Spielberg é também um grande diretor de atores. Todos estão perfeitos, mas a atuação do britânico Mark Rylance como o pintor, melômano e espião Rudolf Abel é mais do que um recital: é umalição de interpretação em cinema, algo que parece esconder a câmera e colocar na tela um verdadeiro ser humano.
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